Sobre dietas, viagens e nossa relação com o corpo

Desde uma triste ida ao shopping que terminou comigo chorando no provador de uma loja, há oito anos, a sensação que eu tenho é que estou permanentemente contando calorias. A coisa começou a desandar na faculdade. Quando eu assustei, minhas roupas favoritas já não me serviam mais e minha auto-estima estava no chão.

Até então, em toda a minha vida, eu tinha mantido uma orgulhosa dieta a base de porcarias. Para economizar o dinheiro da merenda, desde o terceiro ano do ensino médio eu almoçava salgado da cantina. Uma hora, esse estilo de vida nada saudável se manifestou na balança.

Naquele mesmo mês, eu consultei um endocrinologista que me passou ansiolíticos e uma dieta que eu segui com sucesso por alguns meses, até eu começar a namorar. Todos os anos depois disso eu passei em um interminável efeito sanfona. Foram incontáveis dietas, de nutricionistas a internet, de Diet Shake a Dukan a Paleo.

Da última vez, fui dos 79 kg aos 63 kg em três meses. Fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem comigo mesma. Mas, como sempre costuma acontecer, desde que vim a Barcelona entrei em uma espiral negativa de alimentação errada e assisto, em pânico, os quilos voltarem um por um para a minha cintura.

Magra, em Hong Kong, 2012

No verão a coisa piora. Ontem fui à praia com alguns amigos. Pra ser sincera, já não tenho mais vontade de ir, me sinto péssima e fico de roupa boa parte do tempo. Aí me lembro que a magreza é um padrão imposto e que só porque eu não estou magra como uma modelo ou pudesse perder lá meus cinco quilos não quer dizer que haja algo errado comigo.

Então eu me esforço para parar de bobeira. Fiquei me olhando um tempão no espelho, de biquini, tentando me convencer que não estava feio coisa nenhuma. Racionalmente sei de tudo isso. O discurso do ame seu corpo eu já sei de cor. Mas há uma longa distância entre saber dessas coisas e sentir-se, de fato, bem com quem você é.

Gostar da gente é bem difícil, às vezes. Confesso que tem algumas fotos aqui no blog que eu não gosto nem de olhar. Eu as vetaria se eu achasse que em outra foto daquela viagem eu pareço melhor. Procuro todas. Acho horrível. “Estou enorme! Como pude deixar a coisa chegar a esse ponto?”, eu penso. Que coisa boba, não? Sentir-se mal ao ver uma lembrança de uma viagem incrível porque a gente não gosta de como saiu nela.

Em Barcelona, um ano depois e bem uns 10 kg a mais

Ganhar peso é normal quando se muda de país, porque a alimentação muda com você. Em uma viagem, é um pouco mais difícil manter-se na linha (mas não impossível). A gastronomia é uma parte importante da cultura local e deixá-la de lado, pode, para muita gente, prejudicar a experiência do destino.

Como eu trabalho com isso, eu vivo passando por esse processo de ter que me acostumar com outra comida, de querer provar o que se come em cada lugar. Mas a verdade é que qualquer coisa que interfere na nossa rotina pode ser uma desculpa pra gente meter o pé na jaca. O início de um relacionamento, um término, um emprego novo, festas de final de ano, a correria da faculdade, uma época em que a gente anda meio deprê. Todas essas já foram minhas desculpas e aposto que de muita gente que lê este post também. Agora são as viagens.

Na Colômbia, em 2015, magra outra vez 

Eu aceito meus erros, não vou me fazer de vítima. Como eu disse, caio em espirais negativas sempre, e me custa um montão de energia para sair delas. Isso não é apenas com a minha alimentação, mas se reflete muito nela. Quando estou bem, me alimento bem. Quando perco o prumo, perco também o controle da balança. Mas o fato é que, para perder o que me incomoda, seria preciso renunciar a muitas coisas.

Será que eu deveria deixar de aceitar os convites para jantares diferentes ou para uma noite de tapas com meus amigos de Barcelona? Vale a pena sacrificar a experiência e o tempo que tenho aqui por causa de um padrão de beleza irreal? Eu devo mesmo ficar tão encanada a ponto de não aproveitar bem uma tarde na praia por causa de alguns quilos? Para mim, a resposta é não e eu ainda estou lutando para encontrar um meio-termo que me deixe feliz. Mas, ah, se eu pudesse aproveitar tudo isso sem engordar…

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade. Viajo o mundo contando histórias e provando cervejas locais desde 2010. Além do 360meridianos, também falo de viagens na newsletter Migraciones, no Youtube e em inglês no Yes, Summer!. Vem trocar uma ideia comigo no Instagram. Você encontra tudo isso e mais um pouco no meu Site Oficial.

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  • Fui assim por muitos anos. Hoje, como de tudo, mas controlo bem a hora de parar.
    Estou há anos usando manequim 40, não sou uma mulher pequena, e estou em paz.
    Saber parar, entender que a farra não pode continuar no dia seguinte e cias simples, como substituir alguns alimentos, colocam você em ordem. Força, menina!

  • Muito bom seu texto, natália. Concordo com vc, que viagens atrapalham a dieta, mas não só elas.
    No meu caso, achava que engordei 20kg em dois anos por conta de várias viagens para a argentina, chile e europa. Mas depois, analisando melhor a questão, vi que não foram apenas as viagens, pois nesse período entrei num ritmo louco de trabalho e parei de fazer o que mais gosto, correr.
    Assim, resolvi mudar de vida, diminuí o trabalho, voltei a correr e emagreci 20kg em 5 meses. Agora, me aposentei, mudei pra europa, aumentei as corridas e comprei uma balança...
    Resultado: emagreci mais 2kg, mas agora como de tudo, observadas as quantidades, treino e participo de muitas corridas, mas me peso todo dia. A balança me é muito útil, é quase uma melhor amiga...??

    • Olá Denise, é verdade, é tudo uma questão e manter hábitos saudáveis durante e fora das viagens! Eu desencanei um pouco com essa questão. Já me pesei todos os dias, mas agora parei. Estou tentando não ficar muito bitolada com meu peso ;)

      Um abraço e obrigada por comentar!

  • Também sofro com as encanações com o corpo. O que ando pensando que mudou minha forma de encarar é não deixar minha mente assimilar magreza com alegria e gordura com tristeza (apesar de todo estímulo que recebemos para pensar dessa maneira). A realidade é que entender nosso corpo e amá-lo que nos trará felicidade. Do contrário, estaremos sempre buscando a magreza para ser feliz quando na verdade o que precisamos é nos amar. Recomendo algumas militantes dessas ideias: Ju Romano, Ta querida

  • Se joga de biquíni mulher! Ainda mais na Europa, onde as pessoas não menos encanadas.
    Eu sou magra, em compensação, flácida e cheia de celulite. Acha que me sinto bem de biquíni em Floripa, com todas aquelas mulheres malhadas com bunda na nuca? Aprendi a abstrair.
    E outra: se você pode comer porcaria, aproveite! E tinha a alimentação mais lixo do mundo. Fiquei doente. Quando como porcaria demais o corpo reclama e eu passo dias de rainha. A única vantagem é que quanto mais porcaria eu como, mais emagreço, mas não absorver os nutrientes me deixou com essas pele flácida horrorosa!
    Just enjoy ?

    • É uma luta esse processo de aceitação! hahah eu tento abstrair, mas nem sempre funciona. Depois que escrevi esse texto já emagreci outra vez e agora estou tentando manter. E também levar uma vida mais saudável, que já não gosto tanto da dieta junk food que eu levava, agora me sinto melhor comendo bem (mas umas batatas fritas de vez em quando são sempre bem vindas hahaha).

  • Caramba! Parece que eu li o relato da minha vida nesse texto! Em viagens eu sempre tento desencanar do meu corpo para aproveitar ao máximo, mesmo que isso seja complicado as vezes. Só que a vida é isso, não é? Um eterno aprendizado.

    • É tenso, Amanda. Eu também estou buscando ser mais desencanada com isso, mas é porque estou no momento magra da minha sanfona eterna. É bem mais difícil quando os números começam a subir na balança. Mas vamos aprendendo. haha

      Abraços e força pra gente!

  • Acho que o problema maior não é nem engordar, claro que isso afeta demais a auto-estima e tudo. Mas pra mim o pior problema é com a saúde. Se comemos mal, todo o corpo vai mal :(
    Realmente em viagens é praticamente impossível manter uma alimentação saudável.

    • Realmente, Gabi. Antes eu não me importava com a saúde e fazia dietas malucas. Hoje tento ser mais balanceada. Percebi que é a melhor estratégia.

      Abraços!

  • Muito,muito eu! Também sofro com as recordações de como estava fisicamente em tal lugar, ao invés de me lembrar o quão feliz eu estava por estar viajando! Mas isso vai melhorando com o tempo é com as experiências!

  • Don't worry, a beleza está nos olhos de quem vê, e isso não é bulshit, eu mesmo prefiro muito mais as cheinhas com moderação, você está muito mais bonita na foto de Barcelona.

    • Ei Vicente, poxa, obrigada pelo elogio! Eu olho para essa foto e só vejo o tamanho dos meus braços hahaha.

      Abraços! :)

  • Me identifiquei muito! Nunca fui magra e estava eternamente num efeito sanfona. Procurei uma nutri e mudei meu estilo de alimentação. Melhorei, mas não cheguei (ainda) onde quero e saí do sedentarismo e vou no mínimo 4 dias na semana a academia ou andar de bike.E quanto as saídas eu como em casa e levo a minha comida sempre(levo até a casamentos e formaturas)! Nao perco os amigos e nem o foco kkkkkkkkk
    Não é fácil para quem se tem a genética para engordar, mas é a vida. E hoje gosto de ser saudável =D
    Estou planejando um intercâmbio de línguas e estou trabalhando minha mente para isso. Fazer minhas comidas e sempre andar com algo na bolsa. Pra o bolso e a balança não chorarem depois kkkkkkkkkkkk
    Beijooo
    #força =D

    • Uau Izabella, isso é que é determinação! Não sei se conseguiria levar lanchinho até pra formatura hahaha
      Sim, não é fácil, é um estilo de vida. E esse é meu problema, tem hora que eu encaixo a vida saudável, mas como mudo de rotina sempre acaba caindo outra vez nos maus hábitos.

      Abraços!

  • Oi, Natalia! Me identifiquei super com seu post. Minha luta contra a balança é também uma constante desde a época da faculdade. Antes disso, nem me preocupava com o que comia.
    Vivo em meio ao efeito sanfona há anos e tudo piora na época das férias, quando a gente viaja e não quer nem saber de dieta. Todo ano é a mesma coisa... rsrs e depois dos 30 então... Tudo piora.
    Fico só pensando o quanto deve ser pior pra você por trabalhar com isso. Nao sei o que iria fazer...

    • Pois é Christiane, é que a coisa piora com as mudanças de rotina. Até você se adaptar ao que comer em cada lugar já foram muitas refeições porcaria no cardápio ahahaha

      Abraços!

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Natália Becattini

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