Canto Gregoriano no Mosteiro de São Bento, em SP

O Papa Francisco que me perdoe, mas só acordei cedo para ir à missa uma vez na vida. Fiz isso no meu último domingo como morador de São Paulo (e depois de ter ficado até tarde num bar da Vila Madalena). Era minha última oportunidade de fazer um passeio que eu estava adiando há meses: presenciar uma missa no Mosteiro de São Bento, com canto gregoriano.

Segundo a Santa Wikipédia, o canto gregoriano tem esse nome em homenagem ao Papa Gregório I, um monge beneditino. Entre outras coisas, esse Papa selecionou e adaptou alguns Salmos para serem entoados durante celebrações religiosas da Igreja Católica. Junte um órgão e vários monges prontos para soltar a voz e você terá a fórmula básica do canto gregoriano, praticamente o único gênero musical que teve espaço na Igreja até o fim da Idade Média.

Por mais que o canto gregoriano tenha saído de moda com o passar dos séculos, muitas igrejas do mundo ainda adotam esse gênero musical. Em São Paulo, as missas do Mosteiro de São Bento são concorridíssimas. Mas, antes de falarmos do evento em si, que tal conhecermos o tal Mosteiro? É esse aqui, ó:

O Mosteiro de São Bento ocupa um quarteirão, bem no centro de São Paulo. Mesmo que você resolva não assistir à missa, vale a pena passar lá durante o dia, afinal o prédio está pertinho do Edifício Banespa, da Catedral da Sé e de outras atrações da capital paulista. Além do prédio que serve de moradia para 42 monges, no mesmo quarteirão ficam também a Faculdade de São Bento, uma biblioteca e, claro, a Basílica, que é onde as missas com Canto Gregoriano acontecem. Mesmo que você já tenha visitado centenas de igrejas ao redor do mundo, pode ter certeza que a do Mosteiro de São Bento impressiona.

Foto: TripAdvisor

Vitral no Mosteiro de São Bento (Foto: TripAdvisor)

O prédio atual do Mosteiro de São Bento não é o original de fábrica, mas a quarta versão, inaugurada em 1922. No entanto, esse mesmo local é dedicado aos monges beneditinos desde o final do século 16, quando o primeiro templo de São Bento foi erguido ali. Para quem curte história, uma curiosidade: o mosteiro está no local onde onde ficava a casa do Tibiriçá, um líder indígena muito importante para a fundação de São Paulo.

Voltemos a falar do que interessa: Sem pensar no Tibiriçá e ainda bêbado (de sono, gente), peguei o metrô em direção ao centro de São Paulo. Chegar no mosteiro é fácil – basta descer na estação São Bento (Linha 1-Azul do metrô). Aos domingos a missa com canto gregoriano começa às 10h, mas é preciso chegar um pouco mais cedo para garantir lugar. Caso contrário, o jeito é ficar de pé – muita gente faz isso. Quem não puder ir aos domingos tem outras opções – nos dias de semana a missa é às 7h. Sábado é preciso chegar ainda mais cedo: 6h.

Missa lotada no Mosteiro de São Bento (Foto: TripAdvisor)

Não fosse o canto gregoriano, a missa teria tudo para ser parecida com qualquer outra. Mas não é. Começando pela entrada dos monges, que saem do mosteiro e, cantando, tomam seus lugares e deixam tudo com ares de Idade Média. É complicado descrever o efeito sonoro que toda essa cantoria + a acústica da Igreja causam – só mesmo acordando cedo e indo à missa para saber. Até procurei no YouTube algum vídeo que pudesse ajudar nisso, mas não encontrei nenhum  que seja capaz de mostrar como é a missa em si. Dá próxima vez eu gravo, juro.

Cerca de uma hora depois a missa acaba, os monges saem da Basílica e as portas do mosteiro se fecham. Ficou com vontade de quero mais? Então aproveite que você está ali e conheça a padaria dos monges. Há cerca de 1500 anos São Bento advertiu que todo mosteiro deveria ter uma padaria, horta, queijaria e um pomar. O objetivo é dar trabalho aos monges, afinal mente vazia é oficina do diabo. No mosteiro paulista o conselho é seguido e a padaria dos monges produz pães de todos os tipos, com preços entre R$ 10 e R$ 40. As receitas são tradicionais e usadas por monges há muito tempo. Para quem se interessou, mas não pode ir ao mosteiro, uma alternativa é fazer o pedido pela loja online.

Se a gula for mesmo seu pecado favorito, então vá ao Mosteiro de São Bento no último domingo do mês, quando acontece o brunch. Eu não fui, mas no site da revista Época você econtra um relato interessante. Nesse dia, os produtos dos monges dividem espaço com a gastronomia de um conhecido chef de São Paulo  – a cada evento, o mosteiro convida um chef.

Além da comida e da bebida liberada, depois da comilança os participantes podem conhecer todo o Mosteiro de São Bento, exceto a clausura, onde vivem os monges. A visita guiada passa até pelos locais que receberam o papa Bento XVI, que ficou hospedado ali em 2007. Parece um ótimo programa até para não-católicos (tipo eu), mas confesso que achei o preço salgadíssimo: R$ 130! Apesar disso, o evento costuma ficar sempre lotado e pode ser difícil garantir participação, já que os ingressos são limitados. Saiba como reservar o seu aqui.

*Foto destacada: Maik Pereira, Wikimedia Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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