Sabe aquela ferramenta do Facebook que te esfrega na cara alguma recordação de anos atrás? Às vezes é um momento gostoso, uma piada boa, uma memória carinhosa. Mas, de vez em quando, a gente é confrontado com um absurdo que nossa versão anterior disse e bate uma vergonha alheia de si mesmo (isso existe?). No presente, olhar para trás pode gerar um constrangimento, mas também a satisfação de perceber que, ufa, melhoramos!
Dia desses o Facebook me lembrou de um impropério que eu falei em 2010 (um século atrás, dada a velocidade da informação hoje em dia). Eu disse que depois de finalmente me assumir gay e viver plenamente minha sexualidade, descobri que a bissexualidade era só um estágio passageiro. Quanta asneira, moleque! Foi assim pra você, não é assim para todo mundo. Pensando em ampliar a visibilidade dessa coluna aos outros membros da comunidade LGBTQI+, resolvi convidar os B a botar uns pingos nos is de uma vez por todas. Conversei com amigos e amigas bissexuais e trago-lhes esclarecimentos sobre essa cor do arco-íris.
Imagem: Nadia Snopek – Shutterstock
1. Bissexuais não são homossexuais enrustidos
Durante a descoberta da sexualidade, muitos homossexuais se dizem antes bissexuais como forma de amenizar a saída do armário. Ou como zona de transição. O fato é que, sim, muitos gays acharam que eram bissexuais e mais tarde se entenderam homoafetivos mesmo. Mas isso não quer dizer que todos os bissexuais estão em processo de se descobrirem gays ou lésbicas.
2. Não é uma fase — mas pode ser
A sexualidade nem sempre é preto no branco. Há heterossexuais, por exemplo, que demonstram interesse por algumas pessoas do mesmo gênero. A confusão e a curiosidade podem fazer com que a bissexulidade, às vezes, seja só uma fase. Mas, seja temporária ou permanente, cada pessoa é que sabe de si própria — e cabe aos outros respeitar. Também não é porque estou comprometida com alguém que eu “fiz minha escolha definitiva” (e “virei gay”/”virei hétero”). Isso só quer dizer que eu escolhi uma pessoa, independentemente do gênero dela. Eu continuarei sentindo atração pelos dois gêneros, mesmo que eu nunca mais saia com outra pessoa.
3. Não nos identificamos com os homos nem com os héteros
Ser bissexual não é ser metade homossexual e metade heterossexual. É uma orientação sexual independente, com suas questões e experiências próprias e diversas que devem ser levadas em consideração separadamente. Por isso temos uma letrinha só para a gente.
4. Às vezes, “bissexual” é usado como um termo guarda-chuva
Há quem defina a bissexualidade como atração por dois ou mais gêneros. No entanto, existem outros termos específicos para isso, como pansexualidade (atração independente de gênero). Portanto, vez ou outra a sigla B se presta a termo guarda-chuva para abarcar outras sexualidades que vão contra a ideia de se relacionar com apenas um gênero — mas há termos específicos para categorizar cada orientação.
5. Não somos (necessariamente) promíscuos
Existe gente que já transou com mais pessoas do que consegue contar. E existe gente recatada e do lar. Ser bissexual não é indicativo de nada. Não significa que a quantidade de pessoas com quem você vai se relacionar dobrou, simplesmente porque a gente não sente atração por qualquer um.
6. Não existe preferência por um gênero
Cada pessoa é diferente. Algumas pessoas podem se relacionar mais com um gênero do que com o outro; em alguns casos é bem equilibrado; às vezes ela se relaciona praticamente só com um deles. As circunstâncias geralmente falam mais alto. Se eu gosto de sorvete de chocolate e de sorvete de morango, provar mais de um ou mais de outro não vai fazer com que eu deixe de gostar dos dois.
7. A vida não é um filme pornô
“Você não quer convidar uma amiga sua para a cama com a gente?”. Eis uma proposta comum, principalmente vinda de homens heterossexuais para as meninas bissexuais. Só porque uma mulher é bissexual, não significa que ela está aberta à possibilidade de fazer sexo a três. Parem de fantasiar o que vocês veem na pornografia. Mas ei, conversem: de repente ela quer que você traga um amigo seu. 😉
Bandeira do orgulho bissexual. Crédito: Creative Photo Corner – Shutterstock
8. A monogamia não é um obstáculo para a bissexualidade
Estar em um relacionamento monogâmico não significa que existirá um momento em que o bissexual terá uma vontade incontrolável de transar com outro gênero. Não é como se estivessemos incompletos dentro de uma relação exclusiva. E ser bissexual não significa que a gente vai efetivamente trair. Afinal, em uma relação monogâmica heterossexual a galera não sai traindo só porque existe gente disponível do sexo oposto.
9. Existem pessoas transexuais bissexuais
Não é porque alguém é transexual que automaticamente irá se relacionar com pessoas do gênero oposto ao dela. Identidade de gênero (como a pessoa se vê) é diferente de orientação sexual (por quem ela se atrai). Existem pessoas trans que se relacionam com mais de um gênero.
10. O preconceito é um fato
Normalmente somos afetados pela homofobia que também atinge os homossexuais. Mas é fato que bissexuais sofrem um tipo peculiar de preconceito e incompreensão, chamado bifobia — fora, mas também bastante presente dentro da comunidade LGBTQI+.
Imagem destacada: Delpixel – Shuttestock
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tudo bem? gostei muito do seu site, parabéns pelo conteúdo. 😉