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Rafting no Ganges: descendo as corredeiras do rio mais sagrado da Índia

“Se você cair na água, não entre em pânico, nós vamos tirar você de lá”, disse o instrutor de rafting, num inglês cheio de sotaque. Nunca fui fã de esportes radicais. Tente me chamar para um paraquedismo básico ou um bungee jumping simples e tenha certeza de que eu não vou aparecer.

Mas rafting é outra história… existe algo fascinante em descer uma corredeira num bote inflável. E cá pra nós, isso não parece tão perigoso quanto pular de um avião com um saco amarrado nas costas. Mesmo interessado nesse esporte de aventura, até outro dia eu nunca tinha testado a adrenalina que ele pode oferecer. E para o batismo escolhi um lugar especial: o meu primeiro rafting foi no rio Ganges, aquele mesmo, o mais sagrado (e sujo) da Índia.

Rafting no Rio Ganges, Índia

Quase 500 milhões  de pessoas vivem ao longo dos cerca de 2500 quilômetros do rio, o que  faz da bacia do rio Ganges – ou Ganga, como dizem os hindus – a mais habitada do mundo – são 390 moradores por quilômetro quadrado. Gente que toma banho, escova os dentes, vai ao banheiro, lava pratos, roupas, búfalos e crianças nas águas do Ganges. A consequência? um dos rios mais poluídos do mundo.

Búfalos no Rio Ganges - Varanasi

 É. Há mesmo quem lave búfalos no Ganges.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualquer água com concentração de coliformes fecais superior a 500 por 100 ml é imprópria para banho. O Ganges, na região de Varanasi, tem 60.000 por 100 ml, 120 vezes a mais do que o limite máximo recomendado! Ainda em Varanasi, dois crematórios localizados na beira do rio queimam cerca de 30 mil corpos todos os anos. Segundo a revista britânica The Economist, cerca de 3 mil corpos são avistados boiando naquela parte Ganges anualmente.

Ganges em Varanasi - rio poluído

Ganges em Varanasi: completamente poluído.

Tanta sujeira traz consequências, óbvio. Cerca de mil crianças indianas morrem por causa de diarreia aguda causada por água contaminada todos os dias. Se as águas do Ganges não são as únicas responsáveis por essa estatística, certamente a sujeira do rio carrega parte da culpa.

“Não vá nadar naquele rio imundo ” foi o conselho que eu mais ouvi quando contei que iria passar seis meses na Índia. Aos amigos e parentes deixo um sincero pedido de desculpas pelas promessas não cumpridas: eu não apenas nadei no Ganges. Fiz até rafting nele.

Rafting no Ganges - Rishikesh

Nós e o nosso instrutor de Rafting

Esse parágrafo não pretendeu assustar ninguém – vale lembrar que o Ganges não é sujo em todas as partes. Antes de chegar em Varanasi, muito antes de passar por Calcutá ou cruzar Bangladesh, o Ganges nasce, limpo e completamente puro, no Himalaia indiano. E é nesse trecho, pouco depois da nascente, que nadar, mergulhar, pescar – e até fazer rafting – são atividades possíveis.

Assim que sai do Himalaia, o Ganges passa pela pequena cidade de Rishkesh, vila que ficou conhecida mundialmente quando os Beatles passaram uma temporada por lá, na década de 1960. Foi ali, durante nossa segunda visita à cidade, que encaramos essa aventura.

Rafting no Ganges - Rishikesh

Foi quase impossível segurar a emoção quando a maior das ondas balançou o bote inflável onde eu estava. Certo de que a embarcação iria virar, me preparei para o mergulho nas águas do rio, muito agitadas naquele trecho. Passamos por três corredeiras fortes, sempre acompanhados por outros botes, todos cheios de turistas doidos para dar um mergulho no rio. E não faltam oportunidades. “Se vocês quiserem, podem entrar na água aqui”, falou o instrutor, num momento em que as águas estavam mais calmas. E pulamos na gelada água verde do rio mais sagrado do mundo.

Ao longo do percurso, várias praias de areia branca chamam atenção. Algumas servem de parada para os botes. Outras servem de praia mesmo, e não é incomum ver europeias de biquíni tomando sol por lá. Nosso bote parou numa dessas praias, pouco antes das pontes que ligam os dois lados de Rishikesh, que é cortada ao meio pelo Ganges. Eu poderia ter feito meu primeiro rafting em qualquer rio do mundo. Fui fazer logo naquele que muitos ocidentais não querem entrar – e onde hindus fazem questão de nadar, poluído ou não.

Como fazer rafting no ganges

Ganges em Rishikesh. Foi aqui que eu nadei.

Como fazer rafting no Ganges

Onde fazer?

Rafting no Ganges precisa ser em Rishikesh, a não ser que você queira entrar para as estatísticas nada agradáveis que citamos no post. Inúmeras empresas oferecem o serviço, que é uma das principais atrações da cidade.

Como chegar a Rishikesh

Rishikesh não tem linha de trem,  o meio de transporte mais eficiente para viajar por terra na Índia. A estação mais próxima fica em Haridwar, cidade a cerca de 30 quilômetros dali. De lá é possível pegar um táxi ou um tuk-tuk até Rishikesh. Há ônibus diários entre Rishikesh e as principais cidades da região, incluindo Delhi, Agra e Jaipur.

Quanto custa?

Nós pagamos 300 rúpias (cerca de 12 reais) por pessoa. Isso é muito mais barato do que qualquer empresa especializada cobraria no Brasil. Precisa de mais algum motivo para fazer seu primeiro rafting na Índia quando for visitar Rishikesh?

Vai viajar? 

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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