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Atlas: Índia

Viaje para longe da sua zona de conforto

Toda manhã, o motorista do tuk-tuk, aquele triciclo motorizado muito comum na Ásia, parava na porta de nossa casa. Era assim que íamos ao trabalho durante o tempo que moramos na Índia. No escritório, o idioma oficial era o inglês, usado em todas as reuniões, mas muita gente falava punjabi, a língua mais comum naquela parte do país. Durante seis meses, tudo na nossa vida foi novo. E essa foi a parte mais incrível do tempo que passamos por lá.

A Índia mudou minha vida. Fez isso de tantas formas que fica complicado até explicar. Já faz dois anos que eu deixei o país, tempo suficiente para filtrar tudo que aconteceu. Depois de morar na Índia, mudei de objetivos profissionais. Desisti de trabalhar com carteira assinada, em alguma grande empresa de jornalismo, para cuidar do meu próprio negócio: este blog. Virei um nômade digital, com a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar do globo. Fiquei menos materialista e aprendi a me virar em situações complicadas. Mudei minha visão de mundo e muitos objetivos de vida. E para não falar que a Índia não me deixou pelo menos um pouco zen, hoje até evito comer carne.

Todas essas mudanças aconteceram na Índia, mas poderiam ter sido em outro lugar. Se eu cresci e mudei durante uma viagem foi por um motivo: eu pulei fora da minha zona de conforto.

hyderabad, Índia

Qual o problema com a zona de conforto?

A rotina não é algo totalmente ruim, afinal torna a vida mais organizada e ajuda qualquer pessoa a desenvolver habilidades. Por outro lado, a linha entre ter uma rotina e o comodismo é muito fácil de ser cruzada. Entramos na zona de conforto quando não enfrentamos situações novas e desafiadoras, coisas que poderiam ajudar no nosso crescimento pessoal.

O problema é que a zona de conforto é, como o próprio nome deixa claro, um lugar seguro. Pode ser um emprego que você não gosta, mas não tem coragem de largar, afinal já dominou a função. Pode até ser algo que te faz bem, mas que sufoca seu crescimento ao não permitir que você descubra o novo. Enfim, é qualquer aspecto da vida, sempre com uma característica em comum: quem está na zona de conforto morre de medo de sair de lá.

Como superar o medo e sair da zona de conforto

Começo de 2011. Formado em jornalismo há menos de dois anos, eu tinha um emprego numa grande empresa de comunicação. Quando fui contratado, minha função era desafiadora, mas com o passar do tempo isso mudou. Eu definia meu emprego de forma simples: tédio. Muito tédio. “Qualquer pessoa que pare de aprender é velha, não importa se ela tem 20 ou 80 anos. Qualquer um que continua aprendendo permanece sempre jovem”, disse o empreendedor norte-americano Henry Ford. Por essa análise, meu emprego estava me transformando num idoso – o problema é que faltavam uns 50 anos para a aposentadoria.

tempos modernos

E havia um agravante – eu não trabalhava com o que sempre quis. Se estava assim, por que não mudar? Confesso que pensei nisso várias vezes, mas o medo me impedia de buscar novas possibilidades. E se eu não conseguisse achar um trabalho melhor? E se meu salário diminuísse? E se eu fechasse uma porta importante na carreira ao largar a empresa?

O medo é capaz de fazer pessoas passarem a vida inteira dentro da zona de conforto. Foi só com muito esforço (e com a ajuda da Naty e da Lu, companheiras de aventuras) que superei isso e resolvi tirar um ano sabático. Durante esse período, fiz um intercâmbio na Índia e dei uma volta ao mundo. Mesmo durante a viagem, houve vários momentos em que eu tive medo do que o futuro guardava.

Mas viajar é sair da zona de conforto?

Depende. Pense numa pessoa que passa as férias sempre no mesmo lugar. Pode ser que ela tenha experiências incríveis e ame esse local, mas ainda assim ela está dentro da zona de conforto (e não sai dela nem nas férias). Numa situação assim, mesmo uma viagem pode representar continuidade e há pouco espaço para o aprendizado e para o novo.

Por outro lado, até quem viaja sempre e para lugares diferentes pode nunca sair da zona de conforto. Para isso, basta ser passivo. O mundo é um caldeirão de diferenças e há milhões de formas de pensar e ver a vida. Viajar oferece uma ótima oportunidade de conhecer novas culturas e crescer, se tornar uma pessoa melhor, mas isso não é uma relação de causa e efeito, do tipo viajei e atingi o nirvana. O viajante precisa estar aberto ao novo e pronto para quebrar preconceitos. É preciso querer aproveitar a oportunidade que a estrada oferece.

Muçulmanos

Vai viajar? Aproveite para conhecer mais sobre a cultura do lugar que você pretende visitar. Quem são as pessoas que moram ali? No que acreditam? Para que uma viagem seja sinônimo de crescimento pessoal, é preciso escolher isso, optar pelo desafiador. Viagens que conjugam turismo com outras experiências são ótimas nesse sentido. A Naty já contou aqui no blog como foi trabalhar num hospital infantil da África do Sul. E esta semana a Lu mostrou que uma viagem pode ser boa até mesmo para o currículo.

Mas se intercâmbios são ótimas oportunidades de crescimento, também é possível sair da zona de conforto durante uma viagem de turismo. Conheça outras pessoas. Pergunte. Interaja com quem mora ali e aprenda com eles. Assim você voltará para casa um pouco diferente do que era quando saiu.

Varanasi, Índia

Varanasi, Índia

O contrário da zona de conforto é…

Um tremendo desconforto, pelo menos no primeiro momento. Pode acreditar, não foi fácil passar meses com dificuldade até para comer, tamanha é a diferença da alimentação na Índia. Eu também não curtia lavar minhas roupas à mão, nem os problemas com a comunicação ou o choque cultural gigantesco que eu tomei. Tudo isso foi desconfortável e gerou vários momentos de tensão e raiva, sem falar na vontade imensa de jogar tudo para o alto e voltar correndo para casa. Mas é exatamente por ter sido uma experiência desafiadora que essa viagem me fez crescer e aprender mais sobre o mundo.

Taj Mahal, Índia

Taj Mahal, Índia

Qual foi a última vez que você fez algo novo? Se não se lembra, talvez seja hora de cruzar fronteiras. Não de países, mas as fronteiras da zona que existe ao redor de você. “A vida começa do lado de fora da sua zona de conforto”, definiu muito bem o escritor norte-americano Neale Donald Walsch. Muitas das coisas realmente mágicas da vida, aquelas que são memoráveis e que levamos conosco para sempre, acontecem quando pisamos no desconhecido.

Uma coisa eu te garanto: sair da zona de conforto vai te dar medo. E a questão não é evitá-lo, mas seguir em frente mesmo assim.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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15 comentários sobre o texto “Viaje para longe da sua zona de conforto

  1. Boa tarde caros amigos,

    Sou português e a minha única experiência consistente fora do meu País foi precisamente no Brasil, nos 6 primeiros meses de 2014. E como resultado das experiências aí vividas digo que essa bela “Pátria Amada” é a principal responsável pelo que procuro atualmente para a vida, crescer continuamente, com a certeza que a felicidade e bem-estar próprio e dessa forma também para com os outros é o que vai fazer crescer a humanidade neste atual “Século da Espiritualidade”!

    E o vosso blog também está a ser um excelente mote para melhor encontrar isto que procuro finalmente como prioridade na vida há algumas semanas.

    Na minha conceção viajar é condição essencial para o conseguir, pois apenas podemos viver melhor se tivermos mais conhecimento sobre como pessoas de todo o mundo e diferentes culturas reagem de forma diferente a mesmos estímulos que nós e de forma geral os indivíduos da cultura em que estamos inseridos. Isto ajuda-nos a perceber que a nossa forma de ver o mundo não é única, é apenas uma de entre taaantas outras possíveis.
    Assim, perceber onde os outros seres humanos encontram felicidade é fundamental para o nosso próprio crescimento e para o entendimento do ser humano no geral.

    Em relação à Índia, pela Espiritualidade bem vincada que possui, é de prever, à distância, que se preocupem menos com coisas banais do dia-a-dia, que apenas servem para passar o tempo e não nos ajudam a cerscer. A vossa observação “in loco” confirma estas ideias?

    O amor que sinto pelo Brasil e pelo que lá vivi e aprendi é enorme, estou disponível para todas as impressões que queiram trocar, não hesitem em perguntar.

    Obrigado pela vossa partilha.
    Muito atenciosamente,
    Diogo Oliveira

    1. E já agora, uma pergunta bem importante, por onde me aconselham começar a procurar para poder viajar por exemplo por um ano inteiro?

      Muito obrigado,
      Diogo

      1. Oi, Diogo. Um ano é muito tempo. Você pode dar até uma volta ao mundo. Ou pelo menos focar numa região, tipo sudeste asiático, América do Sul,etc.

        A Índia vale muito a viagem. Lugar fantástico. Mas não, acho que a espiritualidade lá não é exatamente como o mundo ocidental pensa. Embora seja um país muito espiritual, claro.

        Que bom que você gostou do Brasil. E obrigado pelos elogios ao blog.

        Abraço.

  2. simplesmente MARAVILHOSO o texto!
    O blog tem sido pra mim sensacional,as viagens e experiência de vcs me faz atravessar fronteiras sem sair de frente da tela do meu computador.. Parabéns por transmitir tanta realidade nas palavras. O blog é sem dúvidas sensacional.
    Abçs

  3. Excelente texto!
    Amo o blog e principalmente quando fazem menção á India. Passei apenas 6 meses lá, mas foram o suficiente para sair totalmente da minha zona de conforto, rsrsrs. Agora estou morando e amando Kuala Lumpur… quando procurei sobre a Malásia, o único blog onde achei informações positivas foi o de vocês.
    Parabéns pelo blog!
    Beijoos.

    1. Adoramos a Malásia, Paolla! Ficamos cerca de 20 dias no país e foi uma experiência incrível. É um país que ainda precisa ser descoberto pelo brasileiro.

      E a Índia é um dos lugares mais incríveis do mundo. hehehe

      Abraço e obrigado!

  4. Rafael,
    Excelente texto, inspirador. Era o que eu estava precisando ler hoje.
    Vivi uma situação parecida com a sua. Me formei em Arquitetura e Urbanismo no final de 2012, e logo em seguida consegui um emprego como Arquiteta em uma empresa de projetos, um emprego que também parecia promissor, mas que em poucos meses se tornou entediante. A rotina do dia a dia nos faz perder a perspetiva de alguns sonhos, pensar pequeno e aumenta o medo de arriscar. Ao cair nesse tédio, decidi fazer um intercâmbio para a Rússia (que inclusive foi publicado no blog) que também mudou a minha vida, e a forma como eu devo tomar as decisões que vão impactar no meu futuro. Em poucos meses vou embarcar para a Alemanha, para fazer um mestrado na minha área, e novamente, vou ter que sair da minha zona de conforto. O mestrado no exterior era um sonho, que antes do intercâmbio, eu acreditava ser impossível de ser alcançado. Hoje eu estava pensando, se eu não tivesse tomado essa decisão de passar mais uma temporada fora, poderia estar consolidando minha carreira como Arquiteta na cidade em que moro, mas depois de ler o seu texto, eu vejo que realmente estou tomando a decisão certa!
    Obrigada!!

    1. Oi, Mariana! Lembro do seu texto sobre a Rússia, claro! Gostei bastante!

      Boa sorte em mais essa fase da sua vida! Fazer mestrado na Europa deve ser uma experiência e tanto, dessas que muda a vida da gente. Parabéns pela coragem.

      Abraço.

  5. Legal o texto, e o blog de vocês todo, Posso dizer que são as pessoas mais interessantes cyberspace que conheci nos últimos dias. Estou fazendo leituras e expresso aqui interesse por essa viagem de nômades digitais.
    Não sei como funciona, mas espero que meus clicks contribuam com algum dindin pra vocês poderem viajar mais.
    Pioneiros em algo na vida – seja lá qual for o dom, cada um tem o seu, e ter a coragem de ser abre alas, não é coisa corriqueira… Estão sempre sujeitos a criticas e admoestações às vezes das mais infundadas, por pessoas desinformadas, acomodadas, moldadas em conceitos estabelecidos que as vezes não cabem no nosso ser, não nos fazem felizes. E o importante é ser feliz plenamente.
    Atualmente estou numa fase que parei de andar um pouco, por enquanto. Tenho casa, e gosto dessa sensação, ter esse conforto, um lugar pra chamar de meu, depois de ter caminhado tanto, mesmo longe da zona de conforto de berço: nasci em SP e moro no Acre.
    Estou me inspirando para o ano sabático, ótimas dicas por aqui.. Depois que terminar o mestrado (que comecei esta semana),rs…
    Que seja sucesso e a estrela de vocês brilhe sempre mais e mais…

    1. Oi, Ana!

      Olha, muito obrigado pelo seu comentário, de verdade. De fato, muitas vezes é difícil lidar com as dúvidas que outras pessoas colocam nas nossas escolhas.

      Sabe como é, a nossa escolha de vida não é das mais tradicionais. E isso deixa parentes e amigos com medo. Vira e mexe alguém sugere que eu mude de foco, por exemplo.

      Comentários como o seu nos dão motivação. =) Obrigado!

      Abraço!

  6. Estava lendo um texto sobre criatividade e que me inspirou bastante (Pois minha meta é ser fotográfo, pelo simples fato de achar que eu nasci para isso, rs. Porque vira e mexe alguém vem com aquele papo “Mas isso não dá dinheiro” ¬¬’).
    E agora me deparo com o seu texto super inspirador, nesse momento moro em Portugal e estou numa zona de conforto tão grande, que começou a fazer mal, sabe quando vc parece estar sobrevivendo e não vivendo?! Pois bem, sou eu no momento.
    E se Deus quiser e eu for em frente com meus planos, rumo à outros países aqui da Europa, pois aqui a maré não tá para peixe, e com isso saio da minha zona de conforto.

    Parabéns pelo texto, me ajudou de certa forma.
    Abraços!!

    1. Fico feliz de saber disso, Luan. E não desista dos seus sonhos por causa de dinheiro: muitas vezes o cenário nem é tão assustador como as pessoas pintam.

      É possível ganhar dinheiro como fotógrafo sim, tanto é que essa é a profissão de muita gente.

      Boa sorte!

  7. Ótimo texto, realmente muito inspirador. Eu me encontro nessa situação, em uma zona de conforto e sei o quanto é ruim, por hora me empenho em aprender coisas novas, mas quando tiver recursos suficientes, pretendo embarcar em algo mais complexo, como uma viagem, para realmente lidar com o desconhecido e assim aprender e crescer. Parabéns pelo Blog, além de informativo é sempre inspirador. Abraços!!

    1. Todo mundo fica um pouco dentro da zona de conforto, isso é normal. O problema é passar a vida inteira dentro dela. =)

      Mantenha a gente informado sobre suas aventuras. Gostamos muito de viajar nas histórias de superação dos outros!

      Abraço.

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