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Atlas: Índia

Índia: quem tem medo de rato?

Quem não tem medo de ratos? Provavelmente somente a Cinderela, que era super forever alone e tinha ratinhos amigos para fazer vestidos para ela. Como sapatinhos de cristal estão fora de cogitação para mim, morar na Índia sempre foi uma ameaça eterna e constante de ter que lidar com ratos. Afinal, os indianos têm um pendor natural para achar que animais são sagrados e, no casos dos ratos, eles são a montaria do Ganesha (ou o Senhor Cabeça de Elefante, com todo respeito).

Acontece que seis meses se passaram tranquilamente sem que eu tivesse um fatídico encontro com um dos pares do Mestre Splinter. Bem, não tão tranquilamente assim, alguns diriam. Foram seis meses em que nós três acumulamos muito bad karma matando baratas em nossa volta. Segundo o Rafa, ele ficou muito orgulhoso de mim e da Naty – que nunca demos nenhum escândalo por conta das bichinhas. Foram tantos ônibus, trens, quartos de hotéis e mesas de restaurantes infestados que até o Joe (o das Baratas) ficaria chocado.

Rato na Índia Ganesha

Já com ratos é diferente. Porque, ao contrário das baratas, não basta um chinelo para matá-los, ou uma batida de mão para tirar da sua roupa. E baratas não têm dentes e não podem te atacar, como uma terrível ratazana. Eu já passei um jantar inteiro com os pés para cima porque alguém disse que achou que tinha visto um rato passando. Ele nunca mais foi visto.

Pois bem, na última semana na Índia nós ficamos provavelmente num dos melhores hotéis que já tínhamos nos hospedado por lá. Era a nossa segunda visita a Rishikesh e o nosso último destino em terras indianas antes de partir para o Nepal. Eu estava dividindo um quarto triplo com a Aline, amiga brasileira que se juntou ao nosso grupo para o resto da viagem de volta ao mundo, e com o Willian, um baiano que morou conosco nos tempos de Chandigarh.

Na nossa segunda noite por lá, recém-saída de uma massagem muito relaxante, fui tomar um banho. Entrei no banheiro, tranquei a porta, tomei banho, me vesti e fui escovar os dentes. Quando estava neste processo, vi de relance alguma coisa se movendo à minha direita. Quando eu vi o que era, dei gritos de desespero e depois emudeci por completo. Era o maior rato que já vi na vida, provavelmente, de fato, a montaria do Lord Ganesha.

Como a única coisa acima do nível do rato no recinto era a privada, foi ali mesmo que eu subi. Ao mesmo tempo, o bicho ficou na porta, tentando fugir e me impedindo de fazer o mesmo. Enquanto isso, Aline e Willian ouviram meus gritos seguidos de silêncio e estavam socando a porta e perguntando se eu estava bem. Foi só quando um deles ameaçou arrombar a porta que eu consegui gritar:

– RATOOOO, fujam para as colinas!

Karni Mata templo do rato na Índia

Foto do Karni Mata, o templo dos ratos na Índia. Crédito: Arian Zwegers – CC BY 2.0

Assustado com a bagunça, o rato resolveu ir para o lugar de onde ele tinha vindo. Leia-se: a privada onde eu estava em cima. Quando ele veio subindo na minha direção, baixou a Daiane dos Santos que existe em mim e eu dei um duplo twist em direção à porta e fugi do banheiro, deixando o rato lá trancado.

No quarto, a Aline estava em cima da cama compartilhando do meu desespero. E o Willian, como bom amigo, puxou a peixeira, ops, o chinelo, e disse:

– Posso matar? – disse com o chinelo em punho – Vai ter sangue!, completou bravamente.

Enquanto a Aline mandou ele matar logo, eu me peguei refletindo como diabos o Willian ia conseguir matar o rato com aquele velho chinelo Rayder. “Talvez ele dê o chinelo para o rato comer”, refleti. Enfim, o Willian entrou no banheiro e eu tranquei ele lá dentro para garantir que o rato não sairia de lá ao tentar fugir do chinelo assassino.

Nem um minuto depois, o nosso intrépido amigo (o Willian, não o rato), sai do banheiro com os olhos arregalados e uma frase que virou nosso meme eterno junto com o já clássico “vai ter sangue”:

– Poorra! Mas porque você não me avisou que o bicho era tão grande?

Karni Mata Rato Índia

O Karni Mata fica em Deshnoke, no Rajastão. Crédito: Shakti – CC BY-SA 3.0

Bom, eu até tentei, mas eu ainda estava em choque com a situação. Como não houve assassinato de ratos na noite, o jeito foi apelar para o pessoal que tomava conta do hotel. O simpático indiano estava calmamente preparando seu chapati (aquele pãozinho que parece sírio é um clássico da culinária indiana) e não estava nem um pouco disposto a ir lidar com a situação do rato. Foram precisos meus gritos insistentes para ele largar a farinha, pegar uma vassoura modelo espanador de pó que não serviria para nada (e olha que dessa vez eu avisei que o rato era grande, mas ele não me deu ouvidos) e ir lá para o quarto.

Enquanto isso, o Willian e a Aline estavam conversando com outro hóspede, um completo maluco-beleza que largou tudo para meditar e fazer Yoga. Ele contou para eles que o hotel tinha uma família de ratos e perguntou se a gente não tinha reparado como tinha muito cocô espalhado pelo banheiro. É, e tinha mesmo. A gente que foi burro e não se deu conta a tempo.

Voltando ao indiano exterminador de ratos, com a sua super-vassoura-espanador. Eu também tranquei ele dignamente dentro do banheiro a espera de uma solução. Mas, não, não teve sangue. Ele só espantou o rato e descobriu que ele tinha, na verdade, vindo do cano da pia. Para solucionar essa questão no melhor padrão indiano de qualidade, o sujeito dobrou um papel cartão e colocou tampando o buraco. Sob meus protestos, ele ao menos se deu ao trabalho de colocar aqueles remédios mata rato no banheiro e no quarto. E foi-se embora terminar o chapati, provavelmente se perguntando porque nós estávamos tão incomodados com o rato e sua família.

Depois disso, eu e Aline criamos algumas lições para a vida do viajante que teme ratos:

1. Sempre deixe sua mala fechada, nunca se sabe se os ratos vão estar soltos por aí (mais tarde, em Bali, eles comeram umas calcinhas da Naty)

2. Sempre deixe a porta do banheiro fechada, pois é de lá que os ratos vêm.

3. A mais importante e inovadora delas: sempre bata na porta do banheiro antes de entrar. Afinal, é melhor você avisar ao rato que está entrando e dar tempo dele se esconder do que ter que lidar com ele frente a frente.

*Fonte da foto da imagem destacada: tinneke

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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8 comentários sobre o texto “Índia: quem tem medo de rato?

  1. To em choque! Eu tenho pavor de barata e vou para Índia ano que vem. Estas duas afirmações não deveriam estar na mesma frase, mas estão. Estou desesperada desde já. Tenho tanto medo de barata que ainda não deu tempo de pensar nos ratos.

  2. Acho que seria prudente levar um cão junto para a Índia, afinal, se não tiver ninguém por perto, o melhor amigo do homem poderia dar um jeito no rato…afinal, vai que o indiano não se preocupe muito com os nossos desesperos…rsrsrsrs

  3. Hahahahaha, muito bom Luíza, apesar do seu desespero, que deu pra sentir de longe.

    Quando estava em Coron, nas Filipinas, resolvi ficar num hotel que era na verdade um conjunto de palafitas, bem em cima do mangue. Achei super exótico dormir ali bem pertinho do mar, “acima” de qualquer problema.

    Todas as noites voltava pro quarto e notava minhas coisas em lugares diferentes, até mesmo objetos sobre a penteadeira.

    – “Malditos camareiros, estão fuçando nas minhas coisas”. Falava sozinho sempre que via a bagunça.

    Até que um dia vi meu sabonete todo roído, mas mesmo assim a ficha não caiu. Nessa noite, fui dormir meio intrigado, mas aliviado pois seria a última noite ali. O hotel era todo de madeira, estava escuro e comecei a ouvir um barulho de algum bicho andando, chegando cada vez mais perto de mim. Pulei da cama, acendi a luz e vi o danado ali, em cima da penteadeira, jogando tudo pro chão. Enfim, tinha um baita buraco na “parede” por onde o bichano entrava todas as noites. Fiz igual a gambiarra do indiano, coloquei uma toalha no buraco e rezei pra ratazana não voltar.

    Na boa, se voltar pra lá, acho que ficaria no mesmo hotel…kkkkk. Viajante gosta de perrengue!!!

    Parabéns pelo blog…adoro!!!

    Até + !!!

    1. hahahhaa, sua história é ótima Guilherme! Eu acho que não conseguiria dormir novamente num quarto com ratos invasores noturnos. Mas se bem que hotel em cima do mangue, na beira do mar é bem legal! hehe, viajante gosta de perrengue mesmo!

      Valeu pelo elogio, também curtimos bastante o Viajando com Eles =)
      bjs,

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