Como funciona uma câmera fotográfica

Como funciona uma câmera fotográfica? A gente se esquece disso, mas, no fim das contas, fotografia é luz. É isso que o nome significa – a palavra vem do grego e poderia ser traduzida como “desenhar com luz”.

Entender como a fotografia funciona é no mínimo curioso e pode te ajudar a tirar fotos melhores, mesmo que você seja apenas um fotógrafo amador, daqueles que fotografam nas férias, viagens e momentos em família.

Quem inventou a fotografia?

Ninguém. Pelo menos não uma pessoa específica, já que foram muitos os que colaboraram para que hoje você possa sacar seu celular e registrar momentos e lugares ao seu redor.

Se o século 21 viu uma explosão fotográfica – apenas o Instagram tem 500 milhões de usuários, gente que publica 95 milhões de fotos por dia – o século 19 viu o estabelecimento dela.

Para isso, diversos cientistas ajudaram a aperfeiçoar um princípio físico que já era conhecido há milênios, mas que ainda não tinha um efeito prático na vida das pessoas comuns: a câmara escura.

Como funciona a fotografia: a câmara escura

Vamos do básico? A luz emitida pelo sol se propaga em linha reta até bater em uma superfície qualquer – pode ser um móvel, um carro, um animal ou você. A câmara escura nada mais é que uma caixa, com um pequeno buraco no meio e por onde os raios de luz passam. E é aí que está a mágica que produz de tudo, de selfies a imagens de guerra, acontece.

Se você deixar uma caixa de sapatos sem tampa, milhões de raios de luz serão refletidos em diversos lugares dentro da caixa e como consequência nenhuma imagem aparecerá no fundo dela – só um borrão de luz sem forma.

Mas se você fechar completamente a caixa, vedando a entrada de luz, e em seguida fizer um pequeno buraco num dos lados dela, os raios de luz passarão somente por esse orifício. Eles serão projetados no fundo da caixa, de forma invertida, formando uma imagem nítida do ambiente que está na frente do buraco, que funciona mais ou menos como a lente de uma câmera.

Eu me lembro de ter feito uma experiência exatamente assim no colégio. Funcionou. Também dá para fazer o teste com outros objetos, como caixas de fósforo, potes e recipientes em geral, com apenas um pequeno buraco para a entrada da luz. É por isso que esse tipo de fotografia tem até nome: pinhole, ou furo de alfinete.

Se você tiver curiosidade sobre esse assunto, nesse link aqui há um tutorial de como fazer uma câmara escura com uma caixa de fósforos.

O princípio da câmara escura é tão antigo que chegou a ser citado por Aristóteles. Outro filósofo, Platão, falou de algo parecido ao criar seu Mito da Caverna.

Nos séculos 14 e 15 a câmara escura começou a ser usada na pintura. Leonardo da Vinci, entre muitos outros, usava uma câmara escura para pintar, aproveitando o auxilio da imagem projetada no fundo da câmara.

Quanto menor o furo, maior a nitidez da imagem. Bastava aumentá-lo para que a imagem perdesse definição, o que era péssimo para os artistas. E furos muito pequenos acabavam por gerar imagens escuras. Em 1550, Girolamo Cardano, um pesquisador de Milão, resolveu colocar uma lente na frente do furo, resolvendo esse problema.

O avanço seguinte veio de Veneza, em 1568, quando Daniele Bárbaro desenvolveu uma forma de variar o tamanho do furo. Assim nasceu o primeiro diafragma.

Cinco anos mais tarde, dessa vez em Florença, veio o avanço seguinte, quando Inácio Danti acrescentou um espelho côncavo que invertia a imagem projetada, que agora não aparecia mais de cabeça para baixo.

Mas e como funciona uma câmera fotográfica?

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas faltava uma coisa fundamental: até ali o que se tinha era apenas uma imagem projetada no fundo de uma caixa, mas ela não era gravada em lugar nenhum. Era útil para artistas, que já tinham transformado a câmera escura numa ferramenta portátil e indispensável de trabalho, mas, bem, o produto final continuava sendo uma pintura feita com base numa projeção – não havia fotografias.

Isso só aconteceu mais tarde, quando a química entrou no jogo. Foram séculos de pesquisas até que Joseph Nicéphore Niépce, um inventor francês, finalmente conseguisse uma solução: ele cobriu uma placa de estanho com betume branco da judeia.

Colocou a placa dentro da câmara escura, fechou o equipamento, apontou para o lado de fora da janela de casa e deixou que o tempo se encarregasse no resto. Muito tempo: foram oito horas de exposição. Valeu a o esforço, afinal assim ele conseguiu reproduzir a imagem abaixo. E nascia o filme fotográfico.

Imagem produzida por Joseph Niépce (1826)

Os passos seguintes foram dados por outros nomes fundamentais da fotografia. Em 1839, Louis-Jacques-Mandé Daguerre apresentou ao mundo o primeiro objeto disponível para fotografar, o daguerreótipo, que logo passou a ser comercializado em todo o planeta. A primeira fotografia envolvendo pessoas foi feita por ele, em 1838, no Boulevard du Temple, em Paris.

A foto foi tirada de manhã e a exposição durou cerca de 10 minutos. Por disso, somente uma pessoa que estava na rua – o homem parado no canto inferior esquerdo, aparentemente para engraxar os sapatos – ficou registrado na imagem. As outras pessoas, por estarem em movimento, não apareceram na foto.

Imagem de Louis-Jacques-Mandé Daguerre (1838)

Na mesma época, no Reino Unido, William Henry Fox-Talbot também pesquisava o assunto. Quando o equipamento de Daguerre foi anunciado, Talbot chegou a alegar que já tinha alcançado resultados semelhantes, como mostra a imagem feita por ele, de uma janela da Abadia de Locock Abbey, em 1835.

Imagem de William Henry Fox-Talbot (1835)

Foi Talbot quem criou o processo de negativo e positivo na fotografia, chamado por ele de calotipia. Isso era um diferencial, já que assim era possível a reprodução das imagens em escala comercial – foi o nascimento dos cartões-postais.

Muitos avanços vieram em seguida, com o surgimento das câmeras como nós conhecemos hoje em dia,  como as TLRs, telemétricas e das DSLRs, entre outras, além da melhora nas lentes, filmes, e claro, do surgimento da fotografia digital, em que o filme fotográfico foi substituído por um sensor. Mas, no fim das contas, toda a base da fotografia está no princípio da câmara escura.

No fim, uma câmera fotográfica é uma câmara escura com um mecanismo para controlar a entrada de luz (obturador), uma parte óptico (as lentes) e um material para que a imagem reproduzida seja gravada (pode ser o filme químico ou o sensor digital).

Quer aprender a fotografar bem de verdade?

Vou indicar um curso online de fotografia que é muito bom, o Caçadores de Imagens. São 60 aulas – quase 20 horas de conteúdo exclusivo e original.

Os professores, o Charles e a Lígia, são fotógrafos profissionais há mais de uma década e já comandaram uma grande escola de fotografia em Belo Horizonte, que na época era uma das maiores do Brasil. Eu estudei na escola deles, entre 2014 e 2015, e indico de olhos fechados. Aprendi muito.

Há três anos eles se mudaram para o Japão e passaram a dar aulas somente online. Mais de dois mil alunos já fizeram o curso Caçadores de Imagens, que tem sete módulos: introdução, desenvolvimento de olhar fotográfico, formação técnica, cores, composição, iluminação e photoshop para fotógrafos digitais.

O curso Caçadores de Imagens garante certificado e você terá um grupo exclusivo no Facebook para interagir com os professores e com outros alunos. Saiba mais aqui.

Inscreva-se na nossa newsletter

Avalie este post
Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Olha eu adoro o seu site e as suas postagens,leio direto e me diverto muito (gosto da forma como você escreve e como conta as suas aventuras).Mas,depois de dar uma fuçada á fundo (tava sem nada para fazer e fui olhar as postagens mais antigas) e encontrar uma sobre uma fazenda de avestruzes na África de alguns anos atrás eu fiquei extremamente decepcionada com você.Deixei um comentário na referida postagem ,não sei se você viu ,espero que não me entenda mal eu apenas expressei meus sentimentos.

Compartilhar
Publicado por
Rafael Sette Câmara

Posts Recentes

O que eu vi do alto do campo base do Everest

*Por Silvia Paladino No dia 12 de outubro de 2023, eu cheguei ao acampamento base…

5 meses atrás

Como é a relação dos iranianos com o álcool

– Aí estão vocês, eu estava esperando! Venham!, disse, apontando para um beco que parecia…

5 meses atrás

Lençóis Maranhenses e o artesanato com fibra de Buriti

Chegar no povoado Marcelino é uma atração à parte na visita aos Lençóis Maranheses. Depois…

3 anos atrás

Como são os Cursos Domestika? Descubra como funciona a plataforma

A Domestika é uma comunidade criativa e que oferece diferentes categorias de workshops: do desenho…

3 anos atrás

Niède Guidon, a arqueóloga que mudou a Serra da Capivara

“Na Pedra Furada, abaixo de um local onde havia pinturas, escavamos tentando encontrar marcas do…

3 anos atrás

Comida saudável pra todos: comer bem e descolonizar o paladar

“Muita gente acha que comer saudável é cortar açúcar, por exemplo, entrar num mundo de…

3 anos atrás