Sobre topless na praia e liberdade

Eu não posso dizer que sempre tive vontade de fazer topless, porque seria mentira. Na verdade, a ideia me causava medo e vergonha. Mas, de uns anos para cá, cada vez mais ia criando a coragem e aumentando minha curiosidade de como seria aproveitar uma praia sem a parte de cima do biquíni para incomodar.

Aqui na Europa as pessoas realmente fazem topless numa boa, mas isso varia um pouco de uma praia para outra. Quando eu cheguei no Algarve, percebi que era quase uma média de 40% das mulheres, jovens ou mais velhas, de peitos livres. E ninguém ficava encarando elas ou sendo desagradável. Se alguém olhava duas vezes, eu não reparei.

E depois de observar o movimento por dois dias, mas ainda sem ter coragem, vi a minha oportunidade chegar depois de uma hora de caminhada no sol de duas da tarde, quando chegamos numa praia bem vazia, de difícil acesso, e meu biquíni estava me incomodando extremamente.

Eu entrei no mar assim que finalmente pisamos na praia e quando olhei para a areia, um grupo de três amigas estava lá, de boas, sem o “sutiã”. Foi minha gota d’água, minha força, meu grito de liberdade. Falei, com um bom sotaque português, Fo-da-se (eles têm uma cadência engraçada para essa palavra, rs) e tirei a parte de cima.

Liberdaaaaadeeee, gritaram os mamilos com o contato gelado da água do mar fresquinha.

Sair do mar e caminhar pela areia, na primeira vez, foi um pouco mais constrangedor, mas só por um ou dois minutos até eu perceber que ninguém estava dando bola para os meus comuns peitinhos. Afinal, todo mundo tem, gente!

Eu me senti genuinamente feliz com a experiência. Me lembrou de uma história que rolou no ano passado, quando ganhei um voucher para um Spa chique em Berlim e entrei no site para ver como era. Entre as informações havia um aviso de que era permitido circular pelado pelo recinto. Logo, questionei umas amigas que moram na Alemanha. Minha lógica era: “aff, esse povo fica chocado com biquíni brasileiro, mesmo os que não são fio dental eles consideram pequenos demais, falam que a gente é liberal e blablabla, mas eles ficam andando pelados por aí”.

E então recebi uma resposta maravilhosa, que guardei para a vida: “A questão é que o biquíni brasileiro é utilizado para seduzir, sensualizar. E a galera só quer andar pelada pela liberdade disso”. E, para completar, no nosso querido país, topless é crime de ato obsceno e pode dar pena de até um ano de prisão, ou multa. 

Nós somos criadas, como mulheres, tentando lidar com a sexualização constante dos nossos corpos, ao mesmo tempo que aprendemos que eles nunca serão bons o suficiente. Sentimos culpa de não ter um corpo perfeito, sentimos culpa por mostrá-lo demais e também sentimos culpa se queremos escondê-lo (como o que está rolando na França agora, com a proibição dos burkinis).

Leia também: Sobre dietas, viagens e nossa relação com o corpo

A minha neura, por exemplo, é que meus peitos são pequenos. Mas tem gente que tem neura que eles são caídos, tem estria, são grandes demais, não tem o formato ideal-igual-da-revista. Enfim, colocar meus peitinhos de fora e aceitá-los como são, num ambiente não sexualizado, foi muito legal. Era só eu, meu corpo e as sensações de colocar o mamilo no sol, na água e no vento, algo que eu não devo ter desde os 7 anos de idade, sei lá.

A questão é que topless ou nudismo não têm nada a ver com mostrar seu corpo para os outros na praia. De obsceno definitivamente não tem nada. Muito pelo contrário, é um grito de liberdade e aceitação que duas pecinhas triangulares escondiam. E ninguém tem que fazer topless para se sentir mais ou menos livre. Ninguém é obrigada a fazer nada além do que a faça feliz. Mas não deveríamos ser proibidas de fazer isso só porque os mamilos alheios incomodam alguém.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

Ver Comentários

  • Na verdade, nunca fui na praia usando a parte de cima do biquini q acho absurdamente ridícula e desnecessária. Tanto q no dia a dia, ñ uso sutiã, mesma q a blusa deixe a mostrar "algo" rsrsrsrsr. Algumas amigas q tenho tmb já aderiram a nova moda e se sentem bem mais confortáveis, seguras sexys e desejáveis. Ñ há a menor necessidade de se usar uma peça demodê, cafona ridícula e desconfortável como aquela a tda hora e em tdo lugar. Eu hein?

  • Aqui em Portugal é muito normal as mulheres, as moças andarem em topless. Da mesmo forma que a maioria dos homens ou espera-se que os homens e rapazes na praia usem calções/bermudas, quem usa sunga curtinha também tem mais sensação de liberdade, mas tal como em muitos sítios o topless na mulher é algo reprovatório, as tangas nos homens têm olhares reprovatórios e os argumentos é que os apetrechos genitais ficam muito notados, mas fo-da-se as mulheres podem usar biquinis que quase não tapam nada então porque os homens não podem usar tanguinhas curtas e sentirem-se livres também? Eu tenho quase 34 anos, sou português, e sempre preferi usar sunga cavada para apanhar mais sol ter menos marca branca e usufruir da praia e do mar sem complexos, da mesma forma que eu acho que as mulheres podem e devem andar em topless como nós homens andamos em tronco nu

  • Olá, estou chegando aqui no 360 por agora. Vi sua matéria sobre o topless, então pensei, já que conseguiu tirar a parte de cima. Crie coragem, tire a parte de baixo e vá a uma praia de nudismo ( de preferência no Brasil) e depois venha nos contar. Sou louca para ir. Tenho 58 anos, mas até os 60, irei.
    Beijihos - estou gostando muito do blog.

    • Oi Maria,

      Nunca fui numa praia de nudismo no Brasil mais por falta de oportunidade/pesquisa do que de vontade.

  • Depois de ler fiquei imaginando como seria visto agora aqui no Brasil em tempos de MBL, Bolsonaro...
    A pena seria de prisão perpétua.???

  • Obrigado pelo seus comentarios...
    Sou Brasileira e tenho muita vontade de fazer Top less, vou para o algarve no via 22 de agosto de 2017
    Tirei minhas duvidas, vou ver se tenho coragem, pois vontade tenho muita

  • Passei por algo parecido quando tava participando do acampamento na Alemanha... Os chuveiros eram no esquema vestiário, só que sem porta. Muitas meninas ficavam com vergonha e tomavam banho de biquíni e eu pensei em fazer o mesmo, mas dei o foda-se e também achei libertador :) Não fiquei andando pelada pra lá e pra cá como outras mulheres faziam, mas também não me escondi ou me envergonhei, porque percebi que simplesmente não tinha nada que não fosse natural ali e tava todo mundo na mesma situação (assim como estamos todos nesse mundo cada um com seu corpo e ponto final). Já fazia um tempo que tinha me ligado nessa relação diferente que a gente tem com o corpo, especialmente em relação a países nórdicos (somos "pudicos" por um lado, sexualizados por outro - topless não pode, mas fio dental sim; ir geral pra sauna junto peladão parece bizarro, sambar pelada não). Concordo super com tua conclusão :) Beijo

    • É bem isso mesmo. Todos os vestiários que eu já fui na Europa são assim, não tem porta, as vezes não tem nem divisória. É um pouco incômodo até nos darmos conta do porquê ficamos incomodadas!

      bjs

    • Ops, deixei minha frase tão longa que esqueci o final haha. "Já fazia um tempo que tinha me ligado nessa relação diferente que a gente tem com o corpo, mas viver isso na prática foi o que realmente me fez enxergar". ;)

  • Gostaria de saber se nos lugares citados o topless e aceito independente da idade ou só pelos mais jovens.

  • Que maravilha de post! Por mais momento libertadores como esse para todas nós, Luiza!
    E realmente concordo com a Natalia ali em cima! O problema não é a nudez, mas a erotização. E vamos combinar que boa parte dessa erotização vem da nossa criação (machista) de achar que somos culpadas pelo que o outro (leia-se o homem) sente em relação ao nosso corpo. Não, não temos culpa! Eles que lidem com seus instintos, ora bolas!
    Parabéns pelo post e pela coragem!
    Um beijo

    • Oi Ana,

      Obrigada por comentar!

      De fato, é o fim da picada sentirmos culpa e vergonha dos nossos corpos porque parte da população foi educada para achar que não precisa ter autocontrole e educação.

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Luiza Antunes

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