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Planejamento de viagens: seis coisas que a estrada me ensinou

Viajar é uma arte. A estrada tem regras próprias, mandamentos que nem sempre são parecidos com os que estamos acostumados a seguir no dia a dia. Durante nossa viagem de volta ao mundo aprendemos algumas coisas na marra, experiência que hoje aplicamos em outras viagens e que certamente fazem a diferença. Listamos neste post seis aprendizados que a estrada nos deu sobre planejamento e organização de viagens. Eles servem não apenas para quem vai viajar por longos períodos, mas também para aquela viagem de férias de 15 dias ou mesmo de fim de semana.

Nas férias você não precisa bater cartão

A rotina nos deixa mal acostumados. Durante 11 meses do ano nós acordamos cedo e, ainda sonolentos, nos arrumamos para ir ao trabalho. Quem leva uma vida no escritório não pode nem mesmo pensar em atrasos, afinal o trânsito até pode não andar, a empresa não. O problema é quando o viajante leva o estilo de vida “batalhão de exército” para o mês mais importante do ano.

– “Atenção! Quero todos de pé às 6h e na mesa do café às 6h30. Nem pensem em demorar no banho. Antes de 6h50 temos que estar no metrô, ou então não vamos conseguir completar todos os 26 itens que estão no roteiro de amanhã. Não podemos deixar itens para o dia seguinte, que não vai estar essa moleza toda não”.

E lá vão os viajantes bater ponto durante as férias, época que deveria servir para relaxar. Esse erro é muito comum e facilmente explicado por um bom motivo – a vontade de aproveitar o raro e maravilhoso tempo de folga da melhor forma possível. Nós mesmos cometemos esse vacilo no começo de nossa viagem de volta ao mundo. Tivemos menos de 20 dias para visitar quatro capitais da Europa e uma vontade imensa de aproveitar o tempo.

Ponte da Torre de Londres

O resultado? Corremos, forçamos nossos limites e vencemos barreiras que pareciam intransponíveis, tudo na base do energético. E obviamente morremos em 5 dias, afinal o estilo de vida sedentário que levávamos na vida “normal” cobra seu preço rápido. Bem rápido.

Mas nada como uma viagem após a outra: logo aprendemos que viajar não é correr uma maratona e que é necessário respeitar os nossos limites e relaxar. Deixe a vida agitada para o trabalho e as cobranças para seu chefe.

Você não vai conhecer todos os lugares de uma só vez 

Você paga milhares de reais, gasta um dia inteiro dentro de um avião e chega do outro lado do mundo. Em determinado momento é necessário escolher entre conhecer a fundo o destino onde você está ou ficar pulando rapidamente de cidade em cidade, afinal você cruzou oceanos e nunca esteve tão próximo daquele templo escondido que pouca gente conhece ou daquela cidade exótica que você viu na TV.

É a necessidade de tentar ver tudo, uma das piores síndromes do viajante. Os sintomas são ansiedade, correria (sempre ela), conexões apertadas, muitas paradas no roteiro e sensação que faltou tempo em cada um dos lugares visitados. E isso é certo: faltou mesmo, afinal você preferiu conhecer superficialmente vários lugares do que conhecer melhor alguns.

Viagem Europa

Esse é um erro que me orgulho de não ter cometido. Devo agradecer ao Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, que desde sempre dá esse conselho. Com pouco tempo na Europa, nem mesmo pensamos em sair das capitais para fazer viagens de bate e volta – preferimos nos dedicar às cidades maiores e deixar as coisas ao redor para outras ocasiões. Quando estávamos em Hong Kong, na China, optamos por cortar Macau do roteiro porque achamos que Hong Kong ainda rendia mais. E olha que Macau ficava logo ali, na esquina. Foi a decisão mais sensata que poderíamos tomar.

É impossível ver tudo, não importa o quanto você se esforce. É preciso ser razoável e entender que existe um lugar que está ainda mais perto do que aquele templo exótico logo ali: é o lugar onde você está. Tenha certeza de que você aproveitou direito o destino A antes de correr para o destino B.  É a fórmula que uma banda deve ter no palco: não encerre um show antes da hora e esteja preparado se for necessário um bis. Ao mesmo tempo, não fique ali até que todos adormeçam de tédio ou cansaço.

O choque cultural existe sim! E ele vai te pegar

Tem quem ache que ele é um mito, tipo o Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa ou o emprego perfeito.  Só que o choque cultural existe e você nem mesmo precisa estar num país completamente diferente do nosso para quebrar a cara com ele. Pode ser a noção de espaço que é diferente, ou a forma de pedir algo, ou a maneira de encarar horários: em algum momento você vai se sentir estressado ao perceber que as outras pessoas não se comportam da forma que você acha que é natural e educada.

Já dissemos aqui no blog que a Tailândia não mudou nossas vidas. Isso costuma ofender gravemente 73% dos mochileiros, gente que simplesmente ama o país. Além da chuva torrencial, da comparação com a vizinha Malásia e de uma escolha errada que fizemos no planejamento de viagem, outra coisa atrapalhou nossas impressões: sim, o vilão foi o tal do choque cultural.

Dizem que o povo thai é muito amistoso e sorridente. Bom, eles nem sempre foram assim com a gente. Mas é que o brasileiro é meio, errh, barulhento. E se um brasileiro faz muito barulho, quatro fazem muito mais. Além disso, visitamos a Tailândia depois de vivermos seis meses na Índia, um país absurdamente barulhento e que para muitas coisas tem uma lógica completamente diferente da Tailândia. Na mistura de padrões entre Índia e Brasil, sobrou pra Tailândia. Tomamos um baita choque, que prejudicou muito nossas impressões do país.

A lição que ficou foi a de estudar bastante a cultura de um local antes de visitá-lo, Se tivéssemos feito isso saberíamos que elevar um pouco o tom de voz, algo necessário e comum na Índia, pode ser encarado como ofensa na Tailândia. Teríamos evitado problemas e decepções e certamente minhas memórias do país seriam melhores.

Mesmo sabendo um pouco sobre a cultura local, esteja atento: o choque cultural tem a força de um raio e despenca de uma vez. Uma boa dica é perceber as coisas ao seu redor. Se você for a única pessoa a se incomodar com algo, o mais provável é que a pessoa fora do padrão seja você.

Religião na Tailândia

Planeje-se, mas esteja aberto para o inesperado

Qualquer viajante tem medo de errar. Errar na localização do hotel, errar no roteiro, errar na época da viagem… Receios válidos, mas deve-se evitar a ultracorreção. Para garantir acertos, há quem simplesmente não deixe espaço para o inesperado. Tudo na viagem é meticulosamente planejado. Isso até mostra que o viajante tem um poder enorme de organização (inveja!), mas pode gerar decepções. A vida nunca é exatamente como queremos e quando estamos viajando não é diferente – Murphy não tira férias, tadinho. Pode chover torrencialmente. Os funcionários de alguma atração turística podem entrar de greve. Você pode adoecer, uma mala pode ser extraviada ou você pode simplesmente descobrir que um passeio obrigatório que todos falam não é legal. E aí?

É fundamental entender que as coisas não saem exatamente como planejamos e, se preciso, ter espaço para reorganizar as coisas. Certa vez, em Roma, tivemos que deixar a visita ao Coliseu para o último dia de viagem por conta de protestos que se espalhavam pela cidade.  Em Londres não conseguimos entrar na Catedral de St. Paul, símbolo da cidade. O lugar estava fechado pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Faz parte. Quando estamos abertos para o inesperado lidamos bem com essas situações. Assim podemos até mesmo descobrir alguma coisa nova que não estava no roteiro, mas que pode virar um dos pontos altos da viagem.

Quem vai viajar é você, não seu excesso de bagagem

Mesmo uma viagem de um ano não exige que você empacote todas as suas roupas e envie no contêiner de algum navio. A verdade é que nós simplesmente não precisamos de toda tralha que acumulamos na vida, muito menos durante nossas viagens. Não é fácil subir escadas, andar de metrô ou caminhar por ruas estreitas e sem pavimentação carregando sua vida inteira nas costas. Nós levamos mais itens do que o necessário durante nossa volta ao mundo e nos arrependemos. Na Europa foi até tranquilo aguentar excesso de peso, mas na Ásia as malas atrapalharam. Para viajar bem o ideal é ir sem excesso de bagagem.

Leve somente o que você tem certeza absoluta que vai usar. Só acha que algo pode ser útil? Provavelmente não será, a menos que você considere que a função de peso extra é importante. Lembre-se que dá para lavar roupas durante a viagem e que já inventaram a máquina de lavar, disponível em vários hotéis e hostels. E também que a mala a mais certamente vai deixar a viagem mais cara. Por conta dela você pode ter que pegar um táxi ao invés de usar o transporte público, por exemplo.

Homem em Ghat do Rio Ganges, Varanasi

Saiba quando e como economizar

A Índia me ensinou a amar a economia. Na terra da barganha, centavos de desconto rendem uma discussão intensa com o vendedor. Ao mesmo tempo, aprendi que tem hora que é melhor pagar mais caro do que fazer economia burra. Exemplo: uma passagem de ônibus custa R$ 75, com a viagem durando 10 horas. De avião o mesmo trecho pode sair por R$ 110. Vale economizar essa grana? É preciso pensar bem, levando em consideração o conforto que esse dinheiro a mais representa X a falta que ele pode fazer.

Uma economia mal feita pode, inclusive, ser um gasto desnecessário mascarado de bom negócio. Ficar naquele hotel barato não é uma boa ideia se a localização for muito ruim. Você economiza na diária, mas gasta muito mais de táxi. A mesma coisa vale para um voo que está com tarifa na promoção, mas que sai num horário ruim, tem várias escalas e não chega exatamente no local desejado.

Se economizar na hora errada pode ser pegadinha, é preciso  dar valor a cada real conquistado em bons negócios. Foi só na base da economia que conseguimos realizar o sonho de largar tudo para tirar um ano sabático. Acredite: os cinco reais que você economiza no Brasil são capazes de pagar um dia de hospedagem no sudeste asiático. Pesquisar, pesquisar e pesquisar: essas continuam sendo as três regras fundamentais antes de comprar qualquer coisa.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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6 comentários sobre o texto “Planejamento de viagens: seis coisas que a estrada me ensinou

    1. Oi Pâmela,

      Que bom que gostou das dicas! E a transparência é muito importante pra gente. Não tem problema nenhum fazer publicidade – é assim que o jornalismo e os blogs vivem. Só que é fundamental avisar os leitores e deixar claro quando há esse tipo de ação. Nos preocupamos muito com isso aqui no blog!

      Abraço e obrigado pelos comentários!

  1. Muito legal suas dicas… Quando eu viajo tento conhecer tudo de uma vez só, peco pelo cansaço, mas vale a pena hahaha

    Beijos da Leidy.
    tralhadarede.blogspot.com.br

    1. Oi Aleide,

      Muitas vezes a gente corre mais nas férias do que no dia a dia né? No fim, sempre vale a pena mesmo! Obrigado pelo comentário!

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