Onde vive o Dalai Lama hoje? Em McLeod Ganj!

Cada centímetro do ônibus tremia ensurdecedoramente. Logo percebi que dormir seria impossível – nem mesmo dopado consegui fechar os olhos. É óbvio que eu já esperava uma estrada ruim. Afinal, o que mais explicaria uma duração estimada de oito horas para uma viagem de pouco mais de 250 quilômetros?

Mas o percurso entre Chandigarh e McLeod Ganj, no norte da Índia, superou facilmente as expectativas. Aquilo ali é prova de resistência, um via crucis metade hindu, metade budista e obviamente sem Cristo. Sorte que o destino final vale cada solavanco do ônibus: McLeod Ganj é um vilarejo fora do comum.

A primeira coisa que você precisa saber sobre essa pequena vila é que ela está no meio do Himalaia. Por trás das casas é possível ver o pico mais alto da região, com quase 5 mil e 700 metros. E neve no topo, claro. Só a vista já tornaria o local parada obrigatória, mas McLeod Ganj é mais: é moradia do Dalai Lama e sede oficial do governo do tibetano, que está no exílio desde 1960, quando a China invadiu o Tibet e milhares de refugiados foram morar no norte da Índia.

O vilarejo de ruas pequenas e chão de terra batida tem um charme difícil de definir. Pode ser por causa dos monges budistas que vivem no local e frequentam o templo de His Holiness, o Dalai Lama, fazendo de McLeod um pequeno Tibet no meio da Índia. Ou quem sabe é pela variedade de estrangeiros, pessoas de todos os lugares que ajudam uma vila perdida no fim do mundo a ser mais cosmopolita do que muita metrópole. E o Himalaia emoldurando tudo dá um toque especial, claro.

Como chegar a Mcleod Ganj

É preciso pegar um ônibus até Dharamsala, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes que fica pertinho da terra do Dalai Lama. Da rodoviária de Dharamsala até McLeod é outra viagem, mas o percurso é bem menor – pouco mais de 30 minutos, e pode ser feito com outro ônibus local ou com um dos muitos motoristas de tuk tuk que esperam na estação.

O que fazer por lá

 Tsuglagkhang

É o complexo onde fica o Templo e a casa do Dalai Lama. Ótimo local para conhecer um pouco sobre o budismo, observar o dia a dia dos monges e, em algumas épocas do ano, ouvir o próprio Dalai Lama discursar. Ali perto fica o Museu do Tibet, que conta a história dos refugiados tibetanos e sua luta por um país livre.

Baghsu 

O templo hindu em Baghsu

Uma vila que fica a poucos quilômetros de Mcleod. Lá é possível ver um templo Hindu e caminhar até uma cachoeira (foto abaixo), local usado como lavanderia por muitos monges tibetanos. Aqui viramos as estrelas do lugar. É que os indianos não se cansam de tirar fotos dos estrangeiros.

 St. John in the Wilderness 

Na terra do Dalai Lama você também vai encontrar uma igreja anglicana. A Índia foi parte do Império Britânico até 1947 e a igreja em questão foi construída em 1852. Ali está enterrado Sir James Bruce, que ao longo da vida foi o governador britânico de várias províncias do Império: Jamaica, Canadá, China, Japão e, é claro, Índia. Vale mais pela curiosidade, mas passar ali não é essencial – o templo que importa mesmo em  Mcleod é o do Dalai Lama.

Dal Lake

Um pequeno lago que, segundo os guias turísticos, é sagrado para a população local. Perto de lá fica uma escola para crianças tibetanas, local de trabalho voluntário para muitos estrangeiros . O lugar é bonito, mas infelizmente o lago estava vazio quando passamos por lá.

O lago pode até ser sagrado, mas estava vazio.

Compras em Mcleod Ganj

Reza a lenda que McLeod é o único lugar do mundo onde não há nada made in China. E garanto que você não vai sentir falta. O artesanato local oferece centenas de alternativas, de elefantes e camelos de madeira a chaveiros do Kama Sutra. Mas lembre-se que McLeod pode até parecer o Tibet, mas aqui vale o primeiro mandamento para turistas na Índia. Pechincharás sempre.

“Quero encontrar minha espiritualidade”

Posso até não fazer parte desse grupo, mas muita gente, muita mesmo, vai a McLeod por conta disso. E a soma budismo + Dalai Lama + natureza exuberante realmente cria essa vibe meio riponga. Pra quem tem preguiça disso, um consolo: McLeod vale o investimento. Renda-se ao local e aproveite para fazer uma massagem. Afinal, a viagem de volta provavelmente será tão cansativa quanto a de ida.

Onde ficar em McLeod Ganj

Vista do nosso hotel lá

A vila é muito pequena e dá para fazer tudo a pé. Quem vai no verão pode ficar também em Daramkot, que tem estrutura turística. Veja opções de hospedagem aqui.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Estive em McLeod Ganj em 2019 e as ruas estavam asfaltadas. Tem ótimos restaurantes mas o mais valioso é a oportunidade de aprender a cultura tibetana e budismo. Recomendo fazer um curso de meditação no Tushita Meditation Center e assistir os ensinamentos do HHDL.

  • Rafael, tudo bem?

    Estou querendo fazer a viagem a Mcleodganj em julho deste ano, porém ouvi falar que as chuvas são intensas. Vc tem informação se realmente atrapalha a viagem ou daria para encarar? Como minhas férias são nesse período, então não tenho muita escolha.....

  • Olá Rafael,
    Adoro o blog de vcs, sempre venho aqui e as dicas são sensacionais. Vou para a India em março/2019 e chegarei em Deli e irei direto de avião para Amritsar e depois para Dharamshala, mas queria ir de carro com motorista será que é possível contratar lá? Pelo que li isso é comum em Rajastão, mas não vi nenhum comentário na região norte, será que alguém tem uma indicação...Muito obrigada.

    • Nos fomos de ônibus, a partir de Chandigarh. De Dharamshala pegamos um tuk tuk para Mcleod. Então é possível, só não tenho ninguém pra indicar. :)

      • Fui de Dharamshala para Amritizar de carro. A estrada é boa e o transporte foi arrumado pelo hotel (simples, eles fazem isso regularmente). O trajeto inverso também pode ser arranjado.

  • ola Rafael, tudo bem? gostei muito to seu post sobre Dhramsala...como ja fui 2 vezes para INdia a turismo e agora quero fazer uma viagem espiritual para as seguintes cidades Lumbini no Nepal...Dhramsala, Bodhgaya, Sarnath, Rishikeshi e Haridwar na INdia e Ladakh e monasterio do Tigre no Butao...gostaria de saber como comecar ? pensei em voar de sao paulo para katmandu no Nepal p fazer lumbini e adjacencias de la voar para Varanasi para fazer as outras cidades Bodhgaya Sarnath...mas nao sei como fazer para ir a Dhramsala e Rishikeshi....depois voaria para o Butao para fazer Ladakh e adjacencias...é isso mesmo ? pode me ajudar somente a botar uma ordem nesse roteiro de acordo cm a sua experiencia...super obrigado, namaste

    • Oi, Marco. O melhor para Dharamsala e Risihkesh é ir de ônibus a partir de Delhi. Você pode ir de ônibus de Delhi para Rishikesh, por exemplo. E de Rishikeshi não sei se há ônibus diretos para Dharamsala - não tinha quando eu fui. Aí a saída é voltar de ônibus para Delhi e de lá pegar outro para Dharamsala. Ou então seguir de ônibus de Rishikesh para Chandigarh, que está mais ao norte, e de lá pegar outro ônibus para Dharamsala.

      Não há trens para Dharamsala. Para Rishikesh também não, mas pelo menos há entre Delhi e Haridwar, que é uma cidade vizinha.

      Depois veja esse texto:https: //www.360meridianos.com/dica/roteiro-de-viagem-para-india-espiritual
      Abraço.

  • Cara, a grande pergunta: e o idioma? Dá pra se virar pela Índia só com o inglês fluente, levando em conta o monte de idiomas que o pessoal fala por lá?

  • Rafael parabéns pelos site. Estamos organizando um grupo e queremos visitar McLeod a partir de Rishikesh, mas o trecho de ônibus é muito longo e pode ser perigoso, verdade?
    E sobre o Dalai Lama, existem meditações abertas, onde se pode vê-lo, conhecelo?

    Grata

  • Oieee, td bem?
    TO mexendo no meu roteiro para o fim do ano e escolhi as seguintes cidades

    Nova Delhi - Mumbai (trecho de avião) - udaipur - jaipur - amritsar - mcleod ganj - rishikesh - varanasi - khajuraho - agra - nova delhi

    pensei em fazer nessa ordem, mas queria opinião para nao ficar perdendo tempo com trechos de vai e volta, sei la

    • Me parece ótimo, Priscila. Também dá pra encaixar Agra depois de Jaipur ou logo depois de Delhi, se quiser - mas gostei mesmo do seu roteiro. :)

      Além do trecho de avião, como você fará os outros?

      Abraço.

  • Olá.
    Adoro o vosso site. Grata por partilharem informação tão valiosa.
    Queria pedir a vossa opinião para um itinerário que estou a pensar fazer.
    7 de outubro – viagem
    7 - 8 - 9 – Delhi
    9/10 – viagem de comboio
    10 e 11 - Jaisalmer
    12 e 13 – Jodhpur
    14 e 15 – Pushkar
    16, 17 e 18 – Jaipur
    19 – Agra
    20 e 23 – Varanasi
    24 a 2 nov – Rishkesh: 7 dias Ashram
    2 nov – Delhi
    3 nov – regresso

    Gostaria de incluir uns dias em McLeod Ganj mas não sei bem onde inserir nem quantos dias é aconselhável ficar. A minha grande dúvida é as deslocações entre cidades. Não sei se os dias que tenho previstos são suficientes.
    Se me puderem aconselhar ficaria muito grata.
    Um abraço.

    • Oi, Juvelina.

      É melhor incluir McLeod a partir de Delhi - outra opção seria Rishikesh, mas não tenho certeza se há ônibus entre as duas cidades. Fique pelo menos dois dias lá, mas quem fica mais não costuma reclamar. A viagem é um pouco complicada por conta da montanha.

      O roteiro me parece bom sim. :)

      Abraço.

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Rafael Sette Câmara

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