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A revolução de RuPaul’s Drag Race

“The time has come for you to lipsync for your life!” (Chegou a hora de você dublar pela sua vida!). Calma, calma, essa não é uma ameaça de morte meio torta de um ditador gay (mas poderia, se a ditadura gay existisse!). Se essa frase não te diz nada, seja você L, G, B, T, Q, I, ou hétero, vou te pegar agora pela mão e guiar por uma das mais importantes referências pop e de resistência gay de 2018. Sim, eu disse hétero. Está cheio de hétero histérico pela corrida maluca de perucas.

Hoje à noite começa uma nova temporada do reality show RuPaul’s Drag Race no canal pago VH1, comandado pelo icônico RuPaul Charles. Você já deve ter visto a cara dele, montado ou desmontado, ou ouvido memes que ele criou, tipo a frase que encerra cada episódio: “If you don’t love yourself, how in the hell you gonna love somebody else?” (Se você não se amar, como conseguirá amar alguém?). Acompanha um amém em resposta, vá treinando.

Só que Mamma Ru, como é chamada pelas aspirantes à coroa, não começou a carreira com o reality. O extenso currículo do ator californiano começou em Atlanta, se apresentando em bares e boates. Depois da mudança para Nova York, em 1987, explodiu: hits dos anos 1980 como Supermodel, filme do Spike Lee, duetos com Elton John, amizades e colaborações com figuras como Diana Ross, Cher e Oprah Winfrey. Drags são mesmo a cara de Nova York. Mas RuPaul, assim como Divine (dá um Google nessa diva) e todas as drags do mundo, se alimentavam do underground, da subversão de nicho, com uma camada de cult adquirida com o tempo. Pelo menos até 2009.

Depois de um período longe dos holofotes, ele ressurge então com o reality RuPaul’s Drag Race, uma divertida competição entre drag queens para receber o título de herdeira do legado dele (é assim que se refere às vencedoras). Ainda independente, buscando sua linguagem, meio toscão, já faz barulho suficiente para conseguir um contrato com um canal de televisão e sair dos porões para virar atração principal.

Nove temporadas mais tarde (mais duas All Stars, só com competidoras de outras temporadas), tanto RuPaul quanto suas pupilas são verdadeiras estrelas pop: somam centenas de milhares de seguidores no Instagram, lotam shows de Tóquio a Tel Aviv, comandam cruzeiros temáticos, vendem produtos licenciados, gravam músicas que animam baladas gays, lutam por direitos da comunidade.

Hoje à noite, e em todo novo episódio da temporada, bichas ansiosas do mundo inteiro se reúnem em bares com telão no melhor estilo Copa do Mundo para assistir, amar, odiar, torcer. Na final da nona temporada em 2017, uma multidão colorida se espremia na Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, para ver Sasha Velour vencer (há quem discorde da decisão até hoje, é mesmo o futebol das guei).

Para quem duvidar do poder drag: a sensação do momento no Brasil, Pabllo Vittar começou a se montar no Maranhão por influência do reality. Pabllo, aliás, é atualmente a drag com o maior número de seguidores no Instagram no mundo, e há rumores de que será jurada em um episódio nesta nova temporada. Está aí um exemplo da resistência que o show promove. Se ele não existisse, provavelmente Pabllo não teria descoberto sua personagem e seria engolido pelo preconceito dos rincões do Brasil. RuPaul’s Drag Race traz à luz artistas, performers, cantores, os ensina a se orgulhar de suas trajetórias e a levantar a cabeça.

Mas tudo é feito com leveza. Uma das receitas do sucesso do show é nunca se levar a sério, saber ri de si mesmo (segundo Ru, algo vital para drag queens e… por que não, para a vida). O próprio título de “America’s Next Drag Superstar” soa caricato ali — ainda que as vencedoras tenham de fato virado celebridades. As quatro qualidades que ele determina como vitais para o sucesso de uma drag são Charisma, Uniqueness, Nerve and Talent (Carisma, Singularidade, Força e Talento), que formam a palavra “cunt”, um insulto chulo em inglês. Não tem como levar a sério. Piadas rápidas, humor ácido, desafios ridículos, referências pop: o que mais um gay poderia querer nesta vida?

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Victor Gouvêa

Meu pai sempre me disse que a melhor coisa da vida era viajar. Eu acreditei. Misturei as formações em Turismo e Jornalismo para viver de viajar e contar tudinho. Parti de uma cidadela de 30 mil habitantes para morar em SP, EUA e Alemanha, visitar mais de 40 países (e contando) e acumular as histórias mais malucas.

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3 comentários sobre o texto “A revolução de RuPaul’s Drag Race

  1. Um artigo bem fora do tema do blog. Nada contra esses temas específicos do mundo gay que nós heteros nem fazemos ideia do que sejam, mas o blog é de viagem e esse é um texto para quem tem interesse nesse assunto e teoricamente vai procurar em locais específico. Foquem no tema, por favor, para continuar sendo um dos melhores blogs sobre viagem.

    1. Oi, Herson. Tudo bem? Espero que sim. 🙂

      O 360 nunca se propôs a ser somente um blog de viagem. Dê uma olhadinha rápida só nos últimos textos publicados, que estão na home, e você verá isso: temos um texto sobre o massacre de Acteal, no México, e outro sobre o náhuat, em El Salvador. Dois textos nada turísticos, que nada falam de viagens.

      E, falando de cabeça, consigo pensar em vários textos que já fiz que nada tem a ver com o tema viagem: já escrevi sobre futebol e minha relação com meu time do coração, sobre meu cachorro, sobre crise dos 30 anos, sobre ser pão-duro, sobre religião, tatuagens, fotografia e personagens históricos. E também sobre livros, filmes e séries de TV. Inclusive, alguns dos textos que mais gostamos de escrever – e que recebem mais atenção dos nossos leitores – não falam de viagens diretamente, embora todos falem do tema central: tudo que abre nossa cabeça e mostra outras formas de pensar, de ver o mundo, cumpre o objetivo do 360.

      Enfim, o texto do Victor está completamente dentro da nossa linha editorial. 🙂

      Abraço e obrigado pelo comentário.

    2. Oi Herson,
      Acho que a resposta do Rafael já resume bem uma parte do que você levantou, mas eu gostaria de lembrar como autor do texto que ainda vejo também conexão com viagens. Menciono a cena drag de NY que talvez um leitor não conheça e se interesse em explorar em uma próxima visita à cidade. Também comento sobre a exibição dos episódios em bares, que pode instigar a assistir em uma próxima viagem (elas acontecem de Berlim a Buenos Aires, eu literalmente já me reuni com caras gays nessas cidades para torcer pela minha concorrente favorita). Abraços

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