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Atlas: Arequipa, Peru

A Rota do Sillar e a vida nas pedreiras de Arequipa, Peru

Cerca de 500 homens ganham a vida nas pedreiras da Rota do Sillar, que ficam ao redor de Arequipa, segunda maior cidade do Peru. Vida que não é fácil, mas que já é assim há gerações. Fundada pelos espanhóis, em 1540, Arequipa logo ganhou um apelido: cidade branca.

A história da Rota do Sillar da cidade branca

Duas versões explicam o título, disse Alonso, o guia que nos acompanhou pela visita a uma das pedreiras. A primeira é obvia, já que Arequipa era a cidade europeia no meio de um mundo inca.

Mas é a segunda explicação, que não tem nada a ver com a cor da pele de seus primeiros moradores, que se tornou popular. Erguida num vale e cercada por três vulcões e com apenas um deles considerado extinto, Arequipa é cheia de construções de um tipo de pedra branca, o sillar, de origem vulcânica.

Pedreiras e Rota do Sillar em Arequipa

Essa foi a pedra utilizada na construção da Praça de Armas, que tem a fama de ser a mais bonita do Peru – certamente é a mais bela que eu conheci.

O sillar também é a base do Monastério de Santa Catalina, quase tão antigo como a cidade e que se converteu num dos mais importantes pontos turísticos do Centro Histórico, declarado Patrimônio Mundial da Unesco.

Embora a pedra exista em outras regiões do planeta, como em Civita di Bagnoregio, na Itália, somente em Arequipa o sillar foi usado na construção de casas, pontes, igrejas e outros prédios.

O que fazer em Arequipa, no Peru

Centro Histórico de Arequipa

E é usado até hoje, como bem sabem as cinco centenas de homens que trabalham nas 17 pedreiras de sillar ativas da região, que funcionam no esquema de cooperativas.

A técnica de trabalho passa longe de ser simples. Primeiro o cortador seleciona o bloco de pedra que será retirado. Após eliminar os resíduos superficiais, ele faz a preparação para remover o enorme bloco, serviço que leva um dia inteiro. Com a pedra no chão, é hora de cortar sillares.

Pedreiras de Arequipa, Peru

A pedra é marcada e são inseridas cunhas, ferramentas de metal que ajudam a fender o bloco. Marteladas no lugar certo e pronto: o bloco se parte. Em seguida ele é medido, deixado do tamanho correto (30 centímetros de largura e 60 de comprimento, mais ou menos), as arestas são cortadas e o sillar, é, enfim, empilhado. Está pronto pra venda. 

Segundo uma reportagem do Correo Arequipa, um trabalhador pode ganhar até 800 soles por mês (cerca de R$ 1000, na cotação atual), mas isso depende da quantidade de sillares que ele consegue cortar.

Os melhores garantem que fazem até 15 pedras por dia, mas muitos dos trabalhadores da pedreira são idosos e dificilmente conseguem cortar mais de três pedras diárias. Cada sillar é vendido por apenas cinco soles.

Em 2014, a técnica de trabalho nas pedreiras de sillar, que não mudou nos últimos 400 anos, foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Peru. Para o governo, a medida ajuda a proteger e valorizar os cortadores de sillar, que estão nessa vida há gerações.

Havia uma tradição, passada de pai para filho, nas pedreiras de Arequipa, e não é raro encontrar trabalhadores idosos que cortam pedras vulcânicas desde a infância.

“Muitos deles desejam até morrer aqui, já que a pedreira é uma parte da vida deles”, explica Beatriz Vilca, arquiteta e chefe do Projeto Ruta Turística del Sillar. Para muitos trabalhadores, essa talvez seja a última geração de suas famílias que ganharão a vida nas pedreiras.

Pedreiras em Arequipa, Peru

De pedreiras à atração turística: A Rota do Sillar

Junto com a transformação da técnica em Patrimônio Cultural Imaterial do Peru, foi criado um roteiro turístico. Várias agências de turismo de Arequipa levam turistas às pedreiras ao redor da cidade, onde é possível conhecer o trabalho, testar marteladas em blocos de pedra vulcânica e até se voluntariar por um dia.

  • Um passeio com duração de cinco horas, guias que falam espanhol, inglês e portunhol e transfer de ida e volta do seu hotel. Custa em torno de R$ 60 por pessoa. Reserve aqui.
  • Outra alternativa interessante combina a Rota do Sillar com o Cânion de Culebrillas. Esse roteiro custa R$ 200 por pessoa. Reserve aqui.
  • Por fim, também dá para combinar o roteiro pelas pedreiras com uma visita às águas termais de Yura, uma programação de seis horas e que custa R$ 250. Reserve aqui.

Além de aumentar a autoestima dos trabalhadores, que se tornaram mais falantes, a iniciativa tem retorno financeiro – já que é cobrada uma taxa de entrada nas pedreiras – e na qualidade de vida dos trabalhadores. O projeto também ajudou os cortadores a diversificar os trabalhos com as pedras, aumentando a renda.

A Ruta do Sillar fica a apenas 20 minutos do centro de Arequipa, entre os distritos de Cerro Colorado, Yura e Uchumayo.

Além de conhecer o trabalho dos cortadores, é possível visitar partes intocadas das pedreiras, onde há pinturas rupestres, e observar o trabalho dos artistas do sillar, que esculpiram uma réplica da fachada da Iglesia de la Compañía, cartão-postal de Arequipa, em meio aos cânions. 

Pedreiras de Arequipa, no Peru

Confesso que não esperava muito desse passeio, mas saí interessado na história de vida dos mestres do sillar. E mesmo que ver de perto o dia a dia numa pedreira não pareça interessante para você, ficando de fora do roteiro, pelo menos conhecer essa história já mudará a forma como você verá as construções de Arequipa, uma cidade marcada pela presença de vulcões.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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