Como tenho viajado o mundo sem pagar por hospedagem e alimentação

*Por Amanda Barbosa, autora do blog Por Uma Vida Mais Rica

Eu demorei para entender que ter uma vida “diferente” não significava fracasso. Não seguir os padrões impostos pela sociedade já me tiraram algumas noites de sono e já me levaram a repensar em tudo aquilo que eu acreditava como verdade para mim, e se eu passaria a estar certa se me encaixasse a tais padrões.

Eu bem que tentei. Tive um emprego “normal”, de segunda a sexta, como segue o protocolo, engolia o fato de poder tirar férias uma vez por ano e ter que passar os outros 11 meses dentro da sala de um escritório, esperando o meu salário cair todo final de mês e me iludir com o sentimento de uma vida estável.

Mas então de repente tudo mudou… após passar por um grave e irreversível problema na minha família, eu comecei a perceber que a vida se resume apenas ao agora, que o amanhã não existe e que se a mudança não começasse por mim, nada aconteceria. Eu decidi ir embora, do trabalho, da minha casa, da prisão que eu vivia para realizar todos os meus sonhos, e viajar era um deles.

E foi nessas minhas andanças por aí que experimentei o work exchange, uma prática muito comum em países ao redor do mundo, principalmente na Europa, onde consiste basicamente em trabalhar em troca de casa e alimentação. Essa foi a maneira que encontrei para me manter viajando por mais tempo, pois entre outras vantagens, é possível gastar muito pouco dinheiro se compararmos com uma viagem convencional.

Eu acabo de voltar da Califórnia, onde fiquei por três meses através do esquema work exchange, e pasmem, minhas despesas durante esse tempo não passaram de R$ 5.500,00, incluindo passagens aéreas. Leia mais sobre o assunto aqui.

A minha primeira experiência foi em 2014 na Inglaterra, através do programa WWOOF (World Wide Opportunities on Organic Farms), onde é possível se voluntariar em fazendas orgânicas espalhadas pelos quatro cantos do planeta, e após essa experiência, eu passei a ter outro olhar sobre uma viagem e sobre o ser humano.

Toda a vivência foi muito rica, pois tive a oportunidade de fazer uma imersão na cultura local, em que o meu convívio era apenas com pessoas que moram naquela região. Eu pude ter contato com os seus costumes, saber o que eles comiam, entender os seus pontos de vista, seus medos e sonhos.

Ao todo, tive uma experiência de quase dois meses entre duas fazendas diferentes, e posso dizer com toda a certeza do mundo que ao sair de lá eu nunca mais fui a mesma pessoa. Eu aprendi a viver em comunidade, já que muitas fazendas orgânicas vivem nesse estilo. Dessa maneira, soube o que é respeitar o espaço de cada um e finalmente entendi que apesar de sermos seres da mesma espécie, somos diferentes uns dos outros.

O meu trabalho consistia basicamente em colher vegetais conforme demandas do dia e organizar em maços para serem enviados aos restaurantes da região. Dessa forma, eu pude ter uma proximidade muito grande com as pessoas que trabalhavam comigo e com isso ganhei mais fluência no inglês, que já era um dos meus propósitos nessa viagem.

Havia folgas aos finais de semana, tempo que eu aproveitava para explorar as cidades e regiões ao redor. Posso dizer sem sombra de dúvidas que essa foi a viagem que mais me agregou em todos os sentidos, pois além de aprendizados sobre a terra e sobre culturas, tive a oportunidade de conhecer lugares que eu jamais imaginei que fizessem parte do mapa.

Além de fazendas orgânicas, esse ano eu tive a experiência de trabalhar em uma fábrica de cidra (uma bebida feita de maça) na Califórnia, onde eu ajudava no processo de preparo, pasteurização e engarrafamento da bebida. Tive também uma outra experiência em uma fazenda espiritualista próxima a San Diego – aprendi muito com os ensinamentos daquelas pessoas.

Em todas essas viagens eu estava absolutamente sozinha. Na verdade, eu apenas cheguei sozinha, pois fui muito bem recepcionada pelas pessoas que me hospedaram, além de ter tido a oportunidade de conviver e ficar amiga de outros voluntários que também estavam fazendo work exchange.

O melhor de tudo isso é que não é preciso ter necessariamente uma habilidade para participar do work exchange. Eu nunca havia trabalhado com a terra e não tive problema algum em ser aceita sem experiência. Esse programa também não se limita a apenas trabalhar em fazendas. Existe uma infinidade de coisas que você pode fazer, como trabalhar em hostels, parques ecológicos, dar aulas de português, trabalhar como web designer, carpintaria, cuidar de animais/crianças, é só ver o que mais você se identifica.

Depois de tantas vivências boas, eu acabei ficando um pouco “viciada” nesse tipo de experiência, por isso, hoje, depois de alguns ajustes no meu estilo de vida para que pudesse ter mais liberdade, eu passei a trabalhar como freelancer e cortei todos meus os gastos supérfluos, para assim poder cumprir a minha meta de viajar por no mínimo três meses ao ano.

Sonhos só serão reais a partir do momento que você permitir que eles se tornem reais!

Saiba mais sobre work exchange aqui

Alguns sites de work exchange:

Helpx

Workaway

WWOOF

Worldpackers

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360meridianos

Blog de três jornalistas perdidos na vida que resolveram colocar uma mochila nas costas e se perder no mundo.

Ver Comentários

  • Tenho uma dúvida. No caso de usar workaway nos EUA, o visto que devo pedir deve ser de turista ou de trabalho voluntário?

    Obrigado!

  • Adorei o post! Não conhecia esses sites e nem sabia que existia a possibilidade de fazer isso! Realmente só não viaja quem não quer :)

  • Muito bom! Além disso tem o Wordlbackers tb que é pra trabalho em hostel em trocas de alimentacao e hospedagem...super legal! Eu estou pensando em WWOF na Itália nas férias de verao da universidade (estudo no Reino Unido).

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