As cervejarias da Oktoberfest de Munique

Atualizado em abril de 2018 – Eu sempre achei que a Oktoberfest de Munique, na Alemanha, tinha tudo para ser uma festa legal. Mas quando fui lá, em outubro de 2013, percebi que estava errado: é uma das melhores festas do mundo, isso sim. A combinação de cerveja alemã + roupas típicas da Bavária + gente animada, de todas as partes do mundo, é perfeita. Tanto é, que já prometemos que vamos voltar lá, sempre que possível.

Organizada desde 1810, a Oktoberfest começou sem grandes pretensões – era só uma festa de casamento mesmo, do príncipe Ludwig I. Só que o povo da cidade gostou tanto da bebedeira que a festa continuou, uma farra que chegou cheia de fama ao século 21. E não pense que qualquer cervejaria pode vender na Oktoberfest. Só seis podem participar: Augustiner, Hacker Pschorr, Hofbräu, Löwenbräu, Paulaner e Spaten. Todas são de Munique e produzem cerveja há séculos!

Augustiner – a mais velha da Oktoberfest

Foto: Takeaway /CC BY-SA 3.0

O nome é Augustiner Bräu, mas pode chamar de Agostinho mesmo. Essa é a cervejaria mais velha a participar da Oktoberfest e provavelmente uma das mais antigas do mundo – a Augustiner embebeda alemães desde 1328! Tudo começou num lugar inesperado, um mosteiro da ordem agostiniana, daí o nome da marca.

Até hoje a cervejaria permanece como uma empresa independente e tem estratégias err, interessantes para o século 21. Tipo não investir em propaganda. Prestes a fazer 700 anos, a Augustiner não gasta dinheiro com TV, rádio ou jornal. De marketing mesmo, só a confecção de produtos como camisetas, canecas e semelhantes.

Quem não passa por Munique durante a festa não precisa ficar chateado. Além da tenda na Oktoberfest, a Augustiner tem vários bares e um grande biergarten  – isso mesmo, um jardim de cerveja. Basta passar por um deles para se divertir. Assim como acontece com as outras cinco cervejarias participantes do festival, a Augustiner faz uma cerveja especial para o evento: a Oktoberfestbier. E com uma curiosidade – a bebida ainda é armazenada em barris de madeira.

Por tudo isso, a tenda da Augustiner é uma das mais concorridas do Oktoberfest. Mas basta chegar cedo que você garante seu lugar – nós conseguimos, e justo no dia de encerramento da festa, um dos mais lotados.

Veja também: qual a melhor região para me hospedar em Munique?

Hacker-Pschorr

Foto: Drew Allen – (CC BY-NC-ND 2.0)

A cervejaria Hacker-Pschorr é outra com história secular – foi fundada em 1417. No século 18, um sujeito chamado Joseph Pschorr se casou com a herdeira da Hacker, comprou a empresa e aproveitou para abrir uma cervejaria também com seu nome. Foi nessa época que a até então pequena cervejaria virou uma das maiores de Munique. A fusão das marcas ocorreu só em 1972, depois de um período de muita instabilidade econômica.

Por falar no tal do Josef, você se lembra que o Oktoberfest começou como a festa de casamento de um príncipe? Pois é, o Josef foi um dos encarregados por Ludwig I para criar as cervejas que seriam servidas na festa, ideia que logo virou tradição. Outro fato interessante envolvendo essa cervejaria é que o compositor alemão Richard Strauss, um dos maiores do seu tempo, era da família. Tanto é que a ópera “Der Rosenkavalier” teve uma dedicatória especial para a família Pschorr.

Hofbräuhaus

Foto: Roger W (CC BY-SA 2.0)

A tenda da Hofbräu é a maior do Oktoberfest, com capacidade para quase 10 mil pessoas. Durante o evento eles servem 780 mil litros de cerveja, 92 mil frangos, 4.200 porcos, 6 mil salsichões… e por aí vai. Inclusive, a Hofbräu garante que o salsichão branco – produto da casa – tem a mesma receita desde 1857, criada por um açougueiro local.

Dizem que tudo se resolve numa mesa de bar. A Hofbräu se gaba de já ter acabado até com guerras por meio da cerveja. Isso teria acontecido durante a Guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648), quando 362 barris de cerveja ajudaram a acalmar as tropas suecas, que desistiram de destruir Munique, afinal uma cidade tão alegre não poderia sumir do mapa, né?

Vale lembrar que essa tenda também é uma das mais concorridas, então tente chegar cedo para garantir seu lugar. Não rolou? Então vá até o endereço oficial da Hofbräu no centro de Munique, que funciona o ano inteiro, com noites sempre animadas. E saiba que você estará bebendo onde muitos famosos já estiveram, gente como Mozart e Lenin, para citar dois. Hitler também passou por lá, em 1920, durante uma importante reunião daquele que seria o Partido Nacional Socialista.

Löwenbräu

Foto: Roger W (CC BY-SA 2.0)

Löwenbräu foi fundada em 1383 e tem como símbolo um leão. Para quem não sabe alemão (tipo eu), a Wikipédia ensina que o nome da marca é na realidade uma referência a esse animal. No século 19, a Löwenbräu era a maior cervejaria de Munique e produzia 25% de toda a cerveja consumida na cidade. Após ser destruída por bombas durante a Segunda Guerra, a Löwenbräu provou que uma boa cerveja sempre sobrevive. Três anos após o fim do conflito, a produção voltou ao normal.

A Löwenbräu também participa do Oktoberfest desde a primeira edição, em 1810, e tem grandes tendas, com capacidade para cerca de cinco mil pessoas.  Nós passamos uma tarde nessa tenda, logo no primeiro dia. Contamos algumas histórias da nossa estreia na festa, que não poderia ser melhor, neste post aqui.

Paulaner

Foto: Kgbo – CC BY-SA 3.0

Gente religiosa bebe sim. A prova está em Munique, onde monges até faziam cerveja. Além da Augustiner, a Paulaner também nasceu com monges que procuravam criar as próprias cervejas. Só que esses eram da Ordem dos Mínimos, um movimento católico fundado por São Francisco de Paula. O Santo, inclusive, aparece no logotipo da marca. Mas quem foi importante mesmo para a cervejaria foi o Irmão Barnabás, que criou a receita de uma cerveja mais forte que fez sucesso pelas ruas de Munique.

No final do século 18 a abadia foi transformada em prisão, e com isso a cervejaria foi vendida e deixou se ser dos monges. Hoje, a holandesa Heineken é uma das acionistas da empresa, que permanece controlada por alemães. A Paulaner é a irmã mais nova das cervejarias que participam da Oktoberfest: tem só 380 anos. A cerveja servida durante a festa tem 6% de álcool e pode ser comprada em três tendas.

Spaten

Decore o nome Schottenhamel, a tenda dessa cervejaria na Oktoberfest, talvez a mais importante da festa. É lá que a bebedeira começa, mas só depois que o prefeito de Munique abre o primeiro barril de cerveja. É só depois disso que as outras tendas começam a servir a bebida. Ou seja, se você estiver me Munique no dia da abertura do festival, corra para a Schottenhamel.

Foto: Roger W (CC BY-SA 2.0)

A cervejaria nasceu em 1397 e teve papel fundamental na fama da cerveja alemã ao redor do mundo. É que a Spaten foi uma das primeiras a serem exportadas, principalmente para os Estados Unidos. Hoje a cervejaria é uma junção de marcas – Spaten-Franziskaner-Bräu. Sim, esse Franziskaner é de Franciscano mesmo, mais uma prova da importância que a religião teve no desenvolvimento da cerveja (obrigado, Jesus). Hoje a Spaten faz parte do grupo Interbrew, que em 2004 se fundiu com a Ambev e formou a maior companhia de bebidas do mundo, a AB InBev.

Curtiu a história das cervejarias? Acredite: legal mesmo é passar um dia inteiro bebendo nas tendas delas, durante o Oktoberfest de Munique. Se eu fosse você já começava a me planejar para a edição deste ano.

*Imagem destacada: Користувач:Gutsul, Wikimedia Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

    • Guilherme, eu chegaria lá pelas 12h ou 13h. Quanto mais cedo, mais chances de conseguir mesa. No primeiro dia chegamos as 17h e não havia mais meses dentro, mas nos sentamos tranquilamente do lado de fora.

      Abraços

    • Quando mais cedo melhor, Guilherme. Eu cheguei antes da hora do almoço e foi tranquilo. Tente ir de manhã, principalmente se for final de semana.

      Abraço.

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Rafael Sette Câmara

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