Peru: muito além de Machu Picchu

Todo mundo quer subir a Velha Montanha, mas nem todo viajante entende que o Peru vai muito além de Machu Picchu. Se as ruínas pré-colombianas mais famosas do planeta atraem os sonhos de milhões de turistas, experimente dizer que você vai passar as férias em Lima, capital do país. Sim, só Lima, ou talvez até outros lugares do Peru, mas nada de Machu Picchu no roteiro. Eu conheço a reação, que começa com tom de surpresa e termina em julgamento.

Não que Machu Picchu desmereça a fama que tem ou o direito de habitar os sonhos de viajantes mundo afora. Pelo contrário, visitar a Velha Montanha foi uma das coisas mais mágicas que já fiz – e até jurei que pisarei lá novamente. Mas, depois de voltar de uma segunda aventura pelo país, dessa vez sem Machu Picchu na programação, percebi como a antiga cidade inca tem o poder de eclipsar lugares que são tão incríveis quanto ela. Ou, para jogar ainda mais polêmica no ar, até mais mais impressionantes.

Veja também: Como planejar sua viagem para o Peru

A caminho do Vale do Colca, Peru

O melhor é exemplo é Cuzco, cidade que visitei na minha primeira passagem pelo Peru, em 2012. Por ser porta de entrada para Machu Picchu, o umbigo do mundo inca acaba esquecido em meio ao turbilhão de expectativas causadas pela Velha Montanha. E Cuzco, que foi capital inca até ser conquistada e ocupada por espanhóis, tem um centro histórico lindo e conservado, tem ruínas pré-colombianas que não acabam mais, tem vida noturna animadíssima, tem a imperdível gastronomia peruana, enfim, tem uma quantidade absurda de lugares, cores e sabores. Atrações que a maioria dos turistas não vê – ou vê apressadamente -, já que o centro da viagem é Machu Picchu e Cuzco está ali só de passagem. Ou como ponto de passagem, uma curva pouco esperada até o local máximo de peregrinação mochileira.

O resultado é que quase todo mundo reserva menos tempo do que imaginaria necessário para Cuzco e vai embora do Peru com vontade de voltar e aproveitar a cidade com calma e sem a pressão para conhecer Machu Picchu. Mesmo tendo passado vários dias na região, em 2012, comigo também foi assim, e já me peguei  olhando preços de casas no Airbnb e cogitei passar uma longa temporada em Cuzco, tamanho foi o fascínio que tive pela cidade.

Uma vez definido e transitado em julgado que Cuzco e o Vale Sagrado são tão merecedores de uma visita quanto Machu Picchu, é hora de dizer que o Peru vai além de toda essa região. Lima, por exemplo, é uma baita cidade, a segunda capital mais interessante da América do Sul – a primeira, ao menos para mim, é Buenos Aires.

Lima

Só que os viajantes brasileiros já aprenderam a admirar a capital argentina, mas o mesmo não acontece com a capital peruana, que está a cerca de cinco horas de voo de São Paulo. Lima tem uma Praça das Armas lindíssima, tem os restaurantes do Barranco e do Miraflores, alguns deles listados entre os melhores do mundo, tem construções espanholas, incas e até pré-incas. Assim como Salvador e o Rio de Janeiro foram capitais da América Portuguesa, Lima foi capital da América Espanhola, o que ajuda a explicar por que a cidade tem tantos prédios e traços culturais coloniais.

Em minha mais recente passagem pelo país, em junho, visitei também Arequipa, construída com pedras de origem vulcânica – e cercada por eles. Não há Praça das Armas mais bonita que a de Arequipa, que tem ainda o Monastério de Santa Catalina, muitas igrejas e prédios históricos e vários mirantes com vista para as montanhas nevadas que cercam essa cidade que viu nascer Vargas Llosa.

Arequipa

Arequipa foi o ponto de partida para conhecermos o Vale do Colca. Entre num ônibus, se ajeite na janelinha e separe as folhas de coca, porque você vai subir até cinco mil metros. Ou perto disso. Além de passar por vilarejos repletos de igrejinhas simpáticas e circular por estradas escavadas nas montanhas, o ponto alto desse passeio é no Cânion del Colca, um dos mais profundos do mundo, que em alguns pontos tem quase 4 mil metros. Lá também é um mirante de observação do voo do condor, ave imponente que tudo vê e que atrai, todos os dias, milhares de turistas para a região.

Cânion del Colca

E ainda tem o Titicaca, lago navegável mais alto do mundo, a quase quatro mil metros. Mais de 20 rios desaguam no Titicaca, que é dividido entre Bolívia e Peru. São quatro dezenas de ilhas, como a Taquile, onde moram cerca de duas mil pessoas, gente que mantém tradições seculares até na hora de se vestir.

Taquile, Peru

Outro destaque do lado peruano do Titicaca são as Ilhas artificiais de Uros, feitas de junco e que reúnem comunidades desde o período em que os espanhóis desembarcaram por ali, meio que sem entender o que estava rolando. Imagine gerações de famílias que vivem assim, construindo ilhas com plantas e flutuando em um dos maiores lagos de nosso continente. O turismo em Uros chegou tem pouco tempo, assim como as placas de energia solar, que trouxeram luz, TV e telefone.

Ilhas de Uros, no Lago Titicaca

Minha segunda passagem pelo Peru se encerrou com o Titicaca e o Vale do Colca ganhando um lugar tão importante na minha memória como o que dei a Machu Picchu e Cuzco, destaques da primeira viagem. E eu já tenho motivos para voltar. Ainda não conheço as Linhas de Nazca, Ica e o vilarejo Huacachina, Paracas e as Ilhas Ballestas. Não estive em Trujillo e tenho certeza que o próprio Vale Sagrado ainda tem muitos segredos para revelar.

E por falar em segredos, já que Machu Picchu tornou o país famoso e desejado, que tal conhecer um sítio arqueológico mais antigo, conservado e, garantem muitos, bonito que a Velha Montanha? É Choquequirao, outra cidade inca que, aos poucos, começa a ser descoberta pelos viajantes.

Mas, numa boa, dá para ir ao Peru e não ver nada disso, passar o tempo todo sentado e em ambientes fechados, mas sair feliz. Culpa da comida.

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*Este texto foi feito com base em duas viagens que fiz pelo Peru. A primeira em 2012, por conta própria, durante uma volta ao mundo. E a segunda em junho de 2016, a convite do Submarino Viagens e da PromPerú. 

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

Ver Comentários

  • Por coincidência eu estava editando minhas fotos da viagem ao Peru (2013). Tristeza de não ter uma boa câmera àquela época =/

  • Eu já havia lido sobre as Ilhas de Uros, no Lago Titicaca e também sobre o vilarejo Huacachina.Eu vi agora algumas lindas imagens de Trujillo e do Cânion del Colca no Google,estou interessada em pesquisar mais sobre. Estou inserida em um grupo de WhatsApp chamado "Viagem ao Peru", vou compartilhar no grupo essa excelente matéria,assim que eu chegar em casa.
    Eu fico pensando até que ponto o Turismo pode ser benéfico ou prejudicial para os habitantes das Ilhas de Uros. Na matéria que li sobre,vi que eles vendem lindas peças de artesanato.

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Rafael Sette Câmara
Tags: Machu Picchu

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