Quando eu conheci a Sawa World, ainda não sabia muita coisa sobre empreendedorismo social, apesar de já estar na metade do primeiro semestre do Mestrado. Talvez por isso a professora propôs esse trabalho desde o princípio: conhecer, analisar e avaliar a atuação do empreendimento social no mundo.
A Sawa World é uma organização em Kampala, Uganda. A empresa foi criada por uma holandesa filha de diplomatas que cresceu na Tanzânia. Em seu percurso profissional em organizações de ajuda internacional e governos, ela observou que a dinâmica de combate à pobreza destas instituições era extremamente ineficaz. Ao mesmo tempo, ela percebeu a capacidade criativa com que muitos líderes locais resolvem problemas em diversas comunidades pobres com recursos escassos. Só que ninguém dava ouvidos ao que essas pessoas tinham a dizer sobre os próprios problemas.
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A empresa faz um trabalho fantástico: sua premissa é buscar “soluções que vem de dentro”. Ou seja, o que eles fazem é identificar soluções práticas e efetivas de combate à pobreza criadas por líderes em comunidades pobres. Essas soluções são documentadas em vídeos e cartazes por jovens, os Sawa Youth Reporters, que normalmente também são pobres e desempregados e são contratados pela Sawa World.
O objetivo da confecção desse material de divulgação é explicar o funcionamento de uma solução e divulgá-la em escolas e centros comunitários, onde se encontra o público-alvo da organização, jovens pobres de 17 a 25 anos, para que eles possam ter acesso a essas ideias e se sintam inspirados a replicá-las em suas próprias comunidades.
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De empreendedorismo, todo mundo já ouviu falar e até sonha em empreender. Empreendedorismo é a criação ou recriação de um negócio que gera valor para os empreendedores ou sociedade e que aposta na inovação para aproveitar as oportunidades existentes e mobilizar recursos. O que diferencia um empreendedor de uma pessoa que simplesmente abre um negócio é a capacidade dos primeiros de usar dessas oportunidades para criar mudança. O termo empreendedorismo é muito antigo, usado desde o século 19, mas é nos anos 1950 que um autor chamado Shumpeter identifica o empreendedor como agente de mudança econômica e uma pessoa capaz de mobilizar recursos e ultrapassar riscos para inovar e gerar valor.
O empreendedorismo social segue mais ou menos a mesma linha, mas ao mesmo tempo é muito diferente. Basicamente, essa noção de inovação, de aproveitar as oportunidades, de vencer os desafios, ser criativo, corajoso, essas características estão todas lá. A questão é que a finalidade da mudança, do valor gerado, é outra. Não se trata de acumular riqueza ou lucro, mas sim gerar valor social. Como a ideia para a criação da Sawa World – e muitas outras ideias que surgem mundo afora.
Gregory Dees, professor da Universidade de Duke, explica melhor sobre essa ideia de empreendedorismo social: “combina a paixão de uma missão social com a imagem de uma disciplina de negócios, inovação e determinação normalmente associada, por exemplo, com os pioneiros tecnológicos do Vale do Silício. Estamos num momento certo para abordagens empreendedoras para problemas sociais. Muitos esforços governamentais e filantrópicos acabaram ficando abaixo das expectativas. Grandes instituições do setor social são comumente vistas como ineficientes, inefectivas e pouco responsivas. Empreendedores sociais são necessários para desenvolver novos modelos para o nosso século”.
Dees descreve, ainda, quais são as características ideais dessa figura do empreendedor(a) social, tais como adotar uma missão de criar e gerar valor social, além do simples valor privado; reconhecer e procurar novas oportunidades para servir a essa missão; se empenhar na busca pela inovação, adaptação e aprendizagem; ser ousado e não se limitar aos recursos disponíveis no momento; e ser transparente e responsável sobre as contas e resultados obtidos.
Ou seja, trata-se de pensar iniciativas que não precisam necessariamente ser não-lucrativas. Mas pensar em ideias e projetos que podem funcionar como um negócio, mas que são capazes de gerar mudanças com impactos positivos para a sociedade. Aqui no blog já demos alguns exemplos interessantes, como a Happee, a Visit.org e a GAdventures.
As iniciativas de empreendedorismo social podem cobrar taxas por seu serviços, como qualquer empresa, e também podem buscar doações, necessitar de voluntários e outros recursos. É muito difícil medir esse tal valor social criado, mas, ao mesmo tempo, essa é a missão central dos empreendedores sociais.
O empreendedorismo social pode surgir em qualquer área. E apesar do termo ser relativamente recente, o fenômeno não é. A nossa sociedade sempre conviveu com empreendedores e empreendedoras sociais, que criaram muitas da instituições que hoje nós consideramos comuns.
Se você se identificou com o tema, pode pesquisar mais sobre o assunto por meio de iniciativas que apoiam empreendedores sociais, como a Ashoka Brasil ou a Endeavor. Também é interessante ler esse artigo que as coordenadoras da Ashoka escreveram, com dicas para quem quer se tornar um empreendedor social.
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