A história de Ipoh, cidade perdida no espaço

Não há dúvidas de que o planejamento de viagens é uma coisa importante. Por isso, mantemos um blog cheio de dicas para que vocês, caros leitores, não se metam em roubadas. Mas acontece que todo mundo se mete em roubadas – inclusive nós – pela falta de planejamento.

Essa história aconteceu assim: Estávamos os três no quarto, sentados na cama, planejando uma viagem de 17 dias pela Malásia. Iríamos a Kuala Lumpur, fazer uma day trip em Malaca e depois seguir para Langkawi.

Não sei de quem foi a brilhante ideia, mas esse não é o momento para culpas. Mas alguém, que pode ter sido eu, disse: “Então, de Langkawi a Kuala Lumpur é distante, estou vendo aqui no Google Maps. Tem essa cidade aqui no meio do caminho, Ipoh, acho que podemos passar uma noite lá, para não gastar tanto tempo viajando”.

Aviso: negligência no planejamento de viagens dá mais azar do que gatinhos pretos fofinhos

Não, ninguém viu a grande troll face que se formou acima de nós enquanto pesquisávamos transporte de Kuala Lumpur para Ipoh. Se você conhece a Malásia, já deve ter entendido nosso erro. Se não, aguarde algumas linhas. O Rafa entrou em contato com uma colega de não sei quem, que conhecia a Malásia, e essa Fulana falou maravilhas de Ipoh. Que era uma cidade muito legal, que tinha várias coisas para fazer.

Ok, dito isso, por favor, confiram a imagem abaixo. Jogo do erro: você consegue descobrir o nosso?

São quatro horas de Kuala Lumpur até a cidade onde você pega o Ferry para Langkawi. Como Ipoh fica exatamente no meio do caminho, são exatas duas horas dali entre os pontos de chegada e partida. Agora me conta: quem em sã consciência decide fazer uma parada estratégica para descansar num trajeto de quatro horas, quando o ponto de descanso está a apenas duas horas do início da viagem?

Antes que você nos chame de burros, a resposta, na verdade, é: quem mora na Índia. Lá, um trecho com metade da distância levava quatro horas para ser percorrido. Depois de viver quase cinco meses nessa lógica, nosso sentido aranha estava abalado.

Mas tudo bem, você pode pensar, afinal em Ipoh tinha muito para fazer, não é mesmo? Não! Pegadinha novamente. Ao redor de Ipoh até tem algumas opções turísticas, cavernas e montanhas. Mas a cidade em si não tem nada além de algumas construções meio inglesas.

Ficamos lá dois dias, dos quais metade gastamos procurando um hotel que aceitasse nos hospedar e metade ficando perdidos procurando o caminho de volta para esse hotel, depois de passear pela cidade.

Pode rir, mas eu e a Naty gastamos horas discutindo o caminho e tentando encontrar uma lógica. A cidade, descobrimos, tinha um quê de labiríntica. Duvida? Uma parte do nosso tempo nós também gastamos roubando o Wifi do McDonalds. Acontece que, ao dar check in ali, a mensagem que aparecia no aparelho dizia que estávamos em Denver, Estados Unidos. Prova de que Ipoh é um portal no espaço-tempo, um lugar que só estava esperando blogueiros de viagem passarem por lá para ficar mundialmente conhecido.

Como uma blogueira que nunca pisou nos Estados Unidos (no caso a Naty) tem fotos em Denver? Basta ir ao McDonnalds de Ipoh

Viu? E você achando que essa era uma história de erro de planejamento… O importante é que conseguimos fugir do looping espacial que poderia ter nos tragado para sempre. Por via das dúvidas, os blogueiros do 360meridianos não aconselham a nenhum viajante a pernoitar em Ipoh. Uma day trip para conhecer as cavernas ao redor (se você fizer muuuita questão) basta. Vai que você fica preso lá sem nada para fazer também?

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Curto muito as histórias e dicas do 360meridianos,mas tenho uma ressalva. Recomendar a viajantes que não visitem um determinado lugar não é muito legal em minha opinião. Experiências de viagem são bastante individuais e uma recomendação negativa de certa forma influência ou restringe a expectativa do viajante. Afinal, viajar é se libertar!

    • Oi Adriano,

      Desculpe, mas nós não recomendamos que as pessoas não visitem Ipoh, pelo contrário, deixamos um link para o post com as atrações e explicamos que é uma cidade que rende um dia de passeios.

      No mais, é um post bem humorado sobre a nossa experiência por lá.

    • Mas Alynne, quantos dias você vai ficar na cidade? Porque bastam algumas horas para visitar tudo! hahaha

  • Ameei ter chegado nesse post! Estava justamente incluindo Ipoh como uma possível parada no caminho entre Kuala Lumpur e Penang.. :) Beijos

  • Concordo com o Matheus, adoreiiii o texto Luíza :-) e tive que concordar , quem mora na Índia fica meio abalado em termos de distância.

  • Sempre que eu entro no 360, leio uma coisa interessante.
    Ri muito aqui com o Post, definitivamente o melhor blog de viagens de todos os tempos

  • Só uma pergunta, o que você realmente quis dizer nesse parágrafo? Li umas 4 vezes e ainda não consegui compreender... acho que tá faltando alguma coisa.

    "Antes que você nos chame de burros, a resposta, na verdade, é: quem mora na Índia. Lá um trecho com metade da distância que levava quatro horas para ser percorrido. Depois de viver quase cinco meses nessa lógica, nosso sentido aranha estava abalado."

    • Oi André,

      Tinha um "que" sobrando na frase, já corrigi lá no texto. Dá uma olhada se você acha mais claro, por favor!

      Obrigada por comentar.

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Luiza Antunes

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