Segunda-feira, para muitos o mais odiado dos dias. Você chega ao trabalho, desaba na sua mesa e espera a hora do almoço chegar. A ressaca pós fim de semana afeta a vida do trabalhador em qualquer parte do mundo, do Brasil ao Japão. Em 2005, uma pesquisa de uma universidade japonesa constatou um pico de 20% no número de ataques cardíacos – adivinha quando? – sim, na segunda!
Para muitos, a volta da correria do trabalho somada ao período de descanso insuficiente explicam o ódio do trabalhador com o primeiro dia útil da semana. Depois de feriados prolongados, quando temos direito a 72 horas de descanso e relaxamento, é comum ter quem pergunte: e se fosse sempre assim? E se todo fim de semana tivesse três dias? Bem, essa ideia não é tão louca quanto parece. Listamos sete fatos que provam isso.
Fins de semana de três dias existem
A maior prova de que todo fim de semana poderia ser prolongado é porque essa é a realidade em algumas partes do mundo. Na Holanda, uma a cada três pessoas trabalha apenas 4 dias por semana. Segundo a BBC, no Reino Unido a semana de quatro dias é comum há muito tempo, pelo menos para algumas profissões.
Os Estados Unidos, país símbolo máximo da lógica “o trabalho engrandece o homem”, também já colocou o fim de semana prolongado em prática. No estado de Utah, em 2008, o governo reduziu um dia de trabalho, embora não tenha diminuindo a quantidade de horas trabalhadas na semana: continuaram 40, mas distribuídas por 4 dias. Três anos depois, o governo mudou e a medida foi desfeita, mas não porque as pessoas estivessem infelizes. Dois terços dos funcionários disseram na época que estavam mais felizes e também mais produtivos no trabalho.
“Ok, é possível, mas só em países desenvolvidos”, você pode dizer. Então segura essa: no começo deste ano, Yahya Jammeh, o presidente da Gâmbia, na África Ocidental, determinou que toda semana teria 3 dias de descanso para os funcionários públicos. Segundo ele, o dia a mais seria para cada trabalhador relaxar e orar, entre outras atividades.
Já temos muitos finais de semana prolongados mesmo
Até que 2013 não foi um ano cheio de finais de semana prolongados, mas normalmente nós já temos muitos deles. Em 2012, por exemplo, foram nove. E isso só contando os feriados nacionais que caíram perto do começo ou do fim da semana – ainda é preciso colocar na conta os feriados municipais e estaduais.
E sabe aquela história de que brasileiro trabalha pouco e folga muito? Mentira! Sequer estamos no topo do ranking de países com mais feriados. Este ano, russos, italianos, suecos, finlandeses, franceses e noruegueses folgaram mais do que o trabalhador brasileiro. Os japoneses também curtem um feriado, enquanto os norte-americanos costumam ter a mesma quantidade de folgas que a gente. Já estamos no meio do caminho quando o assunto é fazer todo fim de semana ter três dias. Por que não dar mais uns passos pra frente, alegrando de vez a galera?
Muitas indústrias se dariam bem
Há quem lembre do rombo na economia que finais de semanas maiores poderiam representar, afinal os dois dias de folga atuais já representam uma diminuição de 4% no PIB brasileiro, segundo alguns economistas. Só que isso não é regra para todos os setores. As indústrias do turismo e do entretenimento dariam pulos de alegria – três dias de cinemas lotados, overbooking nas empresas aéreas e tudo reservado nos hotéis (e motéis).
Com um dia a menos de trabalho, as empresas também teriam menos gasto com energia. Utah, o estado norte-americano que testou o fim de semana de três dias, registrou uma queda de 13% no consumo elétrico! Pouco? O horário de verão gera uma economia bem menor: em torno de 5%.
Menos estresse por causa do trabalho
Tudo bem, pode até ser que a medida não seja economicamente vantajosa para todos os setores da sociedade. Mas é necessário avaliar o ponto de vista humano também: com um dia a mais de folga, mais bem estar, menos estresse. Segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), 1,3 milhões de brasileiros se afastaram do trabalho por causa do estresse.
Não deixe o estresse te enlouquecer
Outra pesquisa, essa da Universidade de Bristol, na Inglaterra, indicou que mesmo uma situação de estresse leve aumenta em 70% a chance do funcionário deixar de trabalhar. Pense comigo: as pessoas trabalham muito e relaxam pouco, por isso se estressam. Ao se estressarem, ficam doentes, o que leva muita gente a trabalhar menos. Será então que quanto mais trabalhamos, menos trabalhamos e produzimos?
Menos congestionamentos e poluição
Trabalhar menos não faria bem apenas para a saúde do indivíduo, mas também para o meio ambiente. Não é preciso buscar estatísticas para saber que as ruas ficam menos cheias de carros durante os finais de semana. Com uma semana de 4 dias úteis, teríamos três dias sem congestionamentos, sem milhões de viagens de ida e volta para o trabalho.
Congestionamento em São Paulo. Foto: Henrique Boney, Wikimedia Commons
Além de diminuir o estresse dos motoristas, a medida reduziria a poluição do ar, já que os carros são responsáveis por 90% da poluição atmosférica de São Paulo, nossa maior metrópole. Pense que essa mesma poluição do ar mata mais pessoas na capital paulista do que acidentes de trânsito e você verá que reduzir a quantidade de carros nas ruas não é só uma boa ideia. É uma necessidade.
Vale dizer ainda que reduzir a quantidade de trabalho para controlar a poluição do ar não é uma medida que nunca foi tomada antes. Kabul, no Afeganistão, fez isso em 2010.
A carga de trabalho caiu desde a revolução industrial. Por que não diminuir mais?
Muitos chefes não vão querer nem ouvir falar desse lance de mais folga, é verdade. Só que sempre foi assim. Durante a Revolução Industrial, um trabalhador chegava a enfrentar 16 horas de labuta por dia, sem direito a dia de folga – inclusive crianças. Manifestações, greves e diversos movimentos foram mudando esse cenário, obviamente não com o apoio dos donos e empresários, que deviam achar que aquele povo todo estava pedindo absurdos.
Trabalho infantil na Georgia, em 1909. Foto: Lewis Hine (domínio público)
O dia 1º de maio é feriado em boa parte do mundo como lembrança dessas lutas e conquistas sociais. É que em maio de 1886, as ruas de Chicago presenciaram a história sendo escrita, com os trabalhadores exigindo a redução da carga de trabalho para 8 horas por dia. Depois isso virou padrão, com folga de domingo incluída. Mais tarde essa quantidade foi diminuindo ainda mais: no Brasil a carga horária máxima caiu de 48 para 44 horas semanais com a Constituição de 1988. Cerca de 20 anos depois o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) anunciou que o brasileiro já trabalhava quase 11% menos.
Hoje o brasileiro trabalha pouco mais de 39 horas semanais, o que ainda é muito se comparamos com outras sociedades. Alemães, holandeses, franceses, austríacos e belgas: todos trabalham menos de 30 horas por semana. Trabalhar menos horas é tendência, provam a história e a situação de alguns países desenvolvidos. Portanto, o fim de semana de três dias pode estar ali pertinho, na esquina.
As tecnologias permitem que você produza mais
Esse é um ponto que já defendemos há algum tempo aqui no 360meridianos: as novas tecnologias permitem uma mudança no estilo de trabalho. O desenvolvimento da internet e da informática transformaram completamente a ideia de escritório, que hoje pode ser na sede da firma ou numa praia do caribe. Se estamos sempre conectados e presentes, é óbvio que a presença diária em determinado lugar, oito horas por dia, é cada vez menos necessária.
E tem sido assim há décadas. As novas gerações trabalham menos porque conseguem produzir mais em menos tempo. E isso não tem nada a ver com aquela história de geração Y, X ou Z: é o desenvolvimento tecnológico que vai aumentando o período de folga do trabalhador. Para isso, é necessário uma mudança de mentalidade, utilizando as novas tecnologias para trabalhar menos, e não apenas como distração.
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A informação que os alemães trabalham 30 horas não está bem correta. O contrato de trabalho usual é 40h. Você pode negociar em fazer 75% ou 50% dessa carga horária, mas com redução do salário. Alguns cargos de engenharia tem uma semana de 35h, mas o comum é 40h. E muitos lugares ainda acabam fazendo hora extra.
Obrigado pela correção, Elisa. 🙂
Abraço
Nossa, trabalhar sábado é pior que segunda mesmo. Já passei por isso também.
Abraço.
Boa que inveja,eu só queria ter o sábado é o domingo de folga já seria bom tenho que trabalhar de 2° a sábado e o sábado ganha ate da segunda feira em chatice.
Muito bom, de uns tempos para cá tenho pensado nisso. Não querendo generalizar mas grande parte das empresas por onde passei, principalmente as privadas, tem uma visão muito limitada e possessiva dos seus colaboradores.
Acho uma ótima ideia, parece brincadeira, mas amenizaria alguns problemas destacados ai no texto.
Poderia também ter uma escala de revezamento entre dois grupos, não precisa todo mundo folgar na sexta, uns poderiam folgar na sexta e outros na segunda, assim não haveria nenhuma lacuna na semana e a segunda perderiam um pouco do seu peso para alguns haha.
Oi, Gabriel.
Obrigado pelo comentário. Concordo com você: tive muitos problemas nas empresas que trabalhei. Eu tinha que ficar no escritório mesmo quando não havia nenhuma demanda, o que era muito comum.
E trabalhar é importante, mas também precisamos de tempo para nossa vida pessoal e para relaxar, não é mesmo?
Abraço.