O que fazer na Ilha do Marajó, no Pará

A não ser que os dados do Google que encontrei estejam errados, são feitas mais pesquisas no buscador pelo termo “Marajó” em sites em inglês do que em sites brasileiros. E isso, caro viajante, é uma pena. A Ilha do Marajó é um lugar que merece ser chamado pelo marketing turístico de exótico, por mais que isso não signifique muita coisa – exótico é sempre o outro. Estratégias de propaganda de lado, lá você encontrará praias lindas, cenários amazônicos e outras coisas mais.

Trombar com turistas italianos e franceses era frequente na Ilha do Marajó, durante os três dias que passei por lá. Com brasileiros também, mas a proporção de gringos comprova o óbvio: Marajó é mesmo mais conhecido lá fora que no Brasil.

E olha que essa não é uma viagem das mais complicadas. Basta pegar um voo para Belém, passar uns dias conhecendo a capital do Pará, e em seguida pegar um barco em direção ao Marajó. Duas horas navegando por rios amazônicos, sentimento de realização já nesta etapa da viagem e pronto! Você estará num canto especial do Brasil.

Está convencido de que essa é uma viagem simples de organizar? Ótimo! Agora vou dar motivos para você ir até lá, mostrando o que fazer na Ilha do Marajó.

Veja também: Onde ficar na Ilha do Marajó

Fazenda São Jerônimo, em Soure

Soure, a capital da Ilha do Marajó

A melhor base para conhecer a Ilha do Marajó é Soure, uma cidade de 22 mil habitantes que funciona como uma espécie de capital da ilha. Os barcos rápidos que levam até Marajó param lá. Já os mais lentos atracam no Porto do Camará, na vizinha Salvaterra, separada de Soure pelo rio Paracauari. As duas cidades dividem os lugares mais turísticos da ilha, com vantagem para Soure.

Veja também: Como chegar à Ilha do Marajó 

Uma vila pacata e com ruas de nomes simples, como rua um, dois, três e quatro. Assim é Soure, que tem casarões históricos, bons (e simples) restaurantes, praias, fazendas e traços importantes da cultura marajoara. Mas o que primeiro chamou minha atenção, assim que desembarquei lá, foi outra coisa: búfalos. Centenas deles.

A Ilha do Marajó tem o maior rebanho de búfalos do Brasil, com 600 mil animais. São quase três búfalos por habitante, tendência que começou no fim do século 19, quando, garantem os moradores de Soure, um navio carregado de búfalos que seguia para as guianas naufragou em frente à ilha. Hoje, além de fornecerem leite e o famoso queijo marajoara, os búfalos são usados até pela policia. No Marajó, a cavalaria da PM vem de búfalo – e persegue criminosos assim.

Veja também: Os búfalos e a Ilha do Marajó

Centro de Soure, na Ilha do Marajó

Reservei meu primeiro dia no Marajó para conhecer a Praia da Barra Velha, que fica a três quilômetros do centro de Soure. Para chegar até lá, contratei o serviço de um mototaxista, que cobrou R$ 14 pelo passeio. Ele me deixou lá e marcamos uma hora para voltar.

Trilha para a Praia da Barra Velha

O mais legal da Praia da Barra Velha é a trilha de acesso, feita por meio de uma passarela de madeira que passa por cima do mangue. Embora a ilha seja segura, o mototaxista aconselhou que eu não passasse por essa trilha depois de anoitecer. Como eu fui na baixa temporada, cheguei e encontrei a praia quase vazia. Há quiosques e restaurantes. Assim como as outras praias de Soure, a da Barra Velha é fluvial, mas a água já é salobra, por conta da proximidade com o mar.

Praia da Barra Velha

No dia seguinte marquei uma visita à Fazenda São Jerônimo . É lá que ficam alguns dos lugares mais bonitos do Marajó. O tour dura metade do dia e tem quatro etapas: passeio de búfalos, caminhada pelo mangue, Praia do Goiabal e volta para a fazenda de canoa. Paguei R$ 70.

Fazenda São Jerônimo

A Praia do Goiabal foi cenário para uma edição do programa No Limite e para a novela Amor Eterno Amor, da Rede Globo. Foi só depois da fama que a fazenda abriu as portas para o ecoturismo, que logo virou tendência no Marajó.

Praia do Goiabal

Não recomendo o passeio de búfalo e tenho ressalvas com certas atrações turísticas que envolvem animais, mas o restante do tour é incrível. A caminhada pelo mangue, por meio de passarelas de madeiras, guarda os melhores cenários do Marajó. O passeio termina com um suco de frutas típicas da região, já no casarão da fazenda, que é comandada pelo Seu Brito e pela Dona Jerônima. Você pode agendar o passeio até por Whatsapp (91 91980904).

A Fazenda São Jerônimo fica distante do centro, então também é preciso contratar um motorista para chegar até. Como a Praia do Pesqueiro fica por ali, combinei com o mototaxista de fazer os dois passeios no mesmo dia. Ele me deixou na fazenda e depois me levou até a praia, onde almocei. No meio da tarde ele estava lá, pronto para me levar de volta para a vila.

A Praia do Pesqueiro fica a 11 quilômetros do centro, tem quiosques com cerveja gelada e pratos típicos do Pará, como o filé marajoara, feito com carne e queijo de búfala. Peixes, como o filhote, também são opções. Dica: peça uma porção de queijo do marajó para acompanhar.

Praia do Pesqueiro na maré baixa

A Fazenda Bom Jesus foi meu passeio final em Soure. A visita é completamente diferente. Caminhamos ao longo da fazenda, vimos vários animais e conhecemos a história da região. No final da visita há um lanche com produtos típicos do Marajó. Normalmente esse passeio é feito à tarde, às 15h, e termina na hora do pôr do sol e, se você tiver sorte, com revoada de guarás, pássaros vermelhos que são comuns na ilha. Paguei R$ 85 pelo tour. A proprietária da Fazenda Bom Jesus busca os clientes em seus hotéis, mas é necessário agendar. Você pode fazer isso diretamente com seu hotel.

Fazenda Bom Jesus

Outro lugar em Soure com passeios ecológicos é a Fazenda Araruna, que não tive oportunidade de conhecer.  Fica perto da Praia da Barra Velha. O passeio inclui andar de búfalos, ir à praia e andar de canoa, num formato parecido com o da São Jerônimo.

Por fim, a lista de atrações em Soure é completada pela Praia do Araruna, que é mais isolada e tem poucas barracas. Assim como a fazenda de mesmo nome, fica ao lado da Praia da Barra Velha e tem faixa de areia maior. As duas praias são separadas por um igarapé.

O que fazer em Salvaterra

15 minutos de barco separam Soure e Salvaterra, que um dia já foram a mesma cidade. A distância é tão pequena que muita gente prefere se hospedar em Salvaterra e cruzar o rio todos os dias para conhecer as atrações de Soure.

Além de ter o principal porto da região e ser uma grande produtora de abacaxis (dizem que dos mais doces do Brasil), Salvaterra também tem seus encantos. É lá que estão ruínas jesuíticas do século 17, rastros da colonização na foz do grande rio. As pedras marcam o que restou de um igreja construída para ajudar no trabalho de catequizar índios.

Duas praias de Salvaterra merecem destaque.  A Praia de Joanes tem pouca infraestrutura, mas é onde estão as ruínas e oferece uma vista interessante da baía do Marajó. Mas a mais popular é a Praia Grande, que tem restaurantes, quiosques e costuma ficar cheia na alta temporada.

Fiquei três dias na Ilha do Marajó e achei que foi suficiente. Na hora de voltar para Belém, já no Porto de Camará, me arrependi de não ter comprado queijo do marajó para levar. Por sorte, não faltavam vendedores, com o queijo saindo por R$ 10. Leve você também. Essa é uma forma de ajudar a comunidade da ilha, valorizar a cultura local e ter um gostinho do Marajó quando você já estiver em casa.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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