Estação das Docas, em Belém: o porto que virou ponto turístico

Mesmo que não houvesse a Baía do Guajará. Mesmo que todo fim de dia não fosse acompanhado por uma (ou muitas) cervejas amazônicas e um pôr do sol inesquecível. Mesmo que esse local, o antigo porto de Belém, não tivesse sido convertido num dos principais pontos turísticos da cidade, um complexo de restaurantes, bares e lojas que atrai mais de 1 milhão de pessoas por ano.

Se a Estação das Docas já não fosse isso tudo, ainda assim teria me conquistado por duas coisas bem mais simples: ambiente climatizado e sorvete da Cairu. Belém é quente. Aquele calor amazônico que dispensa chuveiro elétrico e exige ar-condicionado. Durante a semana em que estive lá, repeti o mesmo trajeto várias vezes: eu deixava meu hostel e seguia pela Avenida Presidente Vargas. 10 minutinhos de caminhada e pronto, eu começava a suar.

Por sorte, a Estação das Docas fica logo ali, no fim da avenida. Muitas vezes passar por lá nem era meu plano original. Mas, né, por que não passar por ali rapidinho, aproveitar o ar-condicionado e o sorvete, para só depois seguir para o destino do dia? E assim eu gastei pelo menos uns 40 minutos, em todos os dias da minha viagem, na Estação das Docas. Foi uma boa escolha.

Veja também: Onde ficar em Belém

Estação das Docas: um pouco de história

Tudo começou na ciclo da borracha, período que causou o crescimento de Belém, Manaus e Porto Velho, trouxe riquezas e fez essa região do país crescer. Até literalmente, já que foi nessa época que o Brasil comprou o Acre da Bolívia.

Se a borracha teve impacto em todo o norte do país, em Belém a situação foi ainda mais impressionante. A cidade se tornou uma das mais ricas do Brasil (e do mundo). Era o começo do século 20, e Belém já tinha luz elétrica, água encanada e esgoto. Bondes cruzavam as ruas da cidade, enquanto prédios luxuosos, como o Theatro da Paz, eram construídos, marcas do poder amazônico.

Belém, que fica a 120 km do Oceano Atlântico, era uma porta de saída estratégica para as exportações brasileiras. Por isso, foi necessário construir um novo porto, que substituiria a estrutura do Ver-o-Peso, que está ali desde o século 17. O novo porto começou a ser planejado em 1897, durante o Ciclo da Borracha, e foi inaugurado 12 anos depois.

Mas, como a história conta, o Ciclo da Borracha teve um fim prematuro. E o novo porto, que logo se tornou importante para a economia da cidade, também virou um problema, afinal estava no centro de Belém. Um século depois, a área ao redor do porto estava deteriorada, com presença de prostituição e altos índices de criminalidade.

Veja também: Um país chamado Pará

A solução foi parecida com a encontrada por outras cidades, como Buenos Aires.  Assim como a capital argentina transformou Puerto Madero em um de seus melhores bairros, Belém criou uma de suas maiores atrações turísticas a partir de seu antigo porto.

A revitalização, terminada em 2000, não envolveu todo o Porto de Belém, é verdade, mas a área convertida em ponto turístico é grande. São três armazéns, distribuídos por 500 metros da baía. As características originais do complexo foram mantidas, com a estrutura de ferro inglês dos armazéns e os guindastes que eram usados no transporte das mercadorias para os navios.

Cada um dos armazéns tem um tema. O primeiro, chamado de Boulevard das Artes, é focado no artesanato regional. O número 2 é o da Gastronomia, onde ficam bares e restaurantes, enquanto o terceiro é um espaço de Feiras e Exposições.

Além disso, toda noite há música noturna no teto da Estação das Docas. Sim, no teto – os artistas cantam a partir de um palco deslizante que percorre o espaço acima das mesas. A lista de atrações inclui ainda espetáculos folclóricos, teatro, exibição de filmes e passeios de barco que dão outra visão de Belém e que saem da Estação das Docas.

O melhor programa? Vá para a Estação das Docas no fim do dia e procure por uma mesa do lado de fora, com direito a observar os velhos guindastes e o pôr do sol. Peça um chopp da Amazon Beer, uma cervejaria artesanal que funciona na Estação e produz ali seis tipos de cerveja. E, claro, não se esqueça de guardar espaço para o sorvete da Cairu.

A Estação das Docas funciona todos os dias, sempre a partir das 10h. O fechamento varia de acordo com o dia e o espaço (se dentro dos armazéns ou na orla, por exemplo), mas em geral o complexo fecha depois de meia-noite. Veja os horários e a programação no site oficial.

O endereço é Avenida Boulevard Castilho, sem número, mas basta perguntar pela própria Estação. Há estacionamento no local (pago) e é possível parar na rua também. Se você estiver hospedado no centro, dá para ir a pé. Faça isso, várias vezes ao dia, mesmo que seja apenas para admirar a vista.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Belém é fantástica ! Não fosse o forte calor, eu me mudaria para lá ! Cidade linda, limpa e civilizada... praças maravilhosas, bem cuidadas, Estação das Docas maravilhosas, povo simpático e alegre ! Teatro da Paz lindo, Praça da República muito linda, culinária deliciosa ! Mercado Ver-o-Peso, espetacular! Eu e minha esposa amamos Belém...

  • Estou viajando amanhã mesmo para Belém e não queria deixar de agradecer todas as suas dicas e sugestões.
    Abraço

  • Parece encantador, e é bom este tipo de matéria para vermos que Belém vai muito além do Açaí rsrs Encantador!

  • Esse lugar é realmente incrível, um passeio por toda a região histórica de Belém é show de bola. O Pará é muito diferente de todo Brasil o que mostra a imensidão e diversidade do nosso país.

  • Oi Rafa!
    A foto é do sorvete de açaí? É sem explicação de tão bom e cremsoso não é? São as duas coisas que me fazem morrer de saudades e vontade de voltar a Belém: a ilha de Mosqueiro e esse sorvete de açaí da Cairu.
    Vc foi à Feira do Açaí de madrugada? Adorei! Achei muito, mas muito legal! É como vc disse no primeiro post do Pará: parece outro país!

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Rafael Sette Câmara

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