Visita ao Coliseu de Roma: curiosidades e dicas

Para não morrer nas garras de animais selvagens, 29 prisioneiros fizeram um acordo. Eles matariam uns aos outros, nas celas da prisão, minutos antes do espetáculo começar. Isso aconteceu no Coliseu de Roma, construído entre 72 e 80 d.C. E não foi um caso isolado.

Em quase dois mil anos, o Coliseu viu muita história rolar. E muito sangue também. Cerca de 500 mil pessoas e um milhão de animais selvagens morreram dentro das paredes do anfiteatro, segundo estimativas de historiadores. O Coliseu foi cenário para todo tipo de entretenimento, err, saudável. Batalhas de gladiadores, execuções, lutas de homens contra feras e até, acredite se quiser, batalhas navais, quando a arena era enchida com água e o povo duelava até a morte dentro de navios. Tudo isso para a alegria de 50 mil espectadores, claro. Só faltava a pipoca.

Mas não deixe esse mar de sangue te assustar. Seja por conta da história ou da arquitetura, a visita ao Coliseu é uma das coisas mais marcantes que você pode fazer em Roma. Antes de falarmos sobre o que você vai encontrar por lá, mais um pouco de história. A história do nascimento do maior anfiteatro já feito.

História e curiosidades do Coliseu

Erguido durante a dinastia Flaviana, o Coliseu foi uma jogada política do imperador Vespasiano. É que o povo não estava muito feliz com o governo, tudo culpa de Nero, que tinha governado Roma alguns anos antes. Para quem não se lembra, naquela época a cidade foi destruída pelo fogo – incêndio que começou, garantiam os fofoqueiros de plantão, por ordem de Nero.

Quando o Imperador resolveu ocupar uma das áreas destruídas pelo incêndio com um enorme palácio, bem, o boato pareceu ter mais sentido ainda. O resto é história: Nero se matou, Roma entrou em crise e vários imperadores nem esquentaram o trono direito e logo sofriam impeachment (leia: eram assassinados ou suicidados).

Até que chegou Vespasiano. Como bobo ele não era, bolou duas formas de tornar o seu governo popular: guerra e entretenimento, necessariamente nessa ordem. Foi durante o governo de Vespasiano que Roma esmagou a rebelião dos judeus, invadindo Jerusalém. Eles destruíram o templo e saquearam o ouro dos judeus. Para celebrar a vitória (e com a grana extra que o Império recebeu nessa brincadeira), Vespasiano resolveu construir um grande anfiteatro, espaço para shows, espetáculos e matanças, enfim, tudo aquilo que iria acalmar o povão.

Aí veio a jogada de mestre: que lugar seria melhor que a área que Nero tinha surrupiado para seu palácio, logo depois do incêndio? O anfiteatro começou a ser construído em 72 d.C e foi concluído em oito anos, com a ajudinha de dezenas de milhares de escravos, entre eles judeus.

Veja também: Onde ficar em Roma

O nome oficial da mais famosa arena multiuso romana era Anfiteatro Flaviano, uma homenagem à dinastia que ergueu, inaugurou e ampliou a construção (Vespasiano, Tito e Domiciano). Mas e o nome Coliseu, vem de onde? Olha a ironia: vem de Nero, pelo menos segundo a arqueóloga que faz a visita guiada ao monumento. É que uma enorme estátua do antigo imperador, de 40 metros, feita em bronze dourado, representando Nero como o Deus Sol, ficava ali: o anfiteatro foi construído no local onde ficava o palácio de Nero. A solução da população após a queda de Nero foi trocar a cara da estátua grandiosa para um Deus Sol mais genérico, e a estátua gigantesca ficou apelidada de Colosso, por conta da semelhança com o Colosso de Rodes. O apelido da arena continuou mesmo depois da estátua ter virado pó.

Durante quatro séculos, tudo seguiu em paz no Coliseu. Banho de sangue para lá, matanças diárias para cá, enfim, tudo conforme o planejado. Nesse meio tempo, a busca romana por animais selvagens acabou com algumas espécies no norte da África. Até que, para sorte dos animais, o Império ruiu. E o Coliseu também.

Vários terremotos, incêndios e saques colocaram o Coliseu no chão (2/3 da fachada original foram perdidos). Já na Idade Média e sem uso, o Coliseu virou uma espécie de pedreira. É sério isso. O material usado na construção de diversas igrejas de Roma era, na realidade, parte das ruínas do anfiteatro. Provavelmente esse foi o destino da tal estátua de Nero, que parou de ser citada nos registros históricos durante a Idade Média.

O Coliseu só não sumiu do mapa porque a Igreja, por volta do século 17, passou a defender que o local deveria ser motivo de peregrinação e respeito, afinal inúmeros cristãos teriam morrido ali. Hoje, quase dois mil anos depois que Vespasiano ordenou o começo das obras, o Coliseu é um dos monumentos mais visitados do planeta e uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.

Como visitar o Coliseu de Roma: ingressos e dicas

Antes de mais nada, tenha em mente que a visita ao Coliseu é parte de algo muito maior. O anfiteatro está ao lado do Fórum Romano, coração da antiga Roma, e do Palatino, casa dos imperadores. O ticket dá entrada aos três monumentos. Mas, a não ser que você tenha pouco tempo na cidade, evite cometer o erro de ver tudo isso no mesmo dia.

Só o Fórum Romano tem atrações para um dia inteiro. A visita ao Coliseu tende até a ser mais rápida, mas é interessante passar um tempo longo por lá, imaginando como eram as lutas de gladiadores e refletindo em tudo que aquelas paredes já viram. Por isso, reserve dois dias para ver todo o complexo com calma. A parte boa é que o mesmo ingresso vale para dois dias seguidos.

Veja também: O mapa do Fórum Romano, monumento a monumento

Outra dica importante: em poucos monumentos a fila de espera é tão grande, ainda mais em alta temporada. Por isso, uma solução é entrar pelo Palatino, onde as filas são menores (o mesmo ingresso permite a entrada pelas duas portarias). Mas menores não quer dizer que sejam pequenas. Nós ficamos um bom tempo na (confusa) fila do Palatino, durante um mês de outubro.

Outra alternativa é visitar o Coliseu de noite. É que além da beleza das luzes da noite, esse tour, feito em grupos bem menores, te dá o direito de pisar na arena e no subsolo do prédio, onde ficavam os gladiadores e os animais! Infelizmente esse tour não estava disponível quando eu estive no Coliseu (a arena e o subsolo estavam fechados para reforma), mas você pode ir lá e me contar suas impressões. O passeio ocorre toda quinta-feira, às 21:10, e conta com um guia local.

Para evitar o tempo perdido, a melhor coisa que você pode fazer é comprar seu ingresso online. Eu não fiz isso e me arrependi, mesmo pegando a fila do Palatino. Há uma taxa de reserva pela internet, com isso o ingresso sai um pouco mais caro, mas vai por mim: vale a pena. Mais detalhes sobre todos os ingressos no site oficial .

Foto: Diliff, Creative Commons

Coliseu de Roma: informações práticas

Para chegar ao Coliseu, pegue a linha B do metrô e desça na estação Colosseo. Os ônibus 75, 81, 673, 175 e 204 também param na região, assim como a linha 3 do trem. Também é possível ir a pé, afinal o Coliseu está numa área bem central, mas isso depende também da localização do seu hotel.

O Coliseu abre durante todo o ano, exceto nos dias 25 de dezembro e 1º de janeiro. O horário de funcionamento varia ao longo do ano, por conta da hora do pôr do sol. Isso não afeta as visitas noturnas, em grupos menores, que foram citadas acima.

De 30 março a 31 agosto o encerramento é às 19:15
De 1º setembro a 30 setembro o encerramento é às 19:00
De 1° outubro a 30 outubro o encerramento é às 18:30
De 31 outubro a 15 fevereiro o encerramento é às 16:30
De 16 fevereiro a 15 março o encerramento é às 17:00
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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Boa Tarde Rafael,
    Chegarei em Roma no dia 30/04 e tinha programado inicialmente ir ao Coliseu no dia 01/05. Li em outro site que o Coliseu e outras atrações não abrem nesse dia. Poderia me ajudar?
    obrigado

  • Visitamos ontem o Coliseu e achamos incrível. Uma dica legal é ir bem cedo no Coliseo, que fica mais vazio, e depois já ir direto no Fórum Romano. Vimos tudo em umas cinco horas. É lindo demais e tem MUITA coisa para ver.

  • Primeiramente, parabéns pelo site de vcs!
    Agora, gostaria de saber de vcs(se possivel), quanto eu gastaria numa viagem de um mês pela Itália.. Sendo que sem hospedagem, pois tenho amigos italianos e vou ficar na casa deles, uma mora em Fiorenzuola d'Arda, outra em Piazenza estou programando essa viagem em comemoração pela minha formatura, daqui 3 anos.. Desde Já, agradeço!

    • Oi, Fernanda. Acho que uma boa base é pensar em 60 euros por dia, mais as passagens e seguro de viagem.

      Dá pra ficar mais barato e mais caro que isso, mas essa é a média para uma viagem econômica. Isso sobe em cidades como Roma, mas abaixa um pouco em outras partes do país.

      Abraço.

  • Oi Rafael. Estive na Itália recentemente. Visitei todo o complexo Fórum Romano, Palatino e Coliseu em um dia só, mas confesso que foi extremamente puxado, ainda mais porque estava um dia de sol intenso. Fiz um vlog para compartilhar a experiência. Se puder, dá uma olhadinha lá. https://www.youtube.com/watch?v=r0j-dTu0HS8

    • Pois é, Luciana. Acho puxado mesmo. Tem coisa para dois dias de passeio, tranquilamente.

      Vou olhar seu vídeo sim. ;)

      Abraço.

  • Excelente relato e muito boas as as informações. Não sabia da possibilidade de visitas noturnas e ainda por cima acrescidas do bônus de acesso a entrada na arena.

    Prá ficar perfeito e completo só faltou falar que nos primeiros domingos do mês, exceto janeiro, as entradas são gratuitas, emboras as filas sejam colossais.

    • Oi, Hosana. Ótima essa informação do domingo gratuito. Vou acrescentar (apesar de ter medo dessa fila, hahaha).

      Abraço.

  • Que bom saber que é possível visitar o Coliseu à noite. Melhor ainda é pisar na arena, achei que não fosse possível. Fica para a próxima :D
    Parabéns pelo artigo ;)

  • Minha dica do Coliseu:
    Não vá de elevador, é sério!
    Lá dentro tem um elevador panorâmico, para não ter que ficar subindo todas aquelas escadas milenares entre um andar e outro.
    Mas óbvio que um lugar construído há uns dois mil anos não é lugar para um elevador né?!
    Resultado, fiquei preso no elevador, com uma galera de tudo quanto é lugar no mundo e tivemos que ser resgatados pelos bombeiros, ou um pessoal que usava um uniforme parecido! kkkkkkkkkkk

    • Que coisa, Leonardo.

      Não é qualquer um que tem que ser resgatado do Coliseu. hehe

      Abraço.

  • A foto anterior ao "Como visitar o Coliseu de Roma: ingressos e dicas" é muito interesssante pois possui elementos divergentes(asfalto, construções perceptivelmente de épocas diferentes) e é muito ampla. Estou viajando nessa foto!

    Eu iria preferir fazer igual ao 29 prisioneiros.Que coisa visivelmente horrível e dolorosa deve ser alguém sendo devorado vivo.

    Sim,o Rafael sabe muitos fatos e como compartilhar de maneira instigante!
    Isso é admirável!!

    • Roma é toda assim, Natália. Cada foto, cada imagem mostra várias camadas de tempo. É por isso que é uma cidade especial.

      Obrigado pelo elogio.

      Abraço.

  • O coliseu não é das minhas atrações preferidas, mas você tem um jeito tão gostoso de contar histórias, Rafael! Elogio é bom e todo mundo gosta. Parabéns!

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Publicado por
Rafael Sette Câmara

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