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Tradição e história em uma visita a Oaxaca: roteiro e dicas de viagem

Na penumbra dos corredores do Mercado Benito Soares, uma senhora usando um huipil, a roupa tradicional das indígenas oaxaqueñas, vende gafanhotos fritos a granel. Na banca da frente, anunciam a promoção do queijo de Oaxaca, o mais famoso do México: comprando dois, leva três. Nas ruas calçadas com paralelepípedos e decoradas com casinhas coloridas, a enorme quantidade de gravuras artísticas e de protesto evidenciam a vocação da cidade para a cultura urbana. E, vez ou outra, somos arrebatados pelo aroma de chocolate que se desprende do cacau sendo moído na hora.

Oaxaca de Juaréz é a simpática capital do estado mexicano de Oaxaca. Localizada nas entranhas da Sierra Madre, a 460 km da Cidade do México, a cidade se destaca por ser também um polo gastronômico famoso por servir a melhor comida do país e uma guardiã de sua cultura e história, ao mesmo tempo cosmopolita e intensamente regional.

Oaxaca, México

Não é raro escutar o zapoteco, a língua dos indígenas que habitam a região há séculos e que construíram cidades enormes e complexas que hoje podem ser visitadas como sítios arqueológicos, entre as barracas dos mercados, assim como outros idiomas falados no estado. Oaxaca é o estado mexicano com maior diversidade de línguas e povos e isso fica evidente nas ruas e na cultura da cidade.

Os bordados de flores típicos estão por todas as partes e colorem as vestimentas das pessoas. Visitar Oaxaca é entrar em contato com o México em seu estado mais puro, de tradições preservadas, paisagens encantadoras e orgulho histórico, mas sem medo de se abrir para o novo.

Oaxaca, México

Viajar para o Oaxaca: o que fazer por lá

Centro Histórico de Oaxaca

Embora tenha três milhões de habitantes, o centro de Oaxaca é pequeno e vai te dar a impressão de estar em uma cidade do interior. Você não precisa de mais que um dia para percorrer as ruas e casarões históricos e tudo pode ser feito a pé. Ali, os principais pontos de interesse são a praça do Zócalo, o ponto central para o qual todas as ruas parecem convergir e onde reúnem-se vendedores de comida e souvenir, turistas e moradores da cidade. Tive sorte na minha visita: o Zócalo se transformou em um grande palco para apresentações de danças típicas da região por causa das Fiestas Decembrinas, comemoradas na cidade todo mês de dezembro.

Zócalo de Oaxaca

Dança típica de Oaxaca

A dois quarteirões dali fica o Mercado Benito Juarez, no qual você poderá encontrar tudo o que é local, de artesanato às deliciosas comidas típicas da região. Na mesma rua, um quarteirão abaixo, está também o Mercado 20 de Noviembre, um bom lugar para provar as tlayudas, um prato típico do estado que consiste em uma tortilla grande recheada com feijão, queijo, mole e o que mais a sua imaginação mandar – é uma ótima opção barata e regional de almoço.

A 10 minutos de caminhada do Zócalo está o Templo de Santo Domingo, uma imponente igreja barroca que antigamente funcionava como convento. Diversos feirantes montam um mercado informal na rua lateral do templo e ali também há bares, cafés, restaurantes e galerias de arte. Na lateral oposta, onde antes ficava a entrada do convento, funciona o Museu de Culturas de Oaxaca, um museu enorme que conta a história e as tradições dos diversos povos que habitavam a região há séculos, bem como a conquista espanhola e como estão essas populações hoje em dia. Dá para passar a tarde ali dentro.

Bem pertinho, voltando em direção ao Zócalo, fica a Casa de Artesanías de Oaxaca, uma cooperativa de artistas da região que vendem artesanato típico local. Outro lugar que vale a pena visitar é o MACO, um pequeno museu de arte contemporânea com artistas locais.

Catedral de Oaxaca

Templo de Santo Domingo

Mercado de artesanato de Oaxaca

A vida noturna de Oaxaca é também é bastante celebrada. A cidade é, além de tudo, um polo universitário, por isso não faltam opções. Uma das atrações boêmias mais aclamadas da cidade é participar de uma cata de mezcal, uma degustação desse destilado tipicamente mexicano que tem 75% da produção concentrada no estado. Diversos bares no centro histórico de Oaxaca anunciam as catas em letras garrafais na entrada. O site especializado Mezcologia indicia o In Situ (Calle Reforma No. 506) e a Mezcaloteca (Calle Reforma No. 506), ambos no centro.

Se você está no México durante o dia dos mortos, Oaxaca é uma das melhores cidades para se comemorar a data, já que a festa ali ainda é bastante tradicional e um evento muito difundido na cultura local.

Centro histórico de Oaxaca

Comidas típicas: o que comer em Oaxaca

Nenhuma viagem a Oaxaca está completa se você não mergulhar nas delícias gastronômicas do estado. E como eu sou mineira, vou começar pelo queijo oaxaqueño, também conhecido como quesillo, que é considerado o melhor do país. O queijo é ingrediente de diversos pratos típicos da região, como as já citadas tlayudas, que você definitivamente precisa provar. Também dá para comprar a peça inteira nos mercados e levar para o hostel para preparar sanduíches ou comer como aperitivo.

queijo Oaxaca

O chocolate oaxaqueño também é bastante famoso mundo afora. Há diversas chocolaterias espalhadas pela cidade e, em muitas delas, dá para ver o cacau sendo moído na hora e misturado a açúcar e canela. Sim, canela. Essa é a marca registrada dos chocolates dali. Embora possa ser comido, o chocolate oaxaqueño é feito mesmo para ser bebido. É só dissolver o tablete em água ou leite. É bem fácil de ver essa preparação sendo servida no café da manhã nos mercados da cidade.

Chocolate de Oaxaca

chocolate de oaxaca

Embora tenha consumo difundido em outros países, Oaxaca também é guardiã de outra cultura gastronômica bastante típica do México: o hábito pré-colombino de comer insetos e que resiste até hoje. Ali, o mais comum é o consumo dos chapulines fritos, pequenos insetos da família dos gafanhotos, temperados com sal e limão e servidos como petisco ou como opção de recheio de tacos e tlayudas.

Chapulines - México

O mole oaxaqueño é um molho muito consumido por ali também e que pode servir de complemento para diversos pratos de carnes e vegetais. É preparado a base de milho, pimentas e especiarias, além do ingrediente-especial-nem-tão-secreto-assim: chocolate. Pode parecer estranho, e realmente o é, já que o mole oaxaqueño não agrada a todos os paladares, mas certamente é uma experiência gastronômica imperdível para quem está de passagem por ali.

Leia também: Viscoso, mas gostoso! O hábito de comer insetos no México

Atrações nos arredores de Oaxaca

Oaxaca também é ponto de partida para diversos bate-votas na região, motivo pelo qual é aconselhável passar pelo menos quatro dias na cidade. Todas as atrações podem ser feitas por conta própria ou contratando agências de viagem. Na própria praça do Zócalo você vai encontrar diversos vendedores oferecendo o passeio, por isso esse é um bom lugar para negociar roteiros e preços.

Monte Albán

Vista as ruinas arqueológicas de Monte Albán, em Oaxaca

Principal centro político, econômico e religioso do Vale de Oaxaca, Monte Albán foi a capital do império zapoteca por muitos e muitos anos e é a mais antiga cidade pré-colombiana em todo o México e América Central. Acredita-se que em seu auge chegou ter 35 mil habitantes e seus limites eram tão extensos quanto o da própria Oaxaca.

Hoje, dá para visitar as ruínas de Monte Albán e ter um vislumbre de toda essa magnitude. O sítio arqueológico está a apenas 10 km de Oaxaca e é acessível através de ônibus que saem de hora em hora de frente do Hotel Rivera de Angel (Calle Mina, 518) por $70 pesos (R$ 15, ida e volta). Um táxi do centro até lá deve sair em torno de $300 pesos (R$60), e os passeios com agência entre $150 e $300 pesos, ingressos das atrações à parte e tempo de visita limitado. A Zona Arqueológica de Monte Albán abre todos os dias, das 8h às 17h. A entrada custa 70 pesos (R$ 15) e inclui visita ao museu. Leia nosso post completo com a história e dicas para visitar a zona arqueológica de Monte Albán.

Mitla

Sitio arqueológico de Mitla, Oaxaca

Após o declínio de Monte Albán, Mitla assumiu o posto de centro político e religioso da cultura zapoteca, chegando a ter 10.500 habitantes em seu auge, que durou até a chegada dos espanhóis. O lugar funcionava como a capital de muitas das comunidades assentadas no vale de Oaxaca e na Sierra Madre. As ruínas de Mitla se destacam das outras no México por conta dos seus mosaicos e cores que não encontram semelhantes em nenhuma outra parte do país. O passeio é perfeito de combinar com a visita às piscinas naturais de Hierve el Água.

Para chegar lá é preciso pegar um um ônibus que passa na Avenida 175. Eles vêm com um cartaz anunciando Mitla logo na frente e custam $20 pesos. Do lado de fora das ruínas há um bonito mercado de artesanato com diversos produtos feitos com o bordado típico da região. Leia nosso post completo com dicas para visitar o sítio arqueológico de Mitla.

Hierve el Água

Hierve el Água

A 70 km de Oaxaca, Hierve el Água é um conjunto de formações rochosas de mais de 200 metros de altura e que se assemelham a cachoeiras que ficaram paradas no tempo e piscinas naturais com borda infinita, com direito a vista para as montanhas que se erguem ao redor.

Para chegar lá é preciso subir em uma das caminhonetes que ficam paradas na entrada do povoado de Mitla por $50 pesos (e por isso o passeio casa tão bem com o sítio arqueológico). Há uma taxa de mais $25 pesos para entrar. Veja nosso post completo sobre como visitar Hierve el Água.

Árvore do Tule

É a árvore com o tronco mais largo do mundo, com 58 metros de diâmetro e 2.000 anos de história. Essa anciã fica no povoado de Santa Maria del Tule e pertence a espécie dos ahuehuetesum tipo de cipreste gigante. Muitos tours para as ruínas, em especial Mitla, incluem uma parada para ver a árvore de Tule.

Visita a uma fábrica de Mezcal

Venda de mezcal artesanal no México

Além de participar de uma degustação de mezcal, você também pode visitar uma das comunidades nos arredores de Oaxaca para ver como a bebida é produzida. O mezcal tem uma diferença com relação à tequila, que é feita em escala industrial: é produzido apenas por pequenos produtores, utilizando técnicas tradicionais, e muitos deles são de famílias indígenas da região. Por isso, visitar uma destilaria de mezcal e comprar desses produtores é uma forma de preservar essas técnicas e favorecer a fabricação artesanal da bebida, que corre risco por causa do aquecimento do mercado, como já expliquei nesse post sobre a arte de fabricar mezcal.

Esse passeio também pode ser contratado com as agências de Oaxaca ou feito por conta própria, dirigindo ou tomando um táxi até uma dessas fábricas. Uma das mais visitadas é a El Rey de Matlatán.

Onde ficar em Oaxaca

Não há motivos para se hospedar fora do centro de Oaxaca. É ali que tudo acontece e também onde estão localizados a maior parte dos hotéis da cidade. Veja aqui dezenas de opções de hospedagem no centro de Oaxaca.

Eu me hospedei noo Hostal Mixteco Naba Nandoo, uma pousada confortável, mas simples, com atmosfera zen e cuidado com a limpeza. Com quartos simples e preços econômicos que vão de US$13 para o quarto individual, US$17 o duplo e US$26 o duplo com banheiro privativo, o lugar conta com um terraço com vista para as montanhas e um bar que só funciona até as 23h para garantir a boa noite de sono de todos os hóspedes. Servem café da manhã vegetariano que pode ser incluido na diária (por US$5 a mais) ou comprado no momento.

Como chegar a Oaxaca

De avião
O pequeno aeroporto de Oaxaca está a 20 minutos do centro da cidade e opera, em sua maioria, voos domésticos. Há oito voos diários saindo da Cidade do México, operados pela Volaris, Aeromar, Aeroméxico e Interjet.  A viagem dura aproximadamente 1h10.

De ônibus
A principal estação rodoviária de Oaxaca chama-se Terminal Central de Primera Clase (Avenida Niños Héroes de Chapultepec 1036) e recebe diversos ônibus diários tanto da Cidade do México quanto de outros destinos no estado e país. Se essa for sua opção, recomendo o serviço da empresa ADO, que, além de confortável, é seguro. A viagem dura cerca de sete horas. Fiz esse e outros trajetos durante a noite, sem nenhum incidente.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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