A sala dos sofás era um campo de batalha. Numa disputa silenciosa, viajantes de diversas nacionalidades bolavam táticas para garantir um sofá para chamar de seu. Afinal, eles eram muito mais confortáveis do que os bancos de ferro que tomavam conta da sala de embarque. Garantimos os nossos logo no começo da noite. E não foi sorte, mas competência na arte de dormir em aeroportos.
Sim, eu já dormi em aeroportos. E não foi uma vez só – isso aconteceu na Indonésia, na Malásia, na Índia… a tal sala dos sofás fica perto dos portões de embarque do aeroporto de Katmandu, no Nepal. De todos os aeroportos por onde passei, o Tribhuvan é o único com infraestrutura pior do que os aqui do Brasil. Exceto, é claro, pelos sofás, uma regalia rara para os viajantes que escolhem passar longas horas na sala de embarque. Mas por que diabos alguém resolve dormir num aeroporto? A resposta normalmente é dinheiro, mas também pode ser alguma greve geral, como a que aconteceu no Nepal enquanto estávamos por lá, ou ainda uma revolução na Krakozhia, como a que deu um baita problema para o Viktor Navorski, aquele personagem do filme O Terminal.
Viktor Navorski: o guru dos hóspedes de aeroportos.
Eu já contei que fazer uma viagem de volta ao mundo não é algo tão caro quanto as pessoas pensam. Agora vamos dar outra dica: se você for do tipo que não se importa muito com conforto, é possível economizar em tudo. Até com hospedagem. Tem um voo no começo da manhã de domingo? Você vai ter que se levantar cedo, talvez antes do nascer do sol e seguir para o aeroporto. Por que não economizar e fazer do saguão do aeroporto hotel por uma noite? Para esses momentos existe um site chamado The Guide to Sleeping in Airport, um manual online com comentários de milhares de viajantes que já testaram vários aeroportos ao redor do globo. Lá você encontra dicas para dominar essa arte, um ranking com os melhores (e piores) aeroportos do mundo (segundo os critérios dos dorminhocos) e outras informações. Nós usamos essa Bíblia online antes de nos hospedarmos em nosso primeiro aeroporto. Veja algumas coisas que aprendemos:
É possível que outros mochileiros resolvam adotar o lifestyle mendigo exatamente no mesmo dia que você. Relaxe no planejamento e você vai passar a noite no banco mais desconfortável do saguão, enquanto o mestre na arte de dormir em aeroportos vai se deitar confortavelmente num sofá que fica escondido em algum canto do terminal. E pode ser que o melhor lugar esteja longe da área de embarque. Chegamos no começo da madrugada ao aeroporto de Jacarta, na Indonésia. O voo para Cingapura era só no dia seguinte. Resolvemos nem sair da área de desembarque – subimos uma escada e achamos um saguão com dezenas de poltronas confortáveis. Sim, o paraíso dos mochileiros mão de vaca. Dormimos tranquilamente até a hora que as lojas começaram a abrir – sim o local era uma espécie de shopping.
Não é necessário fazer vigília para garantir a segurança, mas pelo certifique-se de que ninguém vai roubar as suas malas enquanto você tira uma soneca. A melhor alternativa é despachar os trambolhos assim que o check in começar. Se isso não for possível, pelo menos trate de dificultar o trabalho do ladrão. Em Jacarta, nós posicionamos as poltronas em círculo e colocamos todas as malas no centro, de forma a evitar que qualquer pessoa chegasse perto delas. No aeroporto de Kuala Lumpur, que também foi nosso hotel por uma noite, nos simplesmente nos deitamos em cima das malas. Há quem acorrente a bagagem ao corpo, mas eu acho que essa medida é um pouquinho exagerada. Ahh, de preferência não fique em locais ermos. Em geral, o lugar certo estará cheio de viajantes com a mesma intenção – ter uma boa noite de sono. Poucos conseguem.
Não sei ao certo a razão, mas os funcionários dos aeroportos não ficam muito contentes quando um viajante resolve dormir no saguão. Aparentemente eles acham que o aeroporto não foi feito para isso, o que, vamos concordar, não tem o menor sentido. Fato é que podem implicar com você, acabando com sua noite de sono tranquilo e mandando que você procure um (arg) hotel. Para evitar problemas, não pareça estar muito preparado para passar a noite ali. Já vi gente que montou uma barraca de acampamento no meio do saguão, em Kuala Lumpur. Não acredita? Ó:
Ou seja: evite de tirar o seu pijaminha listrado da mala e circular pelo terminal de embarque – quanto menos notarem suas intenções, melhor. O ideal é mostrar que você mesmo não queria estar ali. Faça a cara “meu voo atrasou, maldita empresa aérea”, e tenha bons sonhos. Mas lembre-se que isso é apenas fingimento. No fundo você precisa…
Encarne o Viktor Navorski que há em você. Tenha tudo que é necessário para tornar sua estadia no aeroporto agradável. O blog Viagens Para Mãos de Vaca lembra que é necessário levar tapa-olho e tapa-ouvido, daqueles que costumam ser fornecidos nos voos. Também tenha algum estoque de comida e água – pode não haver restaurante aberto durante a madrugada – e vista roupas confortáveis. Alguma coisa para se cobrir também pode ajudar. No mais, vale o improviso. Qualquer objeto vira travesseiro num momento de necessidade. Não consegue dormir? Livros, computadores, tablets e afins podem ajudar a passar o tempo.
Nem tudo foi perfeito no aeroporto de Katmandu: fomos atacados por dezenas de pernilongos nepaleses, que são tão chatos quanto os pernilongos de todas as outras nacionalidades do mundo. No aeroporto de Kuala Lumpur nós não conseguimos nenhum lugar confortável e acabamos dormindo nos bancos do McDonald’s (que por sorte era 24 horas). Ou seja: dormir num aeroporto nem sempre quase nunca é agradável. Por isso mantenha o bom humor e tenha em foco a economia conquistada.
Quase sempre a sala de embarque é o hotel gratuito com maior número de estrelas no aeroporto. Em Nova Délhi os passageiros podem se deitar em divãs confortáveis. E onde ficavam os lendários sofás de Katmandu? Na sala de embarque, claro. Dizem que a do aeroporto de Cingapura é uma espécie de paraíso para os mochileiros. Só que nós nunca testamos o potencial relaxante dela, assim como a do aeroporto de Kuala Lumpur. O problema é que nem sempre é possível fazer o check-in antecipado, o que faz com que o viajante dorminhoco tenha que se deitar em algum banco metálico do saguão de entrada. Se você souber disso antecipadamente será mais fácil lidar com o banimento do paraíso.
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Morri de rir com a parte do pijaminha listrado ;) Pois é ter que passar a noite num aeroporto nunca é das 10 melhores experiências, mas com jeitinho tudo fica melhor. Minha dica, se o aeroporto tiver aquela sala de culto, onde as pessoas rezam, dar uma dormidinha ali pode ser uma boa. Geralmente tem carpet e o lugar é silencioso.
Eita, boa dica essa da sala de culto, Lucila.
Nunca tinha pensado nisso.
Abraço.
Ótima dica!!!
Que dica incrível! Vou passar 10 horas em conexão e ainda não estou preparado pra isso! haha