Santuário do Caraça: hospedagem na terra do lobo guará

Já imaginou se hospedar num mosteiro de 250 anos? É isso que oferece o Santuário do Caraça, uma das 7 maravilhas da Estrada Real – o tipo de atração turística que brasileiros fazem questão de conhecer no exterior, mas que nem sabem que existe por aqui.

Além de mosteiro, o Caraça é também uma reserva ambiental. E foi, por mais de um século, um dos mais importantes colégios internos do país.

Hoje, o local foi convertido em atração turística. Recebe hóspedes no esquema de pensão completa e tem fama nacional por conta de um visitante frequente, o lobo-guará.

Onde fica o Santuário do Caraça?

Belo Horizonte tem uma quantidade enorme de atrações de primeira grandeza em seus arredores. Inhotim, Ouro Preto, Congonhas, Sabará e Serra da Piedade: todos esses locais estão a 1h30 de carro da capital mineira, no máximo.

O Santuário do Caraça também entra nessa lista. A maravilha da Estrada Real fica entre os munícios de Santa Bárbara e Catas Altas, a apenas 146 km de BH.

O percurso pode ser feito em 2h30, pelas rodovias BR-381 e MG-129. Tempo que promete ser encurtado quando as obras de duplicação da estrada (finalmente) acabarem.

Se você vai passar em Ouro Preto e Mariana na mesma viagem, outra opção é ir pela BR 356. Em apenas três horas é possível sair da capital mineira e percorrer todos esses destinos, o que torna fácil organizar o roteiro. A distância entre Ouro Preto e Caraça é de apenas 44 km. 

O Santuário do Caraça está a 167 km do Aeroporto de Confins; 465 km de Vitória; 450 km do Rio de Janeiro e 674 km de São Paulo.

Santuário do Caraça: história centenária

A palavra Caraça apareceu num mapa de 1708, época em que surgiram as primeiras vilas e Minas Gerais vivia uma imigração sem precedentes: era o começo do Ciclo do Ouro.

Segundo a explicação mais aceita, o nome vem da formação rochosa da serra, que lembra o rosto de um gigante — sim, a tal caraça seria mesmo uma cara grande. 

Se hospedar dentro daquelas paredes significa repetir o que fizeram Dom Pedro I, Dona Amélia, Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina.

O segundo imperador brasileiro passou duas noites no Caraça. Tomou banho de cachoeira, cavalgou pelos arredores e escorregou numa pedra, se estatelando de costas no chão.

Pedro II anotou num diário suas impressões de viagem:

“Estou satisfeitíssimo. Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”.

Se a lista de visitantes ilustres é longa, a de antigos moradores é imensa. E inclui dois presidentes do Brasil e vários governadores. É que em algum momento da década de 1770, a região foi comprada por Lourenço de Nossa Senhora, um religioso católico que por ali ergueu uma capelinha barroca e uma hospedagem para peregrinos.

Após a morte dele, o Santuário do Caraça foi doado à Coroa Portuguesa, que ampliou a função do espaço: além de mosteiro, passou a funcionar como escola interna, tudo sob a supervisão de missionários.

E não era qualquer escola. Rivalizando em importância com o colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, por ali passaram crianças e adolescentes que mais tarde marcariam a História nacional.

O aluno de número 149 se mudou para o internato aos doze anos. Era Afonso Pena, depois presidente da República, governador de Minas, conselheiro e senador do Império e fundador de Belo Horizonte.

Já Artur Bernardes, que depois também seria governador de Minas e presidente do Brasil, ocupou a matrícula número 1783. Dois vice-presidentes e dezessete governadores (sete de Minas e onze de outros estados) também foram alunos do Caraça, que funcionou como colégio interno por cerca de um século.

Após o fim das atividades como escola normal, em 1912, o estabelecimento continuou recebendo alunos, mas apenas como seminário. As aulas foram encerradas definitivamente em 1968, quando um fogareiro deixado aceso na sala de encadernações causou um incêndio.

O Caraça segue como uma instituição católica, da família Vicentina, e as missas diárias na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens são parte da rotina de quem se hospeda por lá. 

Hospedagem no Santuário do Caraça

Sem cortinas, sem televisão, sem decoração, mas confortáveis, os quartos lembram que essa é uma hospedagem religiosa. E isso significa acordar cedo – com a algazarra das maritacas – e jantar logo depois do anoitecer. 

A hospedagem no Caraça é no esquema pensão completa (café da manhã, almoço e jantar, sem bebidas, R$ 562 o quarto duplo; reservas aqui) e a comida é um dos pontos altos do Santuário.

O cardápio tem fartura, ingredientes e receitas mineiras, com direito a sobremesa. Embora não estejam inclusas no preço, o Santuário vende bebidas alcoólicas, como diversos rótulos de vinhos e cervejas – há até uma cerveja artesanal com a marca do próprio santuário.

Leve agasalhos, sobretudo no inverno. É que o Caraça está numa região de altitude média de 1300 metros, com alguns pontos ainda mais elevados. A temperatura gira em torno dos 15° ao longo do dia.

Por ser uma reserva natural, o Caraça não é um destino pet friendly e animais domésticos são proibidos.

O que fazer no Santuário do Caraça

O Caraça está cercado por cachoeiras e matas e tem vegetação de transição entre dois biomas: cerrado e mata atlântica.

Há ainda piscinas naturais, rios e mirantes, então basta escolher sua trilha e marcar a hora de voltar, para não perder a próxima refeição.

A reserva ambiental, que tem 11.233 hectares, pertence à Província Brasileira da Congregação da Missão, sendo Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Vale destacar também que o Caraça faz parte da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, criada pela UNESCO em 2005.

Além das trilhas e mirantes, o próprio complexo tem algumas atrações, como o Museu, que guarda tesouros do Caraça, tipo as camas em que dormiram Dom Pedro II e Dona Tereza Cristina, e até o equipamento que causou o incêndio de 1968.

No museu também é possível ver como eram os dormitórios dos alunos do Caraça e mergulhar na vida do Santuário, que foi o primeiro colégio de Minas Gerais.

Além do museu, o Santuário conta com jardins, catacumbas, uma biblioteca e a primeira igreja neogótica do Brasil, que é linda, tem vitrais franceses e um órgão português.

As missas são outro ponto concorrido, principalmente para os hóspedes mais religiosos. Elas ocorrem de segunda-feira a sábado, às 18:00h; e aos domingos; às 11h (está é aberta também para quem não é hóspede do santuário).

Mas, no fim das contas, uma das melhores atividades do Caraça é mesmo descansar. Aproveitar a tranquilidade de estar cercado por muita natureza, com comida boa e nenhuma obrigação. Dom Pedro II já deu o tom:

“Altíssimos rochedos em anfiteatro formavam o fundo do quadro. Era belíssimo, a lua e as estrelas elevavam-me os olhos a maior altura”.

Como ver o lobo guará no Santuário do Caraça

Depois do jantar, começa o programa mais concorrido do Caraça: ficar sentado e de vigília em frente à igreja.

É que quase toda noite aparecem por ali animais da reserva — a visita mais esperada, óbvio, é o lobo-guará, mas também há antas e cachorros-do-mato.

Dom Pedro também falou sobre isso:

“De dia estão nos capões. Rondam de noite uivando como cães”.

Para ver o lobo, prepare-se para a vigília. Suas chances aumentam quando a maior parte dos hóspedes já foi dormir e o local está mais vazio e silencioso.

Vale a pena conhecer o Caraça sem se hospedar lá?

É possível visitar o Caraça e fazer as trilhas mesmo sem ficar hospedado lá. Essa pode ser uma boa saída para quem já está num roteiro pela região e não tem tempo para dormir. A taxa de entrada é de R$ 20 por pessoa durante a semana e R$ 30 nos finais de semana.

Fique atento ao horário limite, que é 17h. Depois disso, só hóspedes podem permanecer no santuário e a multa para quem desobedece a regra é de R$ 150.

Há restaurantes e lanchonetes para quem não está hospedado no santuário, assim como uma loja de lembrancinhas. A refeição para não-hóspedes custa R$ 28, sem balança.

Também há opções de pousadas nas cidades ao redor, como Catas Altas, Caeté ou Santa Bárbara. Mas, por mais que essas cidades mereçam entrar no roteiro, se hospedar no Caraça é uma experiência única e que vale a pena.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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Tags: Estrada Real

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