Cabelo cacheado, viagens e liberdade

Dos meus 27 anos, provavelmente uns 12 eu passei tentando alisar o meu cabelo. Escova, chapinha, relaxamento, progressiva… tudo isso fez parte do meu vocabulário durante anos. A primeira vez que eu passei a considerar parar com isso foi na Índia. Eu lembro que eu e a Naty, que também alisava o cabelo, vimos uma dessas reportagens de sempre sobre os males dos tratamentos para alisamento. Todo mundo sabe que aos poucos está se envenenando, mas continua fazendo isso em prol do “cabelo bom”.

Como diria um palestrante que um dia eu ouvi: o quê o seu cabelo fez de mau para ser ruim? O meu, provavelmente nada. A verdade é que eu cresci ouvindo o mito de que cabelo cacheado era mais difícil de cuidar, que tinha que domar o volume, que eu ficava mais bonita de cabelo liso. Eu realmente acreditava nisso. Mas, ao mesmo tempo, se tantas viagens foram capazes de abrir meus horizontes e me fazer questionar várias coisas no mundo, o mito de que só cabelo liso é bonito e fácil de cuidar acabou caindo por terra.

Leia também: Vaidade no mochilão, é possível?

Claro, todo mundo que passa pelo período de transição entre a progressiva e o retorno dos cabelos naturais sofre demais para se adaptar e deixar todo o cabelo com química crescer e ser cortado. Todo o processo durou mais ou menos um ano e meio. Nesse período, tive que refazer a minha relação com meu cabelo e reaprender a cuidar dele. No início não foi fácil, mas graças à internet e outras amigas cacheadas, consegui resistir ao desejo de voltar a alisar. Com o tempo, fui ganhando confiança e elogios.

Hoje, sinto que o cabelo cacheado combina bem mais com a minha personalidade: eu, viajante, nômade digital. E meu cabelo, menos domado, mais livre. Mas a prova de fogo de que meu “novo” cabelo de fato combinava com o meu estilo de vida veio em junho deste ano: eu iria fazer uma grande viagem, sozinha, por dois meses. Se eu conseguisse manter meu cabelo do jeito que gosto, sem ter muito trabalho ou sem ter que carregar muitas tralhas, eu teria provado para mim mesma, e para o mundo de certa forma, que os cachos não são sinônimo de horas de trabalho e poderiam sim se adaptar à vida mochileira, sem eu parecer uma louca completa descabelada.

Como cuidar do seu cabelo cacheado durante uma viagem

Eu precisei de exatamente cinco produtos para manter meu cabelo feliz durante a viagem. Um shampoo e um condicionador mega hidratantes e nutritivos, um bom creme para pentear/leave-in e algum produto fixador de cachos, tipo um mousse. E, ainda, um pouco de óleo para manter o brilho no segundo dia. Então, basicamente esse era o meu kit de cosméticos, adaptado para os menos 100 ml que eu poderia carregar na mala de mão.

Além disso, vários elásticos e grampos (porque grampos salvam sua vida em qualquer situação). Eu não levei secador, porque como era verão, o cabelo seca bem melhor naturalmente. No inverno, eu teria que achar espaço não só para o secador, como também para o meu amigo difusor. Raramente hotéis têm o difusor também. Aliás, se alguém souber onde comprar um tipo de difusor universal que ocupe pouco espaço, ficarei extremamente agradecida.

Eu também tenho técnicas para manter os cachos bonitos. Para começar, evito secar meu cabelo com toalhas normais. Aprendi com as blogueiras dessa internet afora que o algodão e os pelinhos sugam a hidratação, causam fricção entre os cachos e frizz. O melhor jeito é usar uma camiseta velha ou então aquelas toalhas de esporte. Sorte a minha que era exatamente uma toalha esportiva que eu carreguei durante toda a viagem, já que elas ocupam bem menos espaço na mala e secam muito rápido.

Minha outra técnica é bem menos convencional, principalmente para aqueles que dormem em quartos coletivos. Enquanto as coreanas assustavam a galera com seu número sem fim de máscaras noturnas, eu colaborava com a hora do pesadelo usando a minha toquinha de cetim improvisada.

Como assim, Luíza? Veja bem, já falei aí que o algodão não faz bem para os nossos cabelos, sejam eles lisos ou cacheados. Por isso que a gente acorda parecendo que brigou com alguém durante o sono. Com isso, aprendi essa técnica de que a seda ou o cetim não só não roubam a hidratação, como evitam que os fios acordem todos embaraçados e sem forma.

Como não dá para esperar que qualquer acomodação vá ter fronha de seda, eu passei a usar um saquinho que eu tinha de cetim como touca noturna. Eu poderia ter mandando fazer uma touca para mim, mas eu sempre esqueço dessas coisas. O saquinho ocupa zero espaço e não pesa nada. Com essa técnica, eu não preciso lavar a cabeça todos os dias! Recomendo a todas.

Sendo feliz naturalmente

Viajar com meus cabelos naturalmente cacheados me tomou bem menos tempo e preocupações do que no período da progressiva. Bem lembro meu pânico, durante a volta ao mundo de 10 meses, quando a química começou a sair e a minha raiz ficava feia. Ou do espaço ocupado na mala pela chapinha. E o tempo perdido tentando arrumar o cabelo. Os cachos se dão muito bem se deixados em paz, sem muita arrumação, sem pegar neles demais.

Hoje em dia, olho minhas fotos de cabelo liso e me acho meio estranha. Acho que aprendi a gostar do volume e do movimento diferente. Combina mais com meu rosto. E combina mais com quem eu sou. Mas, percebo também que, no final das contas, o que importa é ser do jeito que te deixa mais feliz e que o cabelo não deveria nunca interferir nas nossas escolhas de fazer ou deixar de fazer alguma coisa, tirar uma foto ou aproveitar a vida. Um sorriso vale mais do que os 150 mil fios de cabelo na sua cabeça.

Por fim, se você já é uma cacheada feliz, deixa nos comentários outras dicas que vocês tiverem para cuidar dos cabelos durante uma viagem. E se você está precisando de apoio no processo de cuidar do seu cabelo durante uma viagem, seja ele liso, cacheado ou alisado, compartilhe com a gente também.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

    • Oi Roberta,

      Sim, nunca tive problema para encontrar.
      Mas talvez o problema é que você esteja procurando em farmácias, não? Pelo menos aqui em Portugal as farmácias são lugares que vendem medicamentos e produtos de marcas caras, tipo Avene e La Roche.

      Para achar creme para pentear você tem que ir ao supermercado.

  • Que sorte. Encontrei este post agora. Comecei a assumir meus cachos no mochilao de 40 dias que fiz em janeiro de 2016 pelo litoral da Bahia, após 8 anos de chapinha. Estou me sentindo mais livre e adorando a praticidade... Ótimo texto e você ficou mais bonita ainda com o cabelo natural...

  • Muito legal vê uma cacheada viajante contando os segredos dos cosméticos levados em uma viagem! Ser cacheada é tudo de bom, e acredito ter tudo a vê com a parte despojada de ser uma nômade digital :)

  • Nossa!! Adorei o post! Sua história muito parecida com a minha, tirando o mochileira que fico só na vontade... rsrsrsr Assumir os cachos é tudo isso que você descreveu, mas a melhor parte é a liberdade de aceitar como somos, quando resolvi assumir os meus, não tinha muitos blogs ou dicas, foi na marra mesmo e deu certo! Obrigada por compartilhar sua história com a gente.

  • Amei!!!! <3 <3 Comigo foi igual! E acho que só comecei a amar meu cabelo depois que fui morar na Espanha. Lá, as pessoas me paravam para dizer que meu cabelo era lindo.

  • Own que inspiração. Estou tentando voltar ser cacheada, mas é difícil demais, já tentei por 6 meses no máximo e não aguentei. Mais vou tentar de novo,RS. Adoro o 360

  • Que exemplo! Foram dez anos vivendo como escrava de todos os tipos imaginaveis de produtos com a promessa que "domariam meus cabelos". Ora que bobeira a nossa acreditar na opinião da sociedade que cabelo bom, é cabelo liso.
    Sou inifinitamente mais feliz hoje, após um ano e meio de transição (com os cabelos presos num rabo de cavalo), pois não suporta dez dedos de raíz.
    Recebo muito mais elogios do que na época da chapinha, que tenho atitude e personalidade em assumir meus cachos.
    Parabéns a todas que voltaram e muita, mais muita força pra quem está pensando ou já em transição.
    "Em terra de chapinha, quem tem cachos é RAINHA!"

  • Luíza, seus cachos são lindos!Meu cabelo não é nem liso, nem chacheadão, mas nos lugares com mais umidade ele fica com cachos mais definidos. Eu amo! E prefiro os cachos ao cabelo liso. Tenho todos os tipos de babyliss que vc imaginar. E odeio no inverno quando meu cabelo fica super liso pq a umidade some e tenho que usar mais o secador, coisa que eu não uso muito no verão. E levo meus sprays de sea salt sempre, pq eles são os melhores para cachos que eu já achei. Outra coisa que eu faço é secar o cabelo e fazer um coque alto e depois de um tempo eu solto. Ou então eu faço isso com ele levemente umido, e solto depois de um tempo. Fica ondulados, com ondas mais grandonas, diferente do seu, mas super legal tb. Adorei o post! E vamos ser honestas, para manter qualquer cabelo bonito, é preciso um minimo. Não existe essa de cacheado dá mais trabalho, eu acho que dá muito menos, principalmente porque a gente fica livre do secador!

    • Ei Liliana,

      (To sempre acompanhando seu Snapchat!)

      Olha, esses sprays de sea salt me deixam parecendo uma louca descabelada, não posso usar de jeito nenhum, resseca muito meu cabelo.

      Mas esse truque do coque é ótimo para quem quer ganhar uns cachos extras.

      • Tô viciada naquilo, Luíza. Alguém precisa tirar o celular da minha mão,hahaha. Quanto aos cachos, o cabelo fica meio seco mesmo com os sprays de sea salt, mas para o meu funciona bem. Não uso sempre tb, é só para salvar em algumas ocasiões. A onda fica linda, bem cabelo de praia mesmo, adoro. Fala dos seus produtos tb, fiquei curiosa!

        • Então, eu uso a linha Curvaceous, da Redken. É perfeita. Depois que eu conheci nunca mais quero largar e já até tenho estoque do shampoo e condicionador em casa. Eles inclusive tem um produto para dar mais cachos para quem não tem, acho que é o Wind up.

          Também uso óleo de coco extra virgem a cada quinze dias. Deixo ele no cabelo durante a noite e no dia seguinte lavo. É bom até para quem tem cabelo oleoso.

          E tento fazer uns esquemas de cronograma capilar quando não estou viajando, mas eu sou meio desorganizada. hahaha

    • Isabel,

      Tem outras lojas que vendem esse difusor da Deva, acho que a Beauty Box vende também. Eu nunca comprei, uso o difusor só no inverno mesmo e o meu comum já resolve meu problema!

      bjs

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Luiza Antunes

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