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Tiruchirappalli, a Índia que não conhece estrangeiros

Entramos num local escuro e cheio de sons e cheiros estranhos. O ambiente, a sala de entrada do Rockfort, não era tão grande assim. Num canto estava a bilheteria para uma das principais atrações de Tiruchirappalli, capital do estado indiano do Tâmil Nadu, no sul do país. Espalhadas pela sala, pessoas,  gente que vai ao local todos os dias para expressar sua fé. Mas o que chamou mesmo nossa atenção foi o animal, um enorme elefante.

Não uma estátua, veja bem, mas um elefante mesmo, animal considerado sagrado na Índia. Se no Brasil eles estão apenas em zoológicos, na Índia é possível vê-los nas ruas, principalmente de cidades turísticas. Mas o encontro com aquele elefante foi surpreendente, já que não é todo dia que você dá de cara com uma animal tão grande num ambiente tão pequeno. E ele não estava ali como atração turística, afinal os estrangeiros são raríssimos por lá. O elefante do Rockfort tinha um papel na fé das pessoas.

Trichy, Índia

Fé. É isso que move Tiruchirappalli, também chamada de Trichy, uma cidade com templos importantíssimos para os hindus. O complexo do Rockfort é menos famoso, mas nem por isso menos interessante. Localizado no topo de um morro, o templo paira sobre a cidade. Usado há 1500 anos para fins militares, com o passar dos séculos as pessoas fizeram a natural relação entre guerra e religião. Visitá-lo é uma oportunidade de entrar em dois templos com séculos de existência, mas também de observar a cidade do alto.

Veja também: Que tal conhecer o Tâmil Nadu?

Do alto das escadarias do Rockfort, o prédio que mais se destaca também é um templo, mas de um tipo bem mais familiar para mim: uma igreja católica. Batizada de Our Lady of Lourdes Church, a Igreja fica perto de uma das mais movimentadas ruas de Tiruchirappalli. Mas, assim que descemos do Rockfort e atravessamos a rua e entramos nela, fica claro que o catolicismo não é o mesmo na Índia – A Igreja de Lourdes lembra um templo hindu.

Tiruchirappalli, Rockfort

Não há cadeiras. As pessoas sentam-se no chão e não podem entrar no espaço de sapatos, assim como acontece em todos templos hindus do país. Mas a maior prova do sincretismo religioso está na imagem de Maria, que na Índia usa um colar hindu, assim como os deuses daquela religião. Na Índia, Cristo é visto e representado por olhos indianos.

Mas o grande templo mesmo, aquele que faz de Tiruchirappalli um importante local de peregrinação para os hindus, é o Thiruvanaikaval, dedicado a Shiva. Erguido há 1800 anos, é o maior templo hindu ainda em funcionamento no mundo e o maior complexo religioso da Índia. Durante os meses de dezembro e janeiro, o local recebe cerca de um milhão de visitantes. Quase todos indianos, como o homem que ofereceu para nos guiar pelo local. Nascido no Tâmil Nadu, ele se mudou para Miami, mas nunca deixou de voltar ao país natal, principalmente durante as festividades religiosas.

Tiruchirappalli, Índia

Tiruchirappalli, na Índia

O templo tem sete paredes concêntricas e 21 gopuras, ou torres.  Quem não é hindu pode visitar muitas áreas do templo, mas não as mais sagradas. Estrangeiros convertidos ao hinduísmo costumam poder entrar, mas pode ser preciso provar a fé.

Tiruchirappalli, Índia

Mas a entrada na impressionante Sala dos 1000 pilares é permitida a todos. Os 953 pilares de granito (47 se perderam com o tempo) foram erguidos entre os séculos 14 e 16. Neles, destacam-se esculturas de cavalos, tigres e outros animais. Mas nada se compara aos homens e mulheres que se espalham pelo salão. Gente doente, que está lá em busca de cura. Gente que já está perto da morte. Gente que voltou para agradecer por algo. Gente de todos os tipos.

Sala das mil pilastras

Trichy, Índia

Tiruchirappalli: informações práticas

Tiruchirappalli não está preparada para o turista estrangeiro. Gringos são tão incomuns por lá que viram cartão-postal ou propaganda. Num dos poucos restaurantes com comida ocidentalizada, uma pizzaria próxima à rodoviária, um grupo de estrangeiros que passou por lá foi fotografado. A imagem deles passou a ser usada como um enorme banner da pizzaria, numa tentativa de dizer “aqui almoçam os estrangeiros”. Não sei se fomos fotografados, mas quem garante que não fomos e também viramos propaganda do local?

Os hotéis e a comida são pensados para indianos. Além disso, Tiruchirappalli passa longe de ser uma das cidades agradáveis da Índia. Assim que chegamos lá, tivemos vontade de ir embora. Vontade de correr para a próxima cidade do roteiro.

Trichy, Índia

Mas então por que visitar a cidade? Como já cansamos de dizer aqui no blog, a Índia não é um país qualquer. É única. Diferente. Mexe com você de uma forma inacreditável, e isso mesmo quando no roteiro estão apenas lugares muito turísticos, preparados para a presença estrangeira, como Nova Delhi, Agra e o Rajastão. O impacto é ainda mais profundo em estados como o Tâmil Nadu, que ainda não entrou no roteiro dos ocidentais.

E isso é um desafio, ao mesmo tempo que oferece uma visão da Índia completamente diferente. Não é um local que entre no roteiro de quem vai pela primeira vez ao país. Mas para quem está na segunda viagem ou ficará um longo tempo por lá, por que não? Já para quem está em busca de desvendar Índia espiritual, Tiruchirappalli, assim como o restante do Tâmil Nadu, é uma parada interessante.

Veja também: Roteiros pela Índia espiritual

Onde ficar em Tiruchirappalli

A maior parte dos hotéis fica ao redor da rodoviária e da estação de trens. Foi nessa área que nós ficamos. Clique e veja opções de hospedagem no Booking.com.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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14 comentários sobre o texto “Tiruchirappalli, a Índia que não conhece estrangeiros

  1. Preciso de ajuda…
    Farei 2 trechos que tem escala na Índia, nas seguintes localidades abaixo:

    De Dubai para Maldivas – com escala em: Mumbai – Aeroporto Internacional de Chhatrapati Shivaji BOM
    De Singapura para Dubai – com escala em: Tiruchirappalli – Tiruchirappalli International TRZ

    Nestes locais/aeroportos preciso de visto ou alguma outra documentação??

  2. opa blz??

    Vou para o Sri lanka, e pretendia passar alguns dias no sul da India, vc poderia me dar algumas dicas, estive a ler seu post sobre Tiruchirappall e achei bem interessante visto que não é um lugar turistico…

  3. Nossa, que lugar maravilhoso!
    Vou pela primeira vez na India, mas nao busco lugares turisticos, Busco lugares unicos, locais que eu possa entender a cultura e a vida das pessoas.
    Esse local esta na minha lista.
    Estou adorando o Blog de vcs, lindo, inteligente e nada cansativo de ler!

    acho que vamos nos comunicar muito ate minha viagem ano que vem!!
    obrigada!!

    1. Oi, Solange. Desculpa, só vi seu comentário hoje. 🙁

      Que bom que está gostando do blog. Se precisar de algo é só falar, tá?

      Quando você vai viajar?

      Abraço.

  4. Adorável! Já tá na minha lista, pois já notei que eu canso fácil de lugares turísticos onde tem tanta gente não nativa que perde toda graça.

    Abração de urso pra vocês. E por favor, não parem nunca de escrever! s2

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