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A Grande Pirâmide de Cholula e o povoado mágico

A maior pirâmide do mundo passou quatro séculos fingindo ser montanha. O disfarce era tão bom que Hernán Cortés, o espanhol que com seus exércitos conquistou os povos que viviam no México, não a notou – os conquistadores se limitaram a construir um templo católico em cima da pirâmide, digo, do monte. Foi em 1910, durante obras no local, que a Grande Pirâmide de Cholula foi redescoberta.

E bote grande nisso. São 66 metros de altura e 450 de comprimento, números que formam uma estrutura maior em volume do que a da Pirâmide de Gizé, no Egito. Mais: segundo a BBC, esse é o “maior monumento jamais construído em qualquer lugar, por qualquer civilização, até os dias de hoje“. A pirâmide começou a ser erguida 200 anos antes de Cristo, mas atingiu seu tamanho máximo perto do oitavo século d.C..

Quando os espanhóis chegaram ali, Cholula tinha cerca de 100 mil habitantes, que formavam o segundo maior centro urbano dessa parte do Novo Mundo, atrás apenas de Tenochtitlán, a capital dos astecas e que acabou se tornando a Cidade do México. Cholula tinha mais templos que dias do ano, garantem alguns pesquisadores: os conquistadores espanhóis estimaram que o número chegava em mais de 400!

piramide de Cholula

Parte escavada da pirâmide de Cholula

A chegada dos invasores trouxe o massacre. Era outubro de 1519, quando Hernán Cortés e seus homens foram recebidos em Cholula por moradores desarmados. Os espanhóis acusaram a cidade de conspiração – uma afirmação forjada e para justificar o ataque – e mataram, em três horas, milhares de pessoas. Templos foram destruídos, incluindo várias pirâmides que não se disfarçavam de montes, e a segunda cidade mais poderosa da região caiu, sem o luxo de ter uma chance de defesa. A mensagem era clara e apressou a queda dos astecas, concretizada dois anos depois, com a conquista de Tenochtitlán.

Cortés, que teria dito que Cholula era a mais bonita cidade fora da Espanha, ordenou sua reconstrução, com a transformação de templos pré-colombianos em igrejas católicas. Hoje, Cholula, que na realidade é formada por duas cidades gêmeas e conurbadas – San Andrés Cholula e San Pedro Cholula – guarda pelo menos quarenta grandes igrejas, além de uma centena de capelas menores.

Cada um dos 18 bairros das duas Cholulas tem seu santo padroeiro. Museus, ruas de casinhas coloridas, casarões e prédios coloniais completam a lista de atrações de uma região que está a apenas 120 quilômetros da Cidade do México e a menos de 10 de Puebla. Juntas, as duas Cholulas tem o título de Pueblo Mágico do México, nome dado para um conjunto de cidades especiais e que recebem proteção e destaque maior pela Secretaria de Turismo.

vulcão de cholula

Cholula, com vulcão ao fundo, vistos a partir da pirâmide

A pouca distância torna Cholula um típico destino de bate-volta, seja a partir da Cidade do México, numa viagem que inclui também uma rápida passagem por Puebla, ou seja usando Puebla como base para conhecer Cholula em uma manhã. Foi isso que eu fiz: passamos um dia em Puebla, dormimos na cidade e acordamos cedo no dia seguinte para conhecer Cholula. Após o passeio, retornamos para a Cidade do México.

Por mais que dê para conhecer o básico de Cholula nesse tempo, estou convencido de que o ideal é passar pelo menos duas noites na região, metade do tempo em Puebla e a outra parte em Cholula, que é sede da Universidad de las Américas. Os estudantes fazem com que uma cidade habitada há séculos tenha ambiente jovem e vida noturna animadíssima, a ponto de atrair moradores de Puebla. Quem visita Cholula no esquema bate-volta vai embora quando os bares começam a abrir.

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O que fazer em Cholula

A Grande Pirâmide de Cholula também é chamada de Tlachihualteptl, palavra do povo cholulteca que quer dizer “montanha feita pelos homens”. No alto dela está, há quatrocentos anos, a Igreja de Nuestra Señora de los Remedios, padroeira de Cholula.

Pirâmide, igreja e vulcão, o Popocatepetl, formam um dos cartões-postais mais conhecidos do México, a principal imagem usada pelo governo para divulgar essa parte do país. Como a estrutura da pirâmide ainda se parece um morro e nunca foi totalmente escavada, já que a igreja em seu topo impede isso, muitos turistas chegam ao local sem saber de seu grandioso passado pré-colombiano.

onde ficar em Cholula

Santuário, que está no topo da pirâmide (Foto: Cristobal Garciaferro, Shutterstock)

Os dois passeios imperdíveis envolvem o cartão-postal mais importante de Cholula e podem ser feitos em poucas horas. Primeiro, suba a escadaria até a Igreja de Nuestra Señora de los Remedios. A vista da cidade e dos arredores compensa o esforço – em dias de céu limpo você irá avistar a cidade cercada por quatro vulcões, o Popocatepetl, o Iztaccíhuatl, o Malinche e o Pico de Orizaba. A cidade, com suas casinhas coloridas e vários templos, é outro atrativo da vista. A entrada é gratuita.

cholula méxico

A Igreja de Nuestra Señora de los Remedios já foi destruída algumas vezes, por terremotos e raios. O tremor de 2017 derrubou as torres do templo, como mostra um vídeo-selfie bizarro feito por um turista que estava no local no momento do terremoto.

Quando se cansar da vista, desça as escadarias e busque pela entrada da Pirâmide. Você passará por um túnel longo e escuro até chegar ao sítio arqueológico, que foi escavado a partir do começo do século 20. A entrada custa 70 pesos e o local está aberto todos os dias, das 9h às 18h. Por ano, Igreja e Pirâmide recebem pelo menos 220 mil visitantes. O mês mais concorrido é setembro, quando ocorre a festa de Nossa Senhora dos Remédios.

o que fazer em Cholula

Depois, é hora de caminhar pela cidade de casinhas coloridas. Siga pela Avenida Morelos até a Plaza de la Concordia, o Zócalo de Cholula. Ali estão 46 pórticos, construídos a partir de 1573, além da Paróquia de São Pedro.

onde ficar em Cholula, México

Basta seguir pela mesma rua para encontrar o Mercado Municipal, um dos mais interessantes que conheci no México. Se passar por ali, prove a tortilla de cor azul que leva óxido de cálcio, a cal, utilizada na pintura de casas e na produção de argamassa.

A Iglesia de Santa Maria Tonanzintla, o Templo San Francisco Acatepec, o Ex-Convento de San Gabriel, construído no local onde antes ficava o Templo de Quetzalcoatl, o principal da cidade, são outras atrações. Depois de caminhar sem rumo, procure um bar com terraço, peça uma bebida e veja o dia acabar, colorindo de laranja os muitos templos da cidade.

cholula pontos turísticos

Como chegar e dicas de hospedagem

Chegar em Cholula a partir de Puebla é fácil e dá para ir de ônibus urbano, com passagens por seis pesos (menos de R$ 2). Várias linhas fazem o trajeto. Pergunte na recepção do hotel qual a melhor opção para você.

cholula, México

Outra alternativa é um trem turístico ligando as duas cidades e que faz o trajeto em 40 minutos. O embarque em Puebla é no Terminal Ferroviário (11 Norte y Esq. 18 Poniente), enquanto em Cholula a estação está aos pés do Santuario de Nuestra Señora de los Remédios. São três ou quatro saídas por dia em cada direção e a passagem custa 60 pesos (cerca de R$ 12). Por fim, dá para ir e voltar de Uber ou Cabify. A corrida custa em torno de 100 pesos (R$ 20). É o método mais prático, principalmente para quem viaja em grupos ou tem pouco tempo disponível.

Se resolver passar uma noite em Cholula, fique próximo ao Santuario de Nuestra Señora de los Remedios. Por ali, duas boas opções são o Estrella de Belem e o Xoxula by Inmense.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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