Crônicas de Viagem

5 experiências de viagem que mudaram minha vida

Nós sempre comentamos aqui no blog o quanto viagens podem mudar a vida das pessoas – as nossas vidas mudaram desde que fizemos as malas. O problema é que essas mudanças muitas vezes são subjetivas. Mesmo assim, resolvi listar alguns momentos que marcaram minha vida durante viagens. Momentos que me fizeram, de certa forma, repensar tudo o que eu já havia vivido até então. Quem sabe vocês não se identificam?

1. Perceber o tamanho do mundo

Os Estados Unidos marcaram minha vida como o primeiro país que eu morei fora do Brasil. Foram quatro meses muito intensos. Lá, vivi coisas inesquecíveis, como ver neve e esquiar pela primeira vez, sobreviver a um frio de menos 30 graus e trabalhar 10 horas por dia no McDonalds. Enquanto eu conhecia pessoas novas e tinha certa dificuldade em me comunicar apropriadamente em inglês, me dei conta de algo que me marca até hoje: o tamanho do mundo.

De repente, num estalo, eu percebi que enquanto estávamos lá, vivendo a vida em meio ao gelo e neve com aquelas 1000 pessoas que habitavam a cidade de Lincoln, as pessoas no Brasil seguiam sua rotina. E havia outras 7 bilhões no mundo, gente que eu dificilmente ia conhecer, mas que, de certa forma, eram muito parecidos comigo.

Eu me lembro da primeira vez que esse pensamento passou pela minha cabeça, enquanto voltava a pé para casa, depois de um dia particularmente difícil de trabalho, sem conseguir conversar direito com as pessoas. Eu me desviei do caminho e continuei caminhando pela cidade, refletindo sobre isso.

Nem sempre a gente tem tempo de refletir sobre o tamanho do mundo. Mas quando essa imensidão nos dá um tapa na cara, muda a nossa vida.

2. Ficar perdida num lugar estranho pela primeira vez

Por acaso, também foi nos Estados Unidos que essa experiência aconteceu. Eu estava em Nova York pela primeira vez e depois de ter morado três meses numa cidade minúscula, estava impressionada com o tamanho da metrópole mais televisionada do mundo.

Eu fiquei perdida em Nova York depois de caminhar umas três horas no Central Park. Fui parar numa parte da cidade que eu não sabia onde era, nem onde havia a estação de metro mais próxima. Estava faminta e cansada. Mas sentar e chorar não era uma opção. Geralmente nunca é.

Na maioria das vezes, o processo de abrir um mapa e tentar se encontrar é divertido e mágico. Explorar sem saber onde o caminho termina. Mas, às vezes, também é o processo mais cansativo e tortuoso que você poderá viver naquele momento.

Situações como essas te lembram que nem mesmo o roteiro mais planejado dá certo sempre. Que não temos, e não precisamos ter, controle sobre tudo o tempo todo. Que virar numa rua para o lado errado vai te fazer lidar com o desconhecido, e nem sempre esse vai ser o momento mais apropriado. Mas o jeito é respirar fundo e encarar o problema. 

3. Conhecer algo muito diferente

Eu sempre vou me lembrar de quando vi o sol nascer no Himalaia. Mesmo tendo morado na Índia e explorado um monte de países do sudeste asiático, essa foi uma das experiências mais marcantes da minha volta ao mundo. Porque foi ali que eu praticamente precisei me beliscar para acreditar que o que estava na minha frente era real.

Não precisa ser o Himalaia para você, pode ser o Panteão em Roma ou a Ilha de Páscoa no Chile. Ou mesmo algum lugar no Brasil. Mas essa sensação de que você chegou num lugar que nunca pensou que iria chegar, de querer gritar para todo mundo: “AHHHH Consegui! Não acredito!”, isso é maravilhoso.

Nós em Pokhara, Nepal

Perceber que além de imenso, esse nosso mundão também é lindo e é de verdade. E ver isso com os próprios olhos, sentir os cheiros, estar próximo, tudo isso é maravilhoso. Te faz pensar em aproveitar mais a vida.

Foi a lembrança de um nascer do sol que colaborou para que eu não quisesse mais continuar numa rotina que não me fazia feliz. E que me motiva até hoje a querer descobrir outros momentos como esse pelo mundo.

4. Ver a nós mesmos sob outra perspectiva

Viajar e morar fora em diferentes países mudou muito a visão que eu tinha do Brasil. Eu nunca odiei nosso país, nem nunca fui cega aos problemas que existem aqui. Mas viajando consegui ver com mais clareza muitas coisas sobre nossa cultura, que não costumava refletir estando aqui.

Nós nascemos em um país lindo, um dos mais queridos do mundo e, em muitos sentidos, privilegiado. Mas que também tem problemas gigantes para acompanhar seus benefícios. Você pode descobrir, na Europa, que esse complexo de “terceiro mundo” é um tanto quanto exagerado e bastante preconceituoso com nós mesmos.

Corrupção, bagunça e falta de educação existem em qualquer lugar do mundo. Ao mesmo tempo, é chocante se dar conta de como nós normalizamos nossas desigualdades e nem ligamos de viver essas disparidades, essa cultura de que um é melhor do que o outro por conta do dinheiro.

Trichy, Índia

Foi a Índia, sem dúvida, que mais me ensinou sobre o Brasil. Viver num país mais pobre, mais bagunçado e mais cheio de contrastes do que o nosso me deu uma nova perspectiva. A certeza de que não adianta ter uma posição de “não é minha responsabilidade”. É responsabilidade de todo mundo e cabe a cada um de nós encontrar uma forma de tornar o mundo, e o nosso país, um lugar melhor.

5. Voltar para casa

Eu estava conversando com as meninas que moravam comigo em Portugal. Elas estavam em seu primeiro intercâmbio e eu no meu terceiro. Todo dia elas viviam uma nova aventura e choque cultural. Um dia numa conversa, disse a elas para se prepararem para o maior choque de todos: a volta para casa.

É aquela sensação estranha que começa a surgir quando o avião anuncia que vai descer. Se você estiver próximo à janela, vai olhar para baixo e tentar reconhecer aqueles lugares que eram tão familiares. E então você começa a andar por ruas que tanto conhece e reencontra todo mundo, mas uma parte de você fica tentando achar sentido no fato de tudo estar tão igual e você se sentir tão diferente.

Essa sensação não acontece só com quem fica muito tempo fora. Às vezes, uma viagem de uma semana pode ser tão impactante e transformadora que o sentimento de deslocamento na volta para casa também existe. Nem sempre essa sensação passa, nos só aprendemos a lidar com ela. 

E aí, qual é o seu momento mais marcante?

*Crédito fotos: 360meridianos e Pixabay

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Oi Luiza,
    agora vc me fez sorrir. Lembrar os momentos que nos marcarem e nos fizeram pessoas diferentes em cada viagem, é um exercício que deveriamos fazer regularmente, para nos relembrar quem é a pessoa que queremos realmente ser.
    Os meus momentos mais marcantes foram: quando cheguei à Torre Eiffel com 15 anos, numa viagem da escola e liguei ao meu pai emocionada com o momento; quando andei de camelo no deserto do Sahara, quando testemunhei a felicidade da minha mãe e da minha avó ao entrar no Vaticano, quando fiz um trekkin no glaciar perito moreno e quando vi ao vivo as inexplicaveis paisagens do Parque Nacional Torres del Paine. :)
    Beijo,
    Joana

  • Que legal, adorei seu texto! Morei três anos fora do Brasil e me identifiquei muito com a volta pra casa, aquela sensação de que tudo aquilo não te pertence tanto quanto antes... Muito louco.
    Mas, pra mim, nada se compara como ver uma coisa nova, a primeira vez de um lugar novo... Isso é que me move a viajar... A emoção, a adrenalina, os olhos se enchendo d'água, esta sensação que faz com que a gente esqueça todos os perrengues pra chegar naquele lugar e ter certeza que valeu a pena!

  • Tenho 15 anos e fiquei 1 mês em Los Angeles. Foi pouco tempo mas me indentifiquei com quase tudo ai, desde vêr o por do sol da janela do meu apartamento desde de me perder e ir parar em ruas totalmente desconhecidas, e realmente te faz pensar sobre muita coisa. Todos os dias quando eu colocava meus pés na calçada da fama simplesmente para ir pro curso eu me sentia como você vendo o por do sol no Himalaia e tudo oque eu pensava era "Caramba, eu sou muito sortuda!" ou "Eu realmente estou qui ?". Meu coração aperta de saudades de lá, mas descobri também um amor imenso por esse Brasil!!

  • Luiza,
    Em duas frases no item 5 vc resumiu algo que eu sempre senti e nunca soube explicar em palavras!
    O sentimento de deslocamento pra mim uma vez instalado nunca passou, e se torna mais intenso a cada volta de uma viagem. Me sinto constantemente tentando aprender a lidar com ele.
    Por outro lado noto que "o fato de tudo estar tão igual e você se sentir tão diferente" pode trazer algo de positivo pra nossa vida... Hoje tento olhar o tudo igual de outros ângulos e vivê-lo de formas diferentes a cada dia, e isso é muito enriquecedor, quebra a rotina! Nos faz mais observadores, mais atentos, mais conscientes, nos tira do piloto automático. Às vezes por exemplo, me pego fazendo people watching na padaria que freqüento, no restaurante que almoço perto do trabalho, é tão interessante isso, fico rindo de mim mesma!

    • Oi Marcela,

      É isso que você disse mesmo, o importante dessas situações não é sofrer com elas, mas aprender, crescer e ver as coisas com outras perspectivas.

      bjs

  • Acho que meu momento mais marcante foi em Heidelberg na Alemanha, olhando o rio do alto do castelo e pensando que 1) Era uma das vistas mais lindas que eu já tinha visto 2) Eu estava em uma cidadezinha alemã que ninguém que eu conhecia já tinha ouvido falar e aquilo era totalmente inacreditável ♥

  • Eu gostei muito dessa matéria. Não sou muito viajada, mas na minha experiência de ida e volta do exterior tive exatamente a mesma sensação citada por você no texto, aonde diz: "(...) E então você começa a andar por ruas que tanto conhece e reencontra todo mundo, mas uma parte de você fica tentando achar sentido no fato de tudo estar tão igual e você se sentir tão diferente."
    :)

  • Eu estive morando em Malta durante três meses, como primeira parte de uma viagem que iria (vai) durar de nove a doze. Eu só fui para lá porque queria melhorar o inglês antes de prosseguir. Sendo assim, foi muito marcante o dia em que fechei atrás de mim a porta do prédio onde morei e... comecei a chorar de saudade de Malta... e fui assim, chorosa até a Romênia, e nos meus pensamentos eu comecei a me referir a Malta como "Home". Isso de encontrar um lar longe de casa (Brasil) foi a coisa mais marcante que me aconteceu até hoje, com certeza.

  • Que texto!! Nunca viajei pra fora do Brasil mas já tive algumas dessas experiencias em menor escala viajando pelo país, principalmente o item 5. Quando fiquei em Pernambuco por 3 meses, a sensação da volta pra São Paulo foi exatamente como a descrita no texto. Parabéns pelo artigo Luiza!

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Publicado por
Luiza Antunes

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