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Atlas: Inglaterra, Londres, Reino Unido

Sobre estações de trem e evacuações em Londres

AVISO: Este é mais um post didático sobre como NÃO agir em situações tensas mundo afora.

Acho que foi mais ou menos depois do 11 de setembro de 2001 que o mundo inaugurou uma nova era da paranoia. Quem não se lembra dos intermináveis procedimentos para embarcar em aviões nos Estados Unidos, do tal pó branco que fazia as pessoas instaurarem o caos achando que era Anthrax, mesmo que na maioria das vezes fosse apenas farinha. Os atentados em Madri, em 2004, e no metrô de Londres, em 2005, ajudaram a levar um pouco desse pânico para a Europa.

Veja também: Qual o melhor bairro para me hospedar em Londres?

Nós, humildes brasileiros, enfrentamos muitos perigos que vêm daqui de dentro mesmo e somos até um pouco paranoicos quando o assunto é violência urbana, mas se tem um mal que é praticamente desconhecido para a gente é o terrorismo. Foi talvez por isso que, depois de ver o lugar onde o Harry Potter pega o trem para Hogwarts todo ano, eu e a Luíza andávamos tão distraídas pela estação King’s Cross, rindo como bestas das piadas (de mau gosto) que fazíamos sobre a paranoia alheia.

Já tinham me contado que em Londres não existem muitas lixeiras na rua por medo de que as pessoas coloquem bombas dentro. Não sei se a informação é verídica, mas o fato é que já estávamos rodando pela estação há algum tempo tentando encontrar um lugar para jogar um copinho descartável.

– Será que nós parecemos suspeitos, já que estamos rodando sem destino numa estação de trem? – Perguntei, ignorando gentilmente alguma coisa que o Rafa tinha acabado de falar.

– Eu não sei – respondeu a Luíza – mas se estiverem vendo a gente por uma câmera, vão achar que este copo é um objeto suspeito não identificado. Melhor a gente encontrar um lugar para jogar fora.

A conversa nonsense continuou por alguns minutos enquanto o Rafa continuava tentando interromper para dizer qualquer coisa que não importava no momento.

– Gente! Escuta o que eu estou falando – ele disse. Diante da elevação do tom e da urgência em sua voz, não tivemos outra alternativa a não ser acabar com a tagarelice sem sentido. – “A mulher” tá falando alguma coisa!

“A mulher” era a voz feminina sem rosto que habita os espaços públicos como shoppings e aeroportos. Acontece que, dessa vez, o aviso dela era um pouco mais amedrontador do que escutar seu nome na ultima chamada do embarque.

– Por favor, todos se retirem da estação imediatamente.

Nós entreolhamos assustados e procuramos por uma saída. Àquela altura, a King’s Cross já estava praticamente vazia. Aparentemente a evacuação começou enquanto nós fazíamos piada com terrorismo.

Eu quis correr quando vi o portão, mas assim que ensaiei uns passos mais rápidos a Luíza me repreendeu, lembrando que aquela atitude poderia causar pânico. Assim que passamos, os guardas fecharam o portão. Fomos praticamente os últimos a sair.

Andamos para um ponto de ônibus longe o suficiente caso alguma coisa explodisse e perto o bastante para acompanharmos o movimento. Só então reparamos que ninguém mais estava desesperado. Os londrinos andavam normalmente, como se aquilo não tivesse sido um inconveniente maior do que um atraso em suas rotinas diárias.

Foi então que a ficha caiu: não havia bomba nenhuma. Aquele era apenas um procedimento padrão para testar a segurança ou para analisar um objeto estranho nos trilhos. Acontece sempre em Londres e quem mora lá está tão acostumado com isso quanto com ver turistas atrapalhando o trânsito da Abbey Road todo santo dia.

Ainda assim, procuramos na internet por mais informações sobre o ocorrido. Não encontramos nada, exceto um tweet mal humorado sobre o tema:

“A King’s Cross foi evacuada mais uma vez hoje. Essa é a cidade que vai receber as Olimpíadas? Quero só ver como vai ser ano que vem!”

O que aprendemos com essa experiência:

– Escutar “a mulher” sempre que ela falar. Pode ser importante.
– Escute o Rafa quando ele insistir mais de uma vez.
– Pessoas são chatas sobre grandes eventos esportivos em qualquer lugar do mundo. Não importa se você está no Brasil ou em Londres.
– Não entre em pânico antes de constatar se a situação realmente merece pânico, ou então você pode passar por ridículo.

*Foto destacada do post: Tom Page, Wikimédia Commons

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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5 comentários sobre o texto “Sobre estações de trem e evacuações em Londres

  1. Sensacional. Estou adorando esse site, vou indicá-lo aos meus amigos. É ótimo conhecer um pouquinho do mundo, através das palavras de vocês. Agora eu tenho uma pergunta, vou disponibilizaram em algum local, algumas fotos das viagens?
    Abraços e continuem pois o blogger é muito bom.

    1. Ei Gabriel! Obrigada por seu comentário! Fico feliz que tenha gostado do blog. Infelizmente não temos as fotos da viagem em algum local, mas colocamos bastante aqui no blog. Tem algum lugar específico que vc gostaria de ver fotos? Mais uma vez obrigada e por favor, recomende sim aos seus amigos =)

      Abraços!

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