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A música de Bardo e Fada: a família que, cantando, percorre o país de Kombi

Bardo, Fada e a música. Essa é a história de um pai, uma mãe, duas filhas, um cachorro e até da Kombi Elvira. “Saímos de Porto Alegre para o que seria apenas uma turnê musical e tornou-se uma vida nômade, que já passou por mais de 300 cidades brasileiras, com mais de 1000 espetáculos realizados, no melhor palco que o mundo pode oferecer: a rua”, nos contou Bardo em um bate-papo no começo de 2020.

Se você ainda não teve a sorte de ouvir nossos convidados pelas ruas da sua cidade, se liga no clipe abaixo e deixa a música de trilha sonora, enquanto a gente conta a história do Bardo e da Fada, uma família de artistas que percorre o Brasil tocando boa música por aí! Quer ouvir mais? Então se joga no Spotify!

Nas certidões de nascimento eles são Ricardo e Vanessa, mas para entender quem são eles você precisa conhecer o Bardo e a Fada, os pais de uma família super legal e que estão viajando por aí com as duas filhas, Lavínia e Mônica, e com o cachorro, o Rock. Nessa família também não podemos esquecer da responsável por levar e trazer todo mundo pelas estradas brasileiras: Elvira, a Kombi!

Eles saíram de Porto Alegre no dia 16 de novembro de 2016. Na época, o carro era emprestado, uma Doblô, que tinha data de validade para ser devolvida – dois meses. Esse era o período em que eles precisariam trabalhar para conseguir comprar um carro novo.

“Fizemos aproximadamente 7 espetáculos por dia, sob o sol escaldante das praias de Santa Catarina. Foi ali que encontramos a parceira, a Elvira, uma Kombi simpática que entregava empadas no Balneário Camboriú. Lutamos para comprá-la e seguir nossa viagem”.

Elvira passa por uma revisão a cada 3 meses, com uma lista de cuidados específicos com óleos, graxas e borrachas, que sofrem muito desgaste. “A Kombi é um carro infinito, que nunca quebra, se rodar pouco, devagar e com essas devidas manutenções. Ela chegou, mesmo assim, a ter problemas no caminho, mas foram todos causados por ainda não sabermos usá-la de forma correta”. Hoje em dia a Elvira já está toda equipada e é pau pra toda obra.

Como todo bom artista, a estrada deles tem sido longa, cansativa, mas nem por isso menos feliz. Para Bardo, a opção de viverem na estrada, levando cultura de grandes metrópoles a pequenas cidades, é o que verdadeiramente dá prazer. “Poderia ser diferente, poderíamos ter aceitado contratos de bares e casas de shows, mas a rua nos oferecia uma magia que dinheiro nenhum podia comprar. Ali encontramos o ser humano em sua pura essência, com o braço abarrotado de boletos, o rosto fatigado do trabalho duro, os olhos pedindo por fé e esperança de que a vida pode ser melhor”.

Quando perguntado como fazem para programar as cidades onde vão parar ou se simplesmente encontram um lugar legal e ficam pelo caminho, Bardo explica que eles mantêm um registro da viagem, que conta com 250 cidades visitadas, mais de 1000 shows e 40.000 km rodados pelo Brasil em mais de 1150 dias de viagem.

Para escolher as cidades, eles vão pra onde o coração e a Elvira mandam. “Até esse momento, vivemos um dia de cada vez. Então vamos indo para onde a oportunidade oferece. Nosso foco são as pessoas, então vamos fazendo amigos pelo caminho, voltamos para visitá-los novamente, vamos para cidades onde tem um grande público ou para alguma roça para descansar. Houve lugares que ficamos por 40 minutos, outros que ficamos quase 30 dias. Não tem mesmo muita regra para isso”.

Nesses milhares de quilômetros percorridos, os vários fãs dessa família de artistas começaram a pedir pela gravação de um CD. Foi a vontade dos fãs de ouvi-los sempre, a toda hora, que fez com que eles juntassem uma grana e encarassem o desafio – o primeiro CD deles, com 20 faixas, teve inicialmente mil tiragens.

E a proposta deu certo. Super certo! “Hoje são mais de 5.000 CDs físicos espalhados pelo país, com as pessoas pagando por eles a quantia que podem, e muitas vezes essa quantia sendo nada mesmo. Nossa família na estrada crescendo cada dia. Muito amor e música sendo espalhados pelas ruas e a arte diariamente levada para todos, sem distinção”, conta Bardo.

Bardo, Fada e a música: a vida na estrada com duas filhas

Quando eles começaram a viagem, a Lavínia tinha 11 anos e a Mônica, 7. Hoje, elas têm 15 e 11 anos, respectivamente. As meninas estão com eles em todos os cantos e é bem interessante ver o crescimento delas ao longo da aventura. Se quiser conferir, dá uma olhada no Instagram deles.

Essa vida, de estar na estrada com elas, era um desejo muito grande do casal. A Fada cresceu na estrada com o pai e sempre acreditou que crescer vendo culturas diferentes, podendo vivenciar várias coisas distintas, vendo como as pessoas se comportam, como tudo tá rolando diferente em cada lugar que eles chegam, seria muito enriquecedor para o futuro das filhas.

“Elas estão conhecendo pessoas, tendo percepções diferentes. E quando chegar a hora delas escolherem algo pra vida, será mais fácil. Pra nós, é totalmente enriquecedor e um sonho poder estar levando nossas filhas pra tantos lugares”, diz Fada.

Estar há tanto tempo na estrada acabou afastando as crianças da escola, mas nem por isso elas deixaram de receber educação. Para o pai, “esse é um assunto bem polêmico, porque a lei brasileira obriga as crianças até 14 anos a irem para a escola, mas não oferece a estrutura para isso. Nós praticamos o ensino no lar, com aulas práticas em todas as disciplinas. O foco da educação delas é a compreensão real do mundo e o desenvolvimento de valores que as tornem bons seres humanos para esse mundo que receberam”.

Gostou da história e quer conhecer um pouco mais o Bardo, a Fada e a música deles? Que tal dar uma olhada nas redes sociais deles?

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Fernanda Pádua

Tenho BH como meu ponto de partida e o meu porto seguro. Entrei pela primeira vez em um estádio de futebol aos 10 anos e ali descobri que queria ser jornalista. 20 anos depois, me tornei repórter esportiva e viajante nas horas vagas. Fiz intercâmbio na Irlanda em 2016/2017, pra estudar inglês. Tenho um objetivo de visitar todos os estados brasileiros e metade dos países do mundo e já percorri boa parte do trajeto, mas várias histórias e paisagens legais ainda estão por vir.

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Fernanda Pádua

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