Sachsenhausen, campo de concentração em Berlim

“O trabalho liberta”. É com essa frase que todos que atravessam os portões dos campos de concentração nazista são recebidos. A expressão, esculpida em ferro, é o primeiro dos muitos vestígios da ideologia disseminada por Hitler com a qual o visitante tem contato dentro dos muros e cercas de arame farpado de Sachsenhausen, o campo nos arredores de Berlim.

Construído em 1936, Sachsenhausen recebeu inicialmente apenas presos políticos, a maior parte deles comunistas. Dois anos mais tarde, os judeus presos em Berlim também passaram a ser enviados para lá – foram 6.000 só na primeira leva. Depois deles, vieram gays, opositores do regime, ciganos e Testemunhas de Jeová.

A gradativa transformação dos campos de trabalho forçado em campos de extermínio deixou clara a qual liberdade o lema gravado nos portões de ferro se referia. Para mais de 200 mil prisioneiros de Sachsenhausen, a única liberdade possível foi a morte.

Planeje sua viagem: Saiba onde ficar em Berlim

Visitar um campo de concentração nazista é um dos passeios mais intensos que você pode fazer na Alemanha. Como amante de história e, em especial, a do século 20, esse era também um dos passeios que eu mais aguardava na viagem.

Sachsenhausen fica pertinho de Berlim: são apenas 45 minutos de trem até Oranienburg (3 euros. Existe uma estação de metrô com o mesmo nome, por isso tenha certeza de que você está no sistema de trens S-Bahn). De lá, basta pegar o ônibus 804 até Gedenkstätte (1,40 euros) ou caminhar.

A visita é gratuita, mas é possível pegar um audio-guide, que vem junto com um mapa, por 3 euros (disponível em alemão, inglês, espanhol, francês, holandês e italiano). Se você entende bem alguma dessas línguas, eu aconselho o aluguel do guia.

É claro que é possível apenas ler os cartazes e painéis  – em inglês e alemão – distribuídos pelo campo, mas a visita fica seca. Sem ouvir os detalhes, as histórias das pessoas que passaram por ali e os fatos que ocorreram em cada canto de Sachsenhausen, o passeio perde um pouco da sua riqueza histórica e humana.

Da recepção, atravessamos um longo caminho cercado de árvores até o portão do campo. Esse foi um padrão que encontramos também no campo de Munique e fico me perguntando se ele não se repete nos outros. Durante a caminhada era impossível não pensar na marcha dos prisioneiros chegando ali, talvez mais amedrontados a cada passo que os levava para perto da morte e da tortura.

Lá dentro, Sachsenhausen é basicamente um grande descampado. A maior parte das cabanas que abrigavam os prisioneiros foi demolida, restando apenas uma marca de concreto e brita no chão. As que restaram foram transformadas em pequenos museus que contam o dia a dia dos presos.

Por causa  da localização próxima a Berlim, Sachsenhausen era um campo estratégico. Era ali que ficava o centro administrativo dos campos de concentração. Também era ali que os soldados nazistas eram treinados para depois irem servir em outros campos.

Em um dos momentos mais emocionantes do passeio, você se depara com os crematórios utilizados no processo de exterminar os presos. Um galpão onde experimentos médicos eram realizados em mortos, doentes ou voluntários também pode ser visitado. Parte das mortes que ocorreram dentro de Sachsenhausen foi resultado desses experimentos brutais.

Com o fim da guerra e a derrota da Alemanha, o campo passou ao domínio soviético, sendo utilizado novamente para o envio de presos políticos, inclusive muitos nazistas. Ainda que as técnicas de extermínio e os crematórios não fossem mais utilizados, cerca de 12.000 das 60.000 pessoas que passaram ali nesse período morreram de desnutrição e doenças. Isso até 1950, data de fechamento definitivo do campo. Após esse período, escavações encontraram valas comuns com 12.500 corpos – na maior parte de adolescentes, crianças e idosos.

O nazismo e o holocausto são muito abordados em filmes, livros e documentários. Apesar da gente achar que já sabe tudo sobre o tema, nada nos prepara para as cenas fortes, os resquícios do sofrimento e a energia devastadora que encontramos em um campo. Impossível não pensar que tudo aquilo aconteceu, e que foi bem ali, onde você está agora. É longe das telas de cinema e dos livros que história fica mais real.

Serviço

Endereço

Memorial and Museum Sachsenhausen
Strasse der Nationen 22, 16515 Oranienburg

Entrada gratuita
Audioguide: 3 euros.

Horário de funcionamento: 

de 15 de março a 14 de outubro: todos os dias, das 8h30 18h
de 15 de outubro a 14 de março: todos os dias, das 8h30h às 16h30

Os museus dentro do campo fecham às segundas

Extras: 

O lugar não possui lanchonetes ou máquinas de lanches, por isso, leve uma garrafa de água. Mas há um café do lado de fora do campo.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

Ver Comentários

  • Onde você se informou que o corpo de Hitler esteve sob o domínio russo? O corpo de Hitler jamais foi encontrado. Inclusive, há boatos e relatos que ele se refugiou na América do Sul, na Argentina, mas nunca nada foi comprovado.

    • Me desculpe, mas estou muito confusa com o seu comentário. Em nenhum momento no texto eu falo que o corpo de Hitler esteve sob domínio russo. O que eu digo é o campo de concentração de Sachsenhausen passou para domínio soviético. Acho que você se confundiu ao ler o texto.

      Abraços

    • Ana, a visita pode ser feita pelo no mínimo em 2 horas. Não precisa agendar, mas é importante a locação do aparelho de audio a 3 euros e tem tradução em portugues. Outro detalhe pode locar somente 1 aparelho para um grupo pequeno de pessoas.O audio é com bom volume.

  • Bom dia, gostaria de saber se consigo comprar o ingresso no próprio dia e no local, ou se há necessidade de comprar com antecedencia por lotar muito e acabar? A qualquer horário que eu chegue consigo comprar o ingresso ou há horários específicos de saída? procurei estas informaçoes em sites mas nao encontrei. Obrigada

  • Minha Eurotrip vai ser em dezembro e janeiro. Gostaria de saber uma opinião sobre o roteiro: Paris 5 dias, amsterdã 3 dias, Berlim 3 dias, Veneza 3 dias, Florença 3 dias, Roma 5 dias, Barcelona 4 dias, Madri 2 dias, lisboa 2 dias. Esse dias são suficientes nas respectivas cidades ou posso fazer uns ajustes. Desde já, grato.

    • Sílvio, para mim está bem. Talvez ficará alguma coisa de fora, mas nunca dá para ver tudo, não e mesmo?

      Abraços!

  • Muito bom todos as postagens de vcs. Gostaria de saber qual vale mais a pena, esse campo ou o de Dachau? O tempo da viagem é curto e gostaria de aproveitar ao máximo, mas não abro mão de visitar um campo de concentração... PS: para aproveitar a cidade que fica os campos, qual a cidade melhor? Bar, restaurante, ponto turistico, etc

    • São ambos de concentração. Este vi-o agora em finais de Dezembro e arrepia um pouco pelo seu conteúdo. O outro não vi portanto não me posso pronunciar. Mas gostava de ir a um de extremínio. Esses sim, são e pelo que ouvi dizer, muito mais violentos e arrepiantes.

      • Oi Diogo, esse ano estive em Auschwitz e me impressionou bastante também, apesar de que a atmosfera dos campos da Alemanha é um pouco mais triste porque é menos turístico e não tem tantos grupos com guias caminhando pelo lugar, é uma experiência mais solitária. Foi a minha impressão...

        Abraços!

    • Ei Filype, os dois valem a pena. Dachau era um campo mais importante que Sachsenhausen, mas Berlim é uma cidade mais legal que Monique (na minha opinião, pode ter gente que vai te dizer o contrário...). Enfim, qualquer um que você escolher vai estar bem, decida pelo que você acha que vai gostar mais.

      Abraços!

  • Olá!
    Estive em Sachsenhausen em 2013 e achei impressionante. Uma atmosfera pesada toma conta do lugar. Como fui com excursão passei por tudo de maneira bem rápida. Esse ano pretendo ir a Berlim com meus pais e leva-los ao Campo de concentração.
    É tranquilo arrumar um taxi da estação Oranienburg para o campo e do campo para a estação? Não sei se meus pais se aventurariam a ir de ônibus ou a pé...

    • É um passeio bem pesado! Não sei te informar se têm táxis ali na porta, é uma cidade pequena. Eu fui de ônibus, é bem tranquilo porque o ponto é bem em frente à estação e deixa bem na entrada. Depois disso ainda tem uma caminhadinha, mas isso já é dentro do campo.

      Abraços

  • Fui neste campo em 2011. Digo que muitos de meus pensamentos mudaram depois desta visita. Horrível, ambiente pesado, me lembro até hoje o cheiro que senti ao entrar nos barracões. Mas por outro lado, um passeio que não me arrepende nenhum minuto de ter realizado, muito pelo contrário, aprendi muito e mudei meu modo de pensar. Lembro de ter ouvido uma estória dos gays, que andavam por mais de 12 horas nesses caminhos de pedras com sapatos dois números menores que seus pés, para amaciar as botas para os soldados alemães. A zona neutra e a câmara de gás também foram lugares arrepiantes! Super vale a visita ...

    • é muito marcante, Mariana! Que bom que você teve esse sensibilidade toda de entender a visita. Não é todo mundo que dá o devido valor a esses lugares.

      Abraços

  • Boa tarde! Estou planejando ir ao Campo de concentração em Agosto, gostaria de saber quanto tempo é em média no campo para aproveitar a visita ?? Muito obrigada. Adorei o post.

  • lembro do dia que visitei como se fosse ontem.
    estávamos eu e uma amiga e fomos andando por Oranienburg. no caminho, vendo aquela cidade super bonitinha e bem cuidada, fomos refletindo o que se passava na cabeça das pessoas que moravam tão perto do campo e ao mesmo tempo tão longe da sua realidade.
    dentro da campo talvez eu tenha tido o maior impacto, pois hoje é um lugar verde com toque de cenário cinematográfico. e ao comparar com as fotos parece que é um lugar completamente diferente.
    e, por fim, como toque melancólico, estava eu sentando num canto e um passarinho pousou do meu lado. em seguida lançou voo para fora dos muros. imaginei um prisioneiro vendo esse pequeno gesto de liberdade.

    (Sachsenhausen foi um dos lugares que mais mexeu comigo até hoje)

    • Também foi um dos lugares que mais me marcou, Thiago. Acho que é um visita que todos deveriam fazer.

      Abraços

  • Gostaria de saber se perderia muita coisa indo na degunda e não conhecendo os museus.
    Outra pergunta, quanto tempo leva este passeio, desde a saida em Berlin? Melhor pela manhã ou tarde?
    Obrigada

    • Rosana, no seu lugar eu remanejaria a agenda sem hesitar. É realmente impressionante, mas caso esta seja sua única opção, não desista.
      Boa viagem!

    • Ei Rosana, sem os museus a visita perde muito o valor histórico, eu não aconselharia. Mas isso vai de você, se você tem interesse em história, se acha importante ter mais informações a respeito do que se passou ali. Sobre ser de manhã ou a tarde, tanto faz. Organize de acordo com a sua disponibilidade!

      Abraços!

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Natália Becattini

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