Piscinas naturais e recifes: o risco sob nossos pés

Quando eu postei aqui no blog sobre coisas que turistas precisam parar de fazer, um dos pontos era pegar conchinhas na praia. Algumas pessoas me questionaram: Ahh, mas por que isso é um problema? Que mal tem pegar uma simples conchinha para guardar de lembrança ou fazer uma coleção? Veja bem, a questão é quando você não é a única pessoa a fazer isso – se dos 5 mil banhistas que passarem naquela praia por dia, 500 pegarem uma conchinha, o que isso significa para o meio ambiente?

Agora pense no problema que isso vira quando as pessoas caminham por um recife. As praias do Nordeste são cheias deles. Também chamados de arrecifes, são formações rochosas submersas, próximas a costa e em área de pouca profundidade. Ali concentra-se muita vida marinha e também são eles que formam as maravilhosas piscinas naturais que tornam o litoral do sul de Pernambuco especial, como em Porto de Galinhas ou na Praia dos Carneiros.

Em Porto, há uma restrição, desde 2009, no acesso às piscinas. A área aberta é de apenas 7% do total. Mas não há medidas tão restritivas quanto em Fernando de Noronha, por exemplo, onde é completamente proibido pisar nos corais em algumas áreas.

Jangadas em Porto de Galinhas

O problema mais claro fica por conta das piscinas naturais que se formam na beira da praia. Ou seja, a zona dos recifes – e dos peixinhos que ali vivem – e que não demanda barco para ter acesso. É o que acontece na paradisíaca Praia dos Caneiros ou em Boa Viagem.

A recomendação nessas praias costuma ser para você não andar lá descalço, para não machucar os pés. Veja bem, eu caminhei próxima a um recife em Carneiros, o que me motivou a escrever este post, e, no meu andar, percebi que estava destruindo alguma coisa. Saí dali. Há incontáveis bichinhos ali, visíveis ou não. A própria estrutura do recife é viva. Andar de chinelo ou sapato de neopreme só vai te fazer não sentir os bichinhos sendo esmagados pelo seu caminhar. Agora multiplique isso por mil, diariamente. Qual será a conta?

Para começar, a densidade total da fauna, com a destruição da vida e habitat de pequenos crustáceos, tende a diminuir. Segundo esse estudo da UFPE, nos trechos de recifes em Porto de Galinhas onde o acesso é livre aos turistas houve uma redução de 55% na quantidade de animais que vivem em meio às algas.

Em pouco tempo, fora todos os animais que não conseguimos ver, serão bem menos peixinhos coloridos a nadar por aquelas águas. Mas se é fácil ver como as ações humanas desequilibram o meio ambiente quando elas voltam para te morder com dentes enormes, como no caso dos tubarões, que passam a atacar humanos por conta de problemas ambientais, essa associação não é tão fácil assim quando a gente está caminhando por aquelas formações à beira-mar como se não estivesse causando nenhum problema. Os recifes danificados levam até 200 anos para se recuperarem totalmente.

No final das contas, todas nossas ações têm consequências sérias e mais cedo ou mais tarde a conta vai chegar. Claro, cabe aos órgãos responsáveis restringir o acesso, fazer rodízios entre as áreas que recebem turistas, criar campanhas de conscientização. O mínimo que nós podemos fazer é ficar atentos às nossas próprias ações e evitar se juntar ao pessoal do “ahh, mas quem se importa, estou de férias”.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Estou neste exato momento na Praia de Carneiros, onde acabei de voltar de um passeio onde deixavam os turistas andar sobre os corais, cheguei até seu artigo pesquisando se o assunto não seria um crime ambiental. Embora seja bonito de se ver, enquanto todos ficam alucinadamente tirando selfies e fazendo caras e bicos pisoteando os corais, me bateu uma tristeza... Já visitei locais semelhantes onde não se permite tocar ou sequer chegar perto dos Corais. Deprimente e lamentável.

  • É bem triste Luiza

    É bem triste ver isso e o povo achar que é normal, que aquilo é apenas uma rocha. Um dia já existiu vida ali e em alguns lugares ainda existe, mesmo que não seja visível a olho nu. Morei em Recife por alguns meses e frequentemente visitava Porto e o que mais se ouvia era o povo dizendo: ah, é apenas rocha, nada vai acontecer, já está destruído mesmo.

    Dava raiva de ver a galera farofeira fazendo festa em cima dos recifes, mas medidas não são tomadas. E pior que não é só lá que isso acontece. Na road trip que fiz ate Rio Grande do Norte, pude ver que o litoral todo do nordeste brasileiro, saindo desde o norte da Bahia até Rio Grande do Norte, os recifes são presentes, mas pouco protegidos.

    Abraços

    • é bem complicado mesmo Flávio. É preciso muita campanha de sensibilização e fiscalização para mudar isso.

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Luiza Antunes

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