Visita à Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu

“Bem-vindos ao Paraguai”, disse o guia, enquanto nosso ônibus cruzava a barragem de Itaipu e entrava na área controlada pelos nossos vizinhos. Aquela foi minha primeira visita ao país. E durou pouco: uns 30 segundos, tempo suficiente para o ônibus manobrar e voltar ao Brasil. “E agora bem-vindos novamente ao Brasil”, informou ele, para a alegria dos turistas.

Se as Cataratas do Iguaçu são uma maravilha da natureza, a Itaipu Binacional é uma maravilha da engenharia. Planejada na década de 60, construída nos anos 70 e inaugurada em 1984, esse projeto conjunto entre Brasil e Paraguai resultou na maior usina geradora de energia do mundo – 17% da energia nacional e 75% da paraguaia são produzidas por Itaipu. Ao contrário do que muita gente pensa, Itaipu e as Cataratas não ficam no mesmo rio. A usina está no rio Paraná, enquanto as cataratas levam o nome do rio em que elas estão, o Iguaçu.

A vazão média de Itaipu não é pouca coisa não: passa 40 vezes mais água por lá do que nas Cataratas. A barragem tem quase oito quilômetros de extensão e 196 metros de altura, o equivalente a um prédio de 65 andares. O Mirante da Vale, em São Paulo, é o maior prédio do Brasil. E ainda assim é menor do que Itaipu – o edifício paulista tem 170 metros de altura e 51 andares. Tudo bem que parte da grandeza de Itaipu está debaixo da terra (e da água), mas deu para entender que a barragem é gigante, né?

Para alcançar esses números foi preciso muito trabalho. O concreto usado na obra seria suficiente para a construção de 210 estádios de futebol (ia faltar Copa!), enquanto o ferro poderia erguer 380 cópias da Torre Eiffel. Mas a comparação mais inacreditável é outra. A construção da usina envolveu 8,5 mais escavações de terra do que a construção do Eurotúnel, que liga França e Inglaterra.

Veja também: Compras no Paraguai – dicas úteis

Além da monumental obra de engenharia, Itaipu exigiu muita diplomacia e um baita sacrifício, até hoje contestado por ambientalistas: o lago formado por Itaipu causou o desaparecimento do Salto de Sete Quedas, na época a maior cachoeira do mundo em volume de água, que ficou completamente submersa.

Essa perda inestimável motivou protestos de todos os lados, entre eles o do escritor Carlos Drummond de Andrade, que fez o poema “Adeus a Sete Quedas”.

“Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá.”

Hoje, quando ocorre alguma seca no rio Paraná, é possível ver parte das antigas cachoeiras. E não foi só o lago que mudou a região. Em 1960, Foz tinha menos de 30 mil habitantes. Hoje são 260 mil, muitos deles antigos trabalhadores da obra, gente que resolveu viver em Foz quando a construção acabou.

Veja também: onde ficar em Foz do Iguaçu

Itaipu: usina e atração turística

Se as quedas foram sacrificadas pelo homem em sua busca por energia elétrica, a região ganhou também uma nova atração turística. Cerca de 900 mil visitantes passaram por Itaipu em 2012. O passeio mais comum inclui assistir a um filme com a história da usina e depois fazer um tour guiado de ônibus, com direito a uma parada para fotos. Essa opção custa R$ 26 e dura 1h30.

Quando o lago está cheio, o vertedouro é aberto, proporcionando um espetáculo e tanto. Infelizmente nós não tivemos essa sorte, mas é algo mais ou menos como na foto abaixo. Se quiser presenciar isso, a melhor época é entre dezembro e fevereiro, quando as chuvas aumentam a quantidade de água no lago.

Kevin Jones, Flickr Commons

Há ainda um tour especial, que passa por áreas dentro da usina, incluindo a sala de controle central e um local próximo de onde estão as turbinas, em pleno funcionamento. Esse passeio custa R$ 64 e dura 2h30. Nós não fizemos – os ingressos estavam esgotados quando tentamos comprar -, mas a Clarissa, do blog Dondeando por aí, esteve dentro da usina e conta como é.

Outro passeio que parece interessante acontece apenas aos finais de semana: sexta e sábado, às 20h (ou 21h, durante o horário de verão). Nesses dias, centenas de refletores iluminam a barragem, com direito a trilha sonora. Esse tour é baratinho (R$ 15), então se você estiver na cidade nesses dias, com certeza vale a pena agendar uma visita.

Foto: Carlosbenitez26, Wikimedia Commons

Os visitantes podem conhecer também o Observatório Astronômico Casimiro Montenegro Filho (R$ 19), o Ecomuseu (R$ 10) e o Refúgio Biológico Bela Vista (R$ 20), uma reserva ambiental criada para receber os animais desalojados da área alagada. Hoje esse refúgio guarda 50 espécies de animais.

Serviço:

Com exceção do tour especial, aquele que vai ao interior da usina, não é preciso reservar com antecedência.  É possível comprar o ingresso no site oficial.

A Loumar Turismo apoiou o 360meridianos durante nossa visita à cidade com hospedagem e transporte entre as atrações.

*Imagem destacada: Kevin Jones, Flickr Commons

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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