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Jovem para ser velha e velha para ser jovem

– Quantos anos você tem?

– 29, respondi.

– Nossa, sério? Achei que você era bem mais velha!

A surpresa da egípcia com a minha idade também me surpreendeu. E aos argentinos que estavam conosco. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, eles protestaram imediatamente:

– Você está louca? Ela parece muito mais nova.

E eu comentei que realmente essa era a primeira vez na vida que alguém me julgava mais velha do que realmente sou, por conta da minha cara de menina.

E então a egípcia teve a chance de explicar a afirmação anterior:

– É que você contou tantas histórias, tantos lugares e viagens, que achei que era mais velha para já ter vivido tudo isso.

E foi assim, meus queridos, que eu recebi o melhor elogio que alguém poderia ter feito para mim, ainda que de forma não intencional.

luiza e esfinge cairo egito

Há algumas semanas meu ano virou. Comecei a quarta década da minha vida. Deixei de vez de ser o que convenciona-se no Brasil chamar de jovem. É isso, cheguei aos 30.

Não que para mim faça tão grande diferença, já que volta e meia eu dizia que tinha 30 para simplificar uma conversa. Ou porque eu já me “sentia” com 30, seja lá o que isso signifique. Acho que pelo fato de eu ser uma das últimas do meu grupo de amigos a alcançar essa idade.

É engraçado porque, para algumas pessoas, eu ter 30 anos e não ser casada, com filhos, casa e carro é um sinônimo de fracasso. Para alguns amigos, às vezes dois ou três anos mais velhos, eu sou muito jovem para já ter viajado tanto e ter minha própria empresa. E, para gente como a Relações Públicas egípcia, só pessoas mais velhas do que eu poderiam ter tido minhas experiências.

Eu me lembro do meu aniversário de 22 anos. Quando eu estava relativamente desesperada com o futuro. Eu pensava: daqui a pouco eu vou ter 30 anos e não vou ter conquistado nada. Eu já tinha, dois anos antes, ido morar nos Estados Unidos por três meses num intercâmbio em que trabalhei no McDonalds. E, cerca de um ano depois, embarquei para a Índia e mudei minha vida. Eu não tinha muita noção do que era ter 30 anos naquela época, mas achava que era algo assustador.

Hoje, percebo que é apenas um número e parte do ciclo da vida. Outro dia, conversando com uma amiga de 38, ela reclamou das expectativas que as pessoas tinham com ela: “o que será que esperam de uma mulher da minha idade?”. Essa minha amiga, que faz aniversário no mesmo dia que eu, é “mais jovem” que eu em praticamente todos os sentidos: é mais saudável, mais animada, mais extrovertida. Exceto na maturidade e nas expectativas bizarras que o resto das pessoas parecem ter por causa da data impressa na carteira de identidade.

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No fim das contas, o que eu diria para aquela menina desesperada de 22 anos é que não importa a sua idade e sim as escolhas que fazemos pelo caminho, as experiências que adquirimos e o que aprendemos com elas. E que, principalmente, a ideia de que se é jovem demais ou velha demais para qualquer coisa é só um limite imposto geralmente pelos outros, do qual certamente podemos – e devemos – nos libertar.

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Luiza Antunes

Sou Jornalista e Escritora, já escrevi mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Atualmente moro na Inglaterra, quando não estou viajando. Já tive casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitei mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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26 comentários sobre o texto “Jovem para ser velha e velha para ser jovem

  1. Olá Luiza!

    Ótimo texto,como sempre. Tenho 43 anos, sou casada, tenho carreira, mas não tenho filhos, uma escolha que fiz . A sociedade não entende e tem a cobrança ( quem cuidará de vc na velhice ?rsrs , como ter filhos fosse garantia de cuidados na terceira idade). Sempre viajo e sou muito feliz com a vida que tenho, não me importo nem um pouco com oq os outros falam e pensam. O importante é ser feliz, se sentir completo e satisfeito com a vida.

  2. Obrigado por esse texto! Depois que atravessei a barreira dos 25, comecei a ter essa cobrança de que você “tem que dar certo” até os 30 e isso tem me feito um mal danado (psicologicamente). Saber que tem pessoas que encararam isso numa boa e perceberam que o melhor tempo é o tempo que você definitivamente faz algo, eu me sinto mais “em casa”. Além de cada um ter seu tempo, os tempos hoje são outros, logo, precisamos ressignificar as coisas… inclusive de que você “só dará certo até os 30”.

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