Faz pouco tempo que eu visitei Veneza pela primeira vez, mas antes disso já havia passado por várias Venezas ao redor do mundo. É que parece uma mania de escritórios de turismo pouco criativos darem o título de “Veneza de algum lugar” quando querem promover um destino bonitinho. Se por acaso alguns poucos canais atravessarem o lugar então, já era: certamente alguém vai ter a ideia genial de batizar a cidade de “Veneza da Cochinchina”.
Pensando em ir para Veneza? Leia todos os nossos textos sobre a cidade!
É o caso de Séte, simpática cidadezinha francesa às margens do mar mediterrâneo. Quis o destino que, além de casinhas coloridas, Séte tivesse também alguns canais. Pronto. Prato cheio para que a cidade fosse chamada de “Veneza do Languedoc”.
Séte, Veneza do Languedoc
Séte é uma cidade pequena, pouco conhecida pelos viajantes que exploram a Europa ou até mesmo a França. Por isso, dá para entender porque compará-la a uma gigante do turismo. O estranho é quando destinos famosos e atrativos pelos próprios méritos atribuem para si a alcunha de Veneza.
É o caso de Praga. Não que a cidade inteira seja a Veneza da Boêmia, mas uma parte da capital tcheca resolveu que queria sim ser a cidade italiana. Quando passar por lá, procure por lugares que vendem os passeios de barco pela Veneza de Praga, o conjunto dos canais que banham a cidade ao lado do rio Moldava.
Veneza de Praga
Nem Amsterdam, outra que dispensa qualquer empurrãozinho para ser um grande destino turístico, ficou livre de levar um título de Veneza, a do Norte. Nas terras mais setentrionais da Europa, a briga é boa: a cidade holandesa divide o apelido com Bruges, Copenhague, Hamburgo, Manchester, ‘s-Hertogenbosch (outra holandesa na lista), São Petersburgo e Estocolmo. Haja vontade de ser Veneza!
Amsterdam, Veneza do Norte
Já imaginou um país inteiro inspirado em Veneza? Pois acredite ou não, esse é o caso da Venezuela, que não é conhecida como Veneza da América Latina, mas foi batizada em homenagem a ela. A terra de Hugo Chavez ganhou esse nome porque, quando Alonso de Ojeda, o espanhol que explorou a região, deu de cara com as palafitas indígenas, achou que aquilo se parecia muito com a dita cuja. Sinal de que há séculos ser Veneza é tendência.
E vocês sabiam que até o Brasil tem sua própria Veneza? Eu também não, mas parece que os rios e pontes que cruzam Recife são motivos suficientes para que ela fosse a vencedora tupiniquim do campeonato veneziano. Essa é uma das wannabe cidade italiana que falta cortar da minha lista.
Venezas do Oriente
Nenhum título de Veneza é tão disputado quanto o de Veneza do Oriente. São 17 cidades que clamam reproduzir uma das cidades mais belas da Itália nas distantes terras asiáticas, pelo menos segundo a onisciente Wikipedia. Entre elas Osaka, no Japão, Daka, em Bangladesh e Hanoi, no Vietnã.
Eu conheci algumas de perto durante os oito meses que passei viajando na Ásia. A minha Veneza do Oriente favorita é Udaipur. Eu nunca entendi direito o porquê do título, já que a cidade mal tem canais, no máximo um lago enorme. Ainda assim, talvez por ser uma das cidades indianas mais agradáveis que eu fui, achei válida a comparação.
Udaipur, Veneza do Oriente
Também na Índia, Alleppey (ou Allaphuza, como queira) é outra que clama para si o apelido. A justificativa aqui são os backwaters, um gigantesco sistema de canais de água que corre devagar quase parando. A cidade é rodeada por florestas tropicais, mangues e plantações, o torna essa Veneza a mais exótica que já visitei.
Alleppey, Veneza do Oriente
Malaca, na Malásia, ganhou canais por causa da colonização holandesa. Agora, me pergunta se ela se acha a Amsterdam do Oriente? Na-na-ni-na-não.
Malaca, outra Veneza no Oriente
Na Tailândia, tanto Bangkok quanto Ayutthaya afirmam ser Veneza. Os motivos eu não faço a menor ideia.
Mercado flutuante, a parte mais veneziana de Bangkok fica fora da cidade
Ayutthaya, Veneza budista
Todos querem ser Veneza. Mas por quê?
Parece que o título de “Veneza de algum lugar” é o mais concorrido no mundo das cidades turísticas, mas fica difícil entender por que essa vontade toda de ser igual à cidade italiana. Veneza (a original) é linda, romântica e com um grande apelo turístico, isso ninguém nega. Boa parte das cidades que se chamam de Veneza também o são, mas de uma forma única e especial. O problema da comparação é que elas sempre saem perdendo.
O que eu quero dizer é que ninguém ganha de Veneza em ser Veneza. Seria muito melhor se, em vez de usar essa estratégia de marketing biruta, as secretarias de turismo das cidades passassem a olhar o que aquele destino oferece que Veneza nenhuma no mundo tem.
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