Belém estava em festa. Enquanto políticos e sortudos em geral se preparavam para testemunhar a inauguração do Theatro da Paz, muitos dos que ficaram de fora da cerimônia lotaram a Praça Pedro II, em frente ao novo monumento da cidade, para ter alguma participação naquela data histórica.
O dia 15 de fevereiro de 1878 era há muito esperado em Belém. Embora contasse com outros teatros, entre eles o da Providência, não havia um lugar que fizesse justiça ao crescimento da cidade, que vivia o começo do Ciclo da Borracha, época de prosperidade amazônica.
O projeto do Theatro da Paz surgiu na década de 1860. A construção começou em 1869 e foi encerrada cinco anos mais tarde. Mesmo assim, o Theatro ainda demorou outros quatro anos para ser inaugurado – aquele tipo de problema que já existia na época do Império.
Quando a inauguração finalmente foi marcada, os jornais de Belém passaram a cobrir, dia a dia, os preparativos para a festa. A chegada da orquestra que abriria o Theatro, a venda dos ingressos, os últimos detalhes – esses eram os assuntos em Belém naquele distante mês de fevereiro.
Assim que os políticos chegaram, uma banda começou a tocar, o hino nacional foi ouvido e o povo saudou o Imperador Pedro II, que não esteve em Belém, mas tinha um camarote imperial esperando por ele, caso algum dia resolvesse dar as caras por lá. O Theatro, que estava com os 1100 lugares ocupados, abriu as portas com o espetáculo As Duas Orfãs, do dramaturgo francês Adolphe d’Ennery.
Assim foram os primeiros passos de uma longa história, curiosa até no nome: misto de religião e estado, o prédio foi originalmente batizado como Theatro Nossa Senhora da Paz. Essa paz era uma alusão ao fim da Guerra do Paraguai. E foi ela que permaneceu no nome, já que, pouco depois da inauguração, a Igreja Católica não gostou do uso, err, profano que também era dado ao Theatro, onde eram realizados bailes de carnaval. Assim a Nossa Senhora deixou o espaço, que ficou apenas com o da Paz.
E a roda do mundo girou. O Império caiu, Pedro II embarcou rumo ao exílio e a praça em frente ao Theatro mudou de nome: virou da República. Pior mesmo foi o fim repentino do Ciclo da Borracha. E a prosperidade de Belém, que chegou a ser uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil, uma verdadeira Paris amazônica, também teve fim repentino.
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Isso não impediu que o Theatro tivesse sua cota de grandes artistas. Carlos Gomes foi um deles, com a ópera O Guarani, mas o maior nome que passou por lá é Ana Pavlova – a bailarina russa esteve em Belém na década de 1930. E o Theatro da Paz também foi cenário para espetáculos de mágica, shows diversos, peças internacionais e até reuniões da Assembleia Estadual, em ocasiões que o prédio do poder legislativo esteve fechado.
Em outros momentos o Theatro esteve abandonado, períodos em que a decoração e partes da estrutura foram perdidas. Revitalizado, hoje é uma das maiores atrações de Belém, seja para fazer uma visita guiada ou para ver o Theatro em funcionamento mesmo.
Como é a visita ao Theatro da Paz
A história do Theatro da Paz é legal, interessante, mas tem uma coisa que não fica evidente quando falamos de tudo que rolou por lá, só mesmo com as fotos: o Theatro da Paz é muito bonito. Ponto. As cadeiras, a decoração, os painéis e bustos – tudo chama atenção.
A fachada do Theatro não é do projeto original, que foi alterado no começo do século 20. O problema é que o antigo prédio tinha sete colunas, o que não seguia as regras da arquitetura neoclássica. Para resolver a questão, a fachada original foi demolida e recuada, uma das colunas foi retirada e bustos que simbolizam as artes (Dança, Poesia, Música e Tragédia) e o brasão do Pará foram acrescentados.
Mas a beleza está mesmo é no interior do prédio, por isso reserve tempo para fazer uma visita guiada. Eu fiz num dia de semana, junto com um grupo pequeno. A visita começa no Hall de Entrada, que tem portas de ferro inglês, escadaria de mármore italiano, piso de pedras portuguesas e os bustos dos escritores José de Alencar e Gonçalves Dias.
Passamos também pelo Corredor das Frisas, onde ficava uma antiga entrada do Salão de Espetáculos, fechada para melhorar a acústica no salão. Por falar nele, a visita passa pelas cadeiras da parte inferior e pelos três níveis camarotes. É possível ver de perto o antigo Camarote do Imperador, hoje transformado em Camarote da Presidência da República e do Governador do Estado.
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Por fim, a visita passa pelo Salão Nobre, uma espécie de sala de reuniões para a nobreza de Belém, durante os primeiros anos do Theatro.
As visitas guiadas ocorrem de terça a domingo, de hora em hora (não há visitação às 13h, na hora do almoço). Começam às 9h e terminam às 17h, de terça a sexta, e ocorrem entre 9h e 12h, nos finais de semana. A entrada custa R$ 6.
Vale conferir a agenda cultural do Theatro, para tentar ver a casa em funcionamento. Você encontra a programação no site oficial.
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ja dancei ai que saudades pela companhia de dança de aveiro em 84 assinei o meu nome num livro que avia ai
Que legal, Luis. Deve ter sido incrível.
Abraço.
Poxa, queria ter tempo de visitar tudo!
Querido,
obrigado pelos textos…há muito venho falando sobre as belezas e o encantos do estado por onde passo. Ainda bem que você soube reconhecer, não desmerecendo a sua cultura, o poder e o valor que é a cultura paraense. Viajei alguns estados e moro hoje fora do Brasil, mas sempre quando falo com brilho nos olhos dos túneis de mangueiras, algumas pessoas desinformadas e preconceituosas ainda dizem que lá tem jacaré andando na rua e que só tem índio entre outras barbaridades. Hoje Belém para poucos que tem a oportunidade em ir, está se tornando uma experiência única e inexplicável. E fora do Brasil, Belém está sendo observada como referência da gastronomia amazônica, o que muitos no Brasil não terão nem a oportunidade nem a capacidade de aprecia-la, infelizmente. Mas aos poucos felizardos, agora recomendarei ler seus posts com a propriedade quem já tem alguns carimbos no passaporte e já viu muita coisa que até eu não vi!! Obrigado mais uma vez!!