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Histórias contadas à luz da lua no Coliseu

Quando um gladiador entrava na arena do Coliseu, ele raramente estava sozinho. Somente aqueles mais famosos degladiavam-se num combate singular para toda a plateia de 50 a 70 mil pessoas, incluindo o Imperador Romano. Em geral, diversos combates ocorriam simultaneamente. E, ao mesmo tempo, os gladiadores também nunca sabiam quando e nem de onde poderia surgir um leão ou outro animal selvagem.

Durante quase cinco séculos, o Coliseu foi o principal palco de jogos em Roma – e, logo, do mundo na época. O Anfiteatro Flaviano, nome da dinastia de imperadores que construiu e inaugurou o edifício em 80 d.C., era o entretenimento gratuito que os governantes ofereciam para a população em geral. O jogos duravam 30 ou 40 dias. As manhãs eram reservadas à caça: animais brigavam entre si ou contra humanos. A tarde, era o momento reservado para o combate dos gladiadores.

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O nome arena, inclusive, vem do fato de que o piso de madeira que representava o palco do Coliseu era coberto de areia (arena, em italiano), o que facilitava a limpeza de todo o sangue e suor nos dias após os jogos.

Tudo isso, quem nos contou, foi a simpática Ilíria, uma arqueóloga que também é a guia da visita noturna pelo Coliseu. O passeio, chamado La Luna sul Colosseo, é feito como diz o nome, sob a luz do luar, sem a multidão de turistas que fica presente durante o dia. E que nos leva também ao subsolo, que não é acessível durante o passeio comum. 

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Com a iluminação especial, o silêncio e os sons de eco permitem ter uma dimensão especial da grandiosidade da obra: “Quando os romanos construíam algo, construíam para a eternidade”, explicou Ilíria. A guia nos mostrou cada detalhe fascinante da construção, que só não está inteira até hoje porque, durante a Idade Média, todo o mármore que revestia o monumento foi retirado por ordens dos papas para a construção das igrejas da cidade.

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Logo, é abaixo da arena, com pisos e pedras originais, onde os detalhes da engenhosidade romana se revelam. Não consigo nem descrever a minha emoção de estar ali, onde tanta coisa sobreviveu a dois milênios de história.

Uma vez no subsolo, a primeira coisa que a guia apontou foi para as pedras. São feitas de travestino, uma espécie de pedra calcária. Era importante reparar, Ilíria explicou, nos cortes diagonais e na ausência de argamassa entre as pedras. É essa geometria na construção dos arcos que tem sustentado o Coliseu há tantos anos. Inclusive, a construção é feita através da multiplicação de arcos. São 80 deles, por nível. Dessa forma, cada classe social dos cidadãos romanos tinha uma área específica na arena e eles nunca se cruzavam ao entrar e sair do anfiteatro.

A geometria dos blocos de pedra

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Geometria do piso original

Seguimos pelos corredores do subsolo, que eram o backstage do grande espetáculo. Havia quatro túneis subterrâneos que ligavam partes da cidade ao Coliseu e era por esse túneis que os gladiadores, animais e as máquinas de cenografia entravam. A estrutura de paredes, que lembra um pouco um labirinto, serviam de sustentação para os 28 elevadores que ficavam espalhados pela arena e levavam os animais e gladiadores para cima.

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Uma réplica de madeira de um desses elevadores serviu para que a arqueóloga nos explicasse o funcionamento: eram necessárias oito pessoas, quatro em um andar e quatro no outro, para girar a alavanca. A abertura do elevador era em um plano inclinado e com um esquema de trancas e espetos, os animais saiam da escuridão do subsolo para a surpresa da luz, barulho e cheiros estranhos da arena. Como contei no início, os gladiadores nunca sabiam de qual dos 28 elevadores os animais seriam enviados.

Por falar em gladiadores, em grande maioria, eles eram prisioneiros de guerra capturados das terras que Roma dominava. Jovens escravos, cuja motivação para lutar era os prêmios em dinheiro. Quem ganhasse bastante poderia comprar a própria liberdade. Segundo Ilíria, há em Roma um cemitério de gladiadores e, pelos túmulos, dá para perceber que suas nacionalidades não são italianas.

Mas, com tantas construções no subsolo, como eram feitas as tais batalhas navais? Eu perguntei durante o tour, curiosa. Afinal, já tinha lido em vários lugares sobre como o Coliseu também era capaz de se encher de água e colocar navios em combate. Só não entendia como isso seria possível. Veja bem, explicou a arqueóloga, tais batalhas só ocorreram nos primeiros anos do Anfiteatro, provavelmente no tempo de Domiciano, antes da construção intricada do subsolo e seus elevadores, quando sim, era possível usar o Aqueduto Romano para encher a arena.

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A visita também serviu para que a guia questionasse algumas histórias muito contadas sobre o Coliseu. Em primeiro lugar, segundo ela, é pouco provável que os cristãos tivessem sido perseguidos e mortos dentro do anfiteatro. Porém, foi graças a esse mito que, no século 18, um papa incluiu o Coliseu como parte da procissão da Via Crucis, na época da páscoa. Isso garantiu que o monumento, até então em ruínas, começasse a ser restaurado.

Outra falácia, segundo a guia, é que foi um terremoto que destruiu a face sul do edifício. Ela caminhou conosco até muito próximo dos enormes muros e apontou para a destruição. Questionou como um terremoto teria destruído apenas uma parte tão específica e deixado o resto intacto. A tese mais correta, conclui, é que essa parte externa sul do Coliseu foi desmontada em alguma altura da Idade Média. Hoje, um muro de contenção ajuda a manter tudo no lugar.

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Além disso, nem todos os imperadores gostavam de assistir os jogos. Um exemplo, segundo Ilíria, era Marco Aurélio (161 a 180 d.C.), que não gostava nada da matança, mas não tinha escolha, porque o povo romano era fã dos jogos. Foi só durante o Império de Constantino (307 a 337 d.C) que as lutas de gladiadores acabaram. Porém, o Coliseu continuou sendo utilizado para os espetáculos de caça. Elas passaram a ser temáticas, como caça africana com animais como o leão, ou caça do norte da Europa, com cervos e ursos.

Como fazer a visita noturna ao Coliseu

A boa notícia é que o passeio pelo Coliseu à noite não é muito caro: são 20 euros. A má notícia é que não acontece durante o ano inteiro: se você está planejando ir a Roma entre março e dezembro, não deixe de entrar no site da CoopCulture (a revendedora oficial) para reservar o bilhete para o passeio guiado, o La Luna sul Colosseo. Fique de olho no site para a abertura das vendas e compre com antecedência.

As visitas são sempre guiadas, com horários de 20h até meia-noite, e duram cerca de uma hora. Existe a possibilidade de acompanhar guias em italiano, inglês ou espanhol. Se você não fala nenhum desses idiomas, sugiro comprar a visita em italiano. Foi o que fizemos e todo mundo do grupo entendeu muito bem a Ilíria, que fez questão de falar bem devagar para a plateia dos falantes de português entenderem (por coincidência, todo mundo que estava lá no meu horário era brasileiro).

passeio noturno coliseu vazio

Você precisa chegar uns 15 minutos antes do horário marcado para trocar o bilhete. Foi, sem exagero nenhum, um dos passeios mais legais que já fiz na vida.

Outras visitas guiadas no Coliseu

Se não der para você fazer a visita noturna, existem outros passeios guiados pelo Coliseu durante o dia e que também levam ao subsolo. Além disso, é possível agora visitar os andares no belvedere, bem lá no alto do anfiteatro.

coliseu a noite roma

Essas opções de tour guiados são feitos durante o dia. Dessa forma, você precisa comprar o bilhete para entrar no Coliseu (custa 12 euros e inclui a entra no Fórum Romano) e mais o bilhete do tour, custa 9 euros o subsolo, e 9 euros o belvedere, ou 15 euros os dois. Ou seja, a visita completa durante o dia sai por €27,00 + a taxa de reserva online de €2,00. Mais informações no site oficial.

Você também pode ler o que escrevemos sobre a visita regular ao Coliseu, cujo bilhete custa 12 euros, e inclui também a entrada no Fórum Romano e Palatino.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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