fbpx

Visita a uma fazenda de avestruz na África do Sul

*Este texto foi escrito com base numa experiência que vivemos em 2010. Desde então, percebemos o mal que esse tipo de atração turística faz para os animais. Por isso, não incentivamos que ninguém faça programas turísticos assim. Entendemos que muitas vezes entramos em passeios e atrações que não deveríamos por falta de informação ou reflexão prévia. Que esse relato sirva para mostrar que mudar de opinião é possível e necessário. Como aprendemos ao longo da vida, infelizmente algumas vezes de forma tardia, nem todo turismo vale a pena

A mais memorável de todas as vezes em que eu cavalguei foi num avestruz. Menino criado na cidade, nunca fui muito fã desses animais que o homem usa como meio de transporte. Duas ou três vezes me arrisquei no alto de um cavalo. Em outras ocasiões a cavalgada (na falta de palavra melhor) foi no lombo de elefantes e camelos. Mas foi a experiência com o avestruz que deixou histórias para contar – e olha que tudo durou menos de 10 segundos.

Isso aconteceu em Oudtshoorn, cidade de 80 mil habitantes que fica entre Cape Town e Port Elizabeth, na África do Sul. Oudtshoorn não tem nada de muito especial que motive uma parada. Exceto, é claro, as fazendas de avestruz que ficam na região.

Fazenda de Avestruz. Não, eles não clonam, nem plantam o bicho por lá. Então, por que diabos chamam de fazenda? Bem, o local vive exclusivamente dos avestruzes, seja por oferecer produtos de origem animal ou simplesmente deixar as aves em exibição para turistas, gente que não tem contato com a maior das aves no país de origem. Numa fazenda dessas, cada avestruz tem nome e recebe cuidados de um funcionário especializado.

Foi um deles que nos contou que um avestruz pode medir até 2,5 metros e viver até 70 anos. E também disse que é possível fazer várias coisas com um ovo desse bicho, começando por um baita omelete. E que a expressão “pisar em ovos” não faz o menor sentido quando o ovo em questão é de avestruz, já que ele suporta o peso de uma pessoa adulta. Tipo eu.

Fazenda de Avestruz, África do Sul

Antes que você diga que a foto mais jacu do dia ficou por minha conta, saiba que a Naty também deu a contribuição dela para a galeria. E isso sem fazer nada – apenas morrer de medo do mundo acabar num ataque de avestruz. As aves, por outro lado, preferiram simplesmente posar para a câmera, sem medo.

Depois disso, fomos levados para uma espécie de auditório. Os turistas ficam numa arquibancada, enquanto os guias explicam que um avestruz adulto pode alcançar até 80 quilômetros por hora e percorrer cinco metros a cada passada. Segundo a Wikipédia, uma ave saudável consegue manter a velocidade máxima por até 30 minutos, sem parar. “Pô, então é melhor ir de avestruz pro trabalho do que no meu carro”. Pois é, alguém já pensou nisso. Para provar que o bicho poderia ser usado como meio de transporte, os guias montaram em uma delas, que  começou a correr. Após meio minuto, cada um dos guias foi lançado ao chão pelo animal, que continuou a corrida sem a carga.

Foi aí que eu fiz uma daquelas coisas imprudentes que sua mãe te pede para não fazer. “Quem quer montar num deles?”, perguntaram os guias. Lá fui eu, não muito certo de que aquilo era uma boa ideia.

Com o avestruz cercado por três homens e com os olhos tampados, subi nas costas dele. “Agora se segura”, disse um dos funcionários da fazenda.

“Segurar em que?”, eu perguntei, procurando o local onde deveria ficar o cinto de segurança.

Não deu nem tempo de reclamar que aquele avestruz tinha saído com defeito de fábrica. Tudo durou menos de 10 segundos: os caras soltaram o bicho, que provavelmente pensou: “Porra, eu sei que sou pesado, mas tem uns 80 quilos a mais aqui hoje”. Achando que tinha exagerado no almoço, o avestruz desatou a correr e a queimar calorias. Eu fui junto com ele. Eis o que se passou pela minha cabeça durante aqueles segundos:

1s – Fudeu! Soltaram o bicho! Ele vai alcançar Moçambique antes de notar que estou aqui.
3s – Eu não sabia que ser peão de rodeio por um dia estava incluso no preço do ingresso.
4s – Será que se eu puxar a pena dele ligeiramente para a esquerda ele muda de direção e me leva pra Namíbia? Sempre quis ir na Namíbia!
5s – Por que diabos os guias estão correndo ao redor do avestruz? Deviam parar o bicho, não apostar corrida com ele!
7s – “Vou cair!”, gritei, segurando as penas da avestruz.
8s – “Larga as minhas penas!”, gritou a avestruz, finalmente percebendo que eu estava ali.

Eu cai, mas com estilo. Dei um mortal no ar e despenquei de pé e já andando, numa demonstração de habilidade impressionante. Todos os presentes aplaudiram de pé. Até o avestruz, o que foi ainda mais impressionante, já que ele não tem braços.

Ok, isso não aconteceu. Eu despenquei. Teria me quebrado todo se os funcionários da fazenda não estivessem preparados para aparar turistas. Foi aí que eu entendi que eles não corriam atrás do avestruz, mas para me pegar no ar quando o inevitável acontecesse. Infelizmente eu não tenho fotos da aventura, mas pouco depois a Naty tentou fazer o mesmo.

No final eu fiquei com receio de ter deixado o avestruz  desconfortável, afinal não deve ser legal carregar um humano de 80 quilos que não para de puxar suas penas e gritar “Namíbia”.

Inscreva-se na nossa newsletter

Avalie este post

Compartilhe!







Eu quero

Clique e saiba como.

 




Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

  • 360 nas redes
  • Facebook
  • YouTube
  • Instagram
  • Twitter

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

2018. 360meridianos. Todos os direitos reservados. UX/UI design por Amí Comunicação & Design e desenvolvimento por Douglas Mofet.