Passagem de volta ao mundo: vale a pena comprar?

Pouca gente sabe que ela existe, inclusive parte dos agentes de viagem com quem já falei sobre o assunto. Os que sabem, muitas vezes não entendem como ela funciona. E a maioria acha que a tal da passagem de volta ao mundo deve ser coisa para gente rica, algo impagável para pessoas normais, tipo eu e você. Mas talvez seja exatamente esse mistério que torna o ticket para viajar ao redor do mundo um sonho.

Foi assim com a gente. Do “ia ser legal se a gente pudesse comprar uma, mas deve ser muito caro” até o “vamos comprar!” foi questão de semanas. Pagamos cerca de R$ 7.500 por uma passagem que nos deu o direito de parar em 14 países, em quatro continentes (na época, o dólar valia R$ 1,70).

Somente passagens de ida e volta do Brasil para a Índia custariam R$ 5000, se compradas para as mesmas datas em que viajamos. Não é preciso ser matemático para perceber que comprar uma passagem de volta ao mundo foi uma tremenda economia, pelo menos no nosso caso. Mas será que é sempre assim?

O que é a passagem de volta ao mundo?

“Para tudo! O que é essa parada? Passagem de volta ao mundo? Oi?”

Para quem nunca ouviu falar, uma breve explicação: Uma passagem de volta ao mundo – ou RTW, inglês de Round World Ticket – é vendida pelas alianças de empresas aéreas. São três: Star AllianceOneworld e SkyTeam.

A ideia de uma passagem RTW é que você compre todos os trechos com uma determinada empresa e faça a viagem completa usando não só os voos dela, mas também os das parceiras. Falando em bom português: você compra até 16 passagens com a TAM, por exemplo, e voa para vários lugares do planeta não só com ela, mas também com as empresas que fazem parte da mesma aliança.

No nosso caso, compramos a passagem de volta ao mundo com a espanhola Ibéria, da Oneworld, mas voamos também com British Airways e Cathay Pacific, entre outras. Para mais detalhes sobre as regras, veja o texto como funciona a passagem de volta ao mundo.

Londres, Inglaterra

As vantagens da passagem de volta ao mundo

Anote as duas principais vantagens dessa passagem: 1ª – se você tem pouco tempo para planejar, mas quer rodar o mundo, essa é a sua passagem. Você não vai precisar comprar voo por voo e nem se preocupar com o deslocamento entre as grandes cidades, já que tudo vai estar incluído no pacotão do ticket. 2ª – se sua viagem vai ser pouco flexível, sem muitas chances de mudança de roteiro e de data de voos, essa é a sua passagem.

A questão aí é que a passagem de volta ao mundo pode representar uma grande economia para quem não pode viajar nas épocas mais baratas. As regras variam de aliança para aliança, mas em geral é permitido alterar as datas dos voos sem custo algum, mas não o roteiro. Isso significa que mudar o roteiro no meio da viagem representa um aumento considerável nos gastos, o que engessa um pouco a viagem.

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E mesmo que não ocorra a cobrança de taxas para a remarcação de datas de voos, é óbvio que os preços das tarifas podem variar. Nós chegamos a remarcar as datas das passagens uma vez e não pagamos nada por isso. No entanto, quando tentamos uma segunda mudança, a Ibéria se recusou a fazer, prova de que nem mesmo as empresas aéreas sabem como a RTW funciona.

Uma terceira vantagem é para quem pretende conhecer apenas as grandes cidades de cada país, sem necessidade de se deslocar para o interior. Esse foi o nosso caso na Europa, onde visitamos Madri, Roma, Paris e Londres. Quem quiser fazer uma volta ao mundo apenas pelos grandes centros vai economizar com o RTW.

Inclusive, uma boa forma de pagar pouco por uma passagem de volta ao mundo é escolher roteiros tradicionais.  Por exemplo: Nova York – Londres – Nova Delhi – Bangkok – Cingapura – Hong Kong – Sidney – Los Angeles – Nova York. Um roteiro assim certamente vai sair mais barato se você comprar um RTW do que comprando cada trecho de forma separada. Para decidir quais lugares visitar, veja o post sobre como organizar o seu roteiro de viagem de volta ao mundo.

As desvantagens do RTW ticket

A maior desvantagem é para quem realmente quer economizar: é possível viajar gastando menos. Mas para isso você precisa ter tempo de sobra, condições de montar seu roteiro enquanto você viaja e comprar as passagens para o próximo destino só quando elas ficarem mais baratas.  Isso acabaria com outra grande desvantagem da passagem de volta ao mundo, que é a dificuldade de alterar o roteiro.

Nova Délhi, Índia

É por isso que eu não pretendo comprar outra passagem dessas quando for fazer minha próxima viagem de volta ao mundo. Nossa primeira viagem foi feita no susto, com menos de dois meses de planejamento. Além disso, ela incluía um longo tempo na Índia, onde íamos morar e fazer intercâmbio. Por causa dessas circunstâncias, o RTW valeu muito a pena. Da próxima vez, pretendo ter tempo e um roteiro menos engessado.

A passagem de volta ao mundo também pode não ser vantajosa para quem pretende explorar o interior dos países que vai visitar, já que ela te deixa apenas nos grandes centros, te obrigando a comprar passagens por fora ou planejar o deslocamento por terra.

Uma volta ao mundo cheia de trechos incomuns e que envolvam várias conexões também torna o RTW desvantajoso.  Na realidade, vamos a uma regra fundamental para comprar uma passagem de volta ao mundo barata: escolha sempre voos diretos. Se na maior parte dos trechos você não pode fazer isso, considere outras formas de rodar o mundo.

Como comprar a passagem de volta ao mundo?

Vá aos sites das alianças aéreas. Oneworld e StarAlliance e SkyTeam têm planejadores de viagem online. Lá você consegue montar o seu roteiro e ver se os preços estão interessantes. Mas lembre-se que ainda se aplicam as taxas de aeroportos, que podem custar algumas centenas de dólares, dependendo da quantidade de voos. Caso opte por comprar a passagem de volta ao mundo, você tem duas opções. Você pode comprar online ou pode achar uma agência que faça isso para você.

Nós escolhemos fazer via agência, porque jamais conseguiríamos passar o valor da passagem no cartão de crédito. Dessa forma, a taxa de serviço da agência foi o preço que pagamos pelo limite baixo em nossos cartões.

Bangkok, Tailândia

Não tem limite no cartão, mas prefere comprar online ou direto com a empresa? Dá dor de cabeça, mas é possível comprar uma passagem de volta ao mundo e pagar de outras formas. A Aline Gonçalves, uma amiga que nos acompanhou em parte da nossa viagem e que já escreveu a coluna de gastronomia do blog, comprou a passagem dela direto com a empresa aérea e sem usar cartão de crédito. Para isso, ela fez a reserva pelo site e ligou na empresa, que disponibilizou outra forma de pagamento. Mas ela avisa que não foi fácil. Ela teve que insistir e falar com vários atendes, já muitos deles não sabiam como lidar com a situação.

No vídeo abaixo eu explico como comprar a passagem pelos simuladores das alianças, tudo de forma detalhada. É só dar o play. 😉

Existem alternativas para dar a volta ao mundo?

Sim. As mesmas alianças aéreas oferecem voos com várias paradas, mas que não necessariamente completam uma volta ao redor do mundo e que podem ser mais em conta. Também é possível fazer vários voos com companhias low cost. Na Ásia, por exemplo, existe uma coisa linda que se chama Air Asia. Dá para achar uma passagem barata para chegar até lá e depois fazer uma cidade de hub, tipo Bangkok ou Cingapura, partindo dela para visitar os lugares ao redor.

Decidir a melhor forma de dar a volta ao mundo depende de você, do tipo de viagem que você quer fazer. Para quem quer simplificar o planejamento, tem datas definidas e relativamente fixas e não se preocupa em economizar a todo custo, acho que a passagem de volta ao mundo definitivamente vale a pena. Para outros, nem tanto.

O mais importante então é escolher a melhor fórmula para o seu caso e colocar os pés na estrada. Acredite, ninguém volta o mesmo depois de uma viagem de volta ao mundo.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Muito interessante Rafael! Qual blogueiro de viagem não gostaria de conhecer o mundo todo? Já conhecia o método de compra de passagem via alianças, mas o conceito de RTW não. Está anotado para futura consulta.

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Rafael Sette Câmara

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