As cores do Mercado do Ver-o-Peso, em Belém

Nada representa uma cidade tão bem como seu principal mercado. Fã confesso que sou desses lugares, muitas vezes sujos, lotados e barulhentos, faço questão de frequentar feiras e mercados públicos em toda cidade que conheço. E nunca vi nada igual ao Mercado do Ver-o-Peso, em Belém. Veja bem, conheci feiras enormes, daquelas que a gente adora chamar de exóticas, seja lá o que isso possa significar, mas nunca pisei numa mais impressionante que a do Pará.

Mais de três mil feirantes fazem do Ver-o-Peso a maior feira de rua da América Latina. Gente que está lá quase todos os dias, do começo da madrugada e até o sol se pôr. Isso para não falar na multidão que vai atrás dos mais variados produtos – frutos amazônicos, temperos, peixes, carne e até ervas e poções que garantem trazer o amor de volta ou dar sorte na vida.

Veja também: Onde ficar em Belém

Pontos turísticos e roteiro em Belém do Pará

Ver-o-Peso: um pouco de história

Tudo começou em Feliz Lusitânia, primeiro nome dado ao local onde hoje fica Belém. Há 400 anos, quando o português Francisco Caldeira Castelo Branco desembarcou por lá com a missão de tomar conta do norte da colônia e ocupar a área ao redor do Grande Rio, o Amazonas, ele também deu o ponta pé para o surgimento do Ver-o-Peso.

Primeiro foi construído um forte. A vila e as pessoas vieram depois, mas logo surgiu um ponto comercial de frente para a baía do Guajará. Foi ali que os portugueses instalaram um posto de fiscalização de tributos para controlar toda mercadoria que passasse pela região. O nome desse posto? Casa de Haver o Peso, indicando a função de pesar produtos e cobrar tributos.

O tempo passou, o mercado cresceu e se tornou um dos pontos comerciais mais importantes do norte do país. Um mercado com 388 anos de história e que foi criado apenas 11 anos depois da capital do Pará.

Visita ao Ver-o-Peso

Durante a semana que fiquei em Belém, dei um pulinho no Ver-o-Peso quase todos os dias, para sentir um pouco do clima que toma conta do lugar. Se você for do tipo que topa madrugar, uma boa ideia é acordar antes do sol para ver o descarregamento do açaí, que ocorre na madrugada, atrás da Praça do Relógio.

Veja também: A feira do açaí em Belém e a vida noturna no Pará

Se madrugar não for a sua praia, passe pelo mercado ao longo do dia. Mesmo que você não pretenda comprar nada, é impressionante ver os peixes, camarões e outros produtos. Mercadoria que, assim como o açaí, chega toda noite.

Assim que desembarcam, os peixes têm um cantinho especial. A Feira de Peixes e frutos do mar funciona dentro do prédio que acabou virando o principal cartão-postal de Belém e o símbolo máximo do Ver-o-Peso.

A feira, no entanto, vai muito além. Em frente ao prédio ficam várias barraquinhas. Não deixe de passar pelo setor das erveiras, um dos mais interessantes do mercado. Ali são vendidas as tais ervas amazônicas que fazem milagres. São os banhos de cheiro, uma parte importante da cultura paraense, herança indígena.

Esses potinhos coloridos guardam banhos que prometem tudo. E, garantem os vendedores, cumprem. Muitas das erveiras do Ver-o-Peso aprenderam o ofício na infância, com os pais. Há casos de quatro gerações de uma mesma família produzindo banhos de cheiro no Ver-o-Peso.

Siga seu caminho para, errr, a praça de alimentação da feira. São 150 lojas, lugares onde é possível encontrar de tudo. O prato mais tradicional, claro, é o açaí. Tire a granola, a banana e o morango. Acrescente farinha e uma porção generosa de peixe frito. Assim é o açaí do Ver-o-Peso.

Veja também: Açaí, a comida de todos os dias no Pará

Você ainda vai encontrar um setor de artesanato e o de carnes, este sem ser a céu aberto. Ao caminhar pelas ruelas da feirinha, preste atenção ao tucupi, um líquido amarelo feito com raiz de mandioca e que faz parte de culinária paraense. E não deixe de provar (e levar para casa) a Castanha do Pará. Não é caro e vale cada centavo.

O Mercado do Ver-o-Peso fica na Avenida Castilhos França, no centro histórico da cidade. Depois de passar por lá, siga para a Estação das Docas, outro ponto turístico de Belém que vale a visita.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Nossa rafael. eu estou gostando de Belém, principalmente pelas suas dicas e pelos seus posts. Quero convencer minha família a ir. deve ser realmente muito Bom..
    Grande Abraço.

  • Égua, Rafa, domingo último teve um evento no Veropa, chamado Ver a Bóia, e foi tudo de bom! Dez barracas participaram, com dez pratos diferentes, além de programação musical. Estava uma festa linda!

    • Eu vi no Facebook, Cândida. :) Deve ter sido incrível. Está gostando dos textos do Pará? Demorou pra começar, mas agora já tem até bastante coisa aqui no blog. E ainda falta a Ilha do Marajó.

      Abraço.

  • Impressionante como você faz a gente querer conhecer qualquer lugar, mesmo os que nunca estiverem em primeiro lugar nos desejos. Amei saber um pouco sobre a feira, gosto da ideia de lugar assim, onde se pode conhecer mais das pessoas do local. Admito que algo me chamou bastante atenção no texto: "Tire a granola, a banana e o morango. Acrescente farinha e uma porção generosa de peixe frito." isso parece que nos tira da realidade e nos leva a outra dimensão, sair daquele velho convencional que estamos acostumados, enfim, muito legal. Essa deve ser umas das magias de viajar! rs belo posto, Rafa!! :D

    • Que comentário lindo, Larissa. Obrigado! :)

      E, olha, vale muito conhecer o Pará. Logo logo começo a escrever sobre a Ilha do Marajó. Você vai ver como é incrível.

      Abraço.

  • Oi Rafael!

    Esses seus posts estão me deixando cheia de vontade de conhecer Belem!

    Voce acha que em um final de semana prolongado (sex-dom) eu consigo ter uma ideia legal da cidade? As ferias já estão comprometidas, mas quero ir a Belem ainda esse ano.

    Abraço!

    • Oi, Dani. Desculpa a demora na resposta. :)

      Sim, dá pra fazer bastante coisa. Acho que você vai gostar.

      Abraço.

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Publicado por
Rafael Sette Câmara

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