“Eu queria viver no mundo encantado da minha timeline”, eu disse uma vez, perto das eleições de 2014. De esquerda que sou desde criancinha, eu julgava ter feito um ótimo trabalho no meu Facebook tirando todos aqueles com visões conservadoras ou que deixavam comentários que eu julgava sem embasamento político (não necessariamente de quem votava diferente de mim). A tarefa foi fruto de uma promessa de ano novo que eu tinha feito meses antes: parar de arrumar treta online, e estava funcionando muito bem. Timeline limpa, eu só recebia as atualizações dos meus amigos que pensavam mais ou menos como eu.
Mas essa limpa me fechou em uma bolha. Eu perdi completamente o contato com as ideias de quem estava “do outro lado”. Embora eu estivesse mais feliz ao não ter que ler comentários que me irritavam, eu também estava mais enterrada em um círculo onde todos concordavam entre si. Era um festival de likes e elogios. Só que era um monte de gente pregando para convertidos.
Na vida real a gente já se relaciona com quem tende a ser mais parecido com gente, que compartilha valores e interesses similares, mas a internet deveria ser um espaço de debate público, um lugar para se conectar com gente com a qual você não se conectaria normalmente e ter contato com conteúdos e informações que não chegariam a você de outra forma.
Só que isso está se perdendo, e não é apenas por causa dos unfollows da vida. As próprias redes sociais, o Netflix, o Spotify e até o Google estão desenvolvendo algorítimos cada vez mais eficientes em mostrar pra gente apenas aquilo que a gente quer ver. E isso é um problema: para o debate, para a democracia, para a construção da nossa visão de mundo e opiniões e para o nosso crescimento pessoal.
O problema se agrava quando temos em conta que 60% dos usuários da rede se informam através das redes sociais. Isso quer dizer que para mais de metade das pessoas, as notícias que chegam até elas são as notícias que elas querem ler, não necessariamente o que é importante saber.
Nesse TED Talk, o pesquisador Eli Pariser, autor do livro “The Fitler Bubble: What the Internet Is Hiding From You”, explica os problemas de vivermos fechados nessa bolha. Para ele, essa tendência pode fazer com que questões relevantes caiam em um limbo de invisibilidade apenas porque não atraem o interesse imediato da maior parte das pessoas.
Além disso, a falta de confronto de ideias que desafiam nossa forma de pensar ajuda a fortalecer posições radicais e criar uma forte polarização entre a população. Sabe quando você sente que a política se tornou uma grande disputa entre torcidas de futebol? Pois saiba que a tal da bolha pode ter contribuído e muito para isso. Quanto mais somos expostos a ideias e opiniões que confirmam a nossa forma de pensar, mais nos agarramos a elas e nos fechamos às ideias contrárias.
Para Pariser, essa polarização tem consequências que ameaçam, inclusive, o processo democrático: “A democracia demanda que as pessoas sejam capazes de se colocar no lugar do outro, mas em vez disso nós estamos mais fechados dentro de nossas bolhas. Democracia demanda que dependamos daquilo que compartilhamos com os outros; em vez disso, estão nos oferecendo universos paralelos, separados”.
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Passar ou não passar nervoso, eis a questão.
hahah Exato!
É perigoso, mas tão confortável 🙁
Sim! ahahah
Parabéns muito bom o artigo e a discussão realmente se faz necessária em tempos de FLA x FLU político.
Obrigada, Fred! 🙂
Natalia ótimo texto. Eu não gosto muito desses novos algorítimos desenvolvidos, porque eles nunca vão realmente saber o que queremos ver. Eu que moro na Austrália perco atualizações de amigos e familiares justamente porque as redes sociais acham que sabem o que quero ver e me mostram coisas que não são relevantes para mim. Porem e o caminho que a nova tecnologia esta seguindo. Adorei o tema!!
Abraços.
Obrigada, Giulia! Também não sou fã dos algorítimos. Detestei as mudanças no Instagram e no Twitter.
Abraços!
Ola Nathy!
Essa é uma otima discussão. Eu sinceramente tenho minhas dúvidas se realmente temos ter acesso a todo momento com opiniões diferentes. Não assisti o vídeo, mas o argumento de que a democracia estaria ameaçada não me parece muito coerente, pois o acesso à informação da forma que existe hoje não existia há poucos anos, porém a democracia está aí há muito mais tempo.
Eu tb fiz essa limpa na minha timeline, na verdade até andei saindo de algumas redes sociais e sinceramente me deu muito mais paz de espírito depois disso. Não penso em voltar atrás.
Acho que opiniões contrárias às nossas sempre aparecerão, seja de amigos, familliarres, colegas de trabalho, meios de comunicação e mesmo redes sociais.
De qlqr forma parabéns por trazer essa discussão à tona!
Abs
Anderson.
Ei Anderson, mas é exatamente porque antes a informação não era selecionada da forma como é hoje que o argumento é válido! A gente se sentava para ver tv e via o que o editor escolhia mostrar pra gente, com base em critérios de noticiabilidade (que podem ser questionados também, claro) e não com base no que a gente queria ver. Eu tento tirar gente ignorante da timeline, gente com visões preconceituosas e tal, mas pessoas que pensam diferente de mim, porém são inteligentes e tem bons argumentos eu gosto de deixar.
Abraços!