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Destinos aquáticos de um viajante que não sabe nadar

Sabe aquela história de que sua vida inteira passa diante dos seus olhos quando a morte se aproxima? No dia em que eu quase me afoguei, descobri que isso é mentira. Mas é verdade que o tempo passa de um jeito diferente, porque em menos de dez segundos debaixo d’água, deu tempo de eu pensar em mil coisas, que foram desde “tá, boiar não deve ser difícil, bora tentar”, passando por “não deu certo, qual o plano B?” até chegar em “cuidem do meu cachorro. Até a próxima encarnação!”.

Eu não sei nadar. E essa falta de habilidade já me colocou em situações bem inconvenientes. O episódio do parágrafo anterior, numa cachoeira da Chapada dos Veadeiros, foi apenas o mais recente. E teria sido o último, caso eu não tivesse sido salvo pelo Rafa (um dos autores deste blog).

Décadas antes, outra cachoeira – na Serra do Cipó, em MG – quase foi cenário de uma situação parecida. Escorreguei na beirada do rio perto da queda d’água e não sei direito como não fui levado pela correnteza. Dizem que até hoje uma pedra na qual me agarrei tem as marcas das minhas unhas.

Acho água um negócio lindo de se ver. Acho lindo piscina, rio, cachoeira, mar. Até a cidade mineira onde fui criado leva lagoa no nome. Mas prefiro ver de longe mesmo. Devo essa fobia à minha mãe, que já perdeu parentes num acidente de barco e sempre foi muito resistente à ideia de ver os filhos entrando na água. Não fiz natação na infância e só fui conhecer o mar aos 19 anos, numa viagem solitária até o litoral do Espírito Santo.

Com o tempo, me acostumei com a ideia de que eu e a água não formamos um bom casal. Eu não sei mergulhar nesse relacionamento e ela parece instável demais para eu ter vontade de me jogar. O problema é que as pessoas não aceitam bem a ideia de ir à praia e não entrar no mar (coisa que frequentemente faço, desde aquelas miniférias em Vila Velha).

E olha que eu tentei. Um dia, no mar do Parque Tayrona, em pleno Caribe Colombiano, um conhecido ficou indignado com essa minha falha de caráter e tentou me ensinar a boiar. Afinal, ali do ladinho, em Taganga, davam cursos de mergulho e esse seria um ótimo jeito de aproveitar os últimos dias de férias. Ou ele não era o melhor dos professores ou eu era um péssimo aluno, porque não deu certo.

O Mar do Caribe não é exatamente o melhor lugar do mundo para se aprender a nadar.

Não saber nadar já me fez perder o bonde da diversão várias vezes. Deixei de lado uma visita às 48 quedas d’água de Akame, no Japão; desisti de me jogar em um toboágua colossal no Beach Park; frustrei meus amigos ao me recusar a cruzar um túnel submerso numa caverna no Petar, no sul de São Paulo; e não mergulhei no mar na parada do passeio de barco em Florianópolis. Na última vez que fui ao Rio de Janeiro, nem sequer encostei o pé na água.

Mas uma hora isso vai mudar. Na mesma viagem à Colômbia em que eu não consegui aprender a boiar, conquistei duas enormes vitórias relacionadas à água. Na primeira, atravessei um rio com água corrente fortíssima batendo no ombro para chegar até uma parte mais bonita da praia de Palomino. Na segunda, cheguei vivo ao final do trajeto de um bóia-cross, passando por momentos tensos.

Nenhuma das duas envolveu estar, de fato, submerso. Mas é um começo.

Eu e a água: um dia a gente ainda vai se dar bem.

Acho que minha relação com a água reflete um pouco um jeito de levar a vida. Gosto mais de ficar no raso, onde não falta o ar e meus pés encostam no chão. Mas está nas minhas metas de 2019 aprender a não afundar (Também estava na lista de 2018, mas deixa pra lá). Talvez eu até faça um cruzeiro este ano. Acho que passou da hora de perder o medo de navegar. Na água e na vida.

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Otávio Cohen

Cresci lendo muitos livros e assistindo a muitos filmes. Deu nisso: hoje vivo de contar histórias. Por coincidência, algumas das melhores acontecem longe de casa. Por isso, de vez em quando, supero o medo de avião e a saudade do meu cachorro para ir em busca de uma nova história.

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