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4 curiosidades sobre Ouro Preto

Ouro Preto é muito mais que um monte de igrejas e casarões seculares. A antiga capital de Minas está profundamente ligada à história do Brasil. Foi por conta das coisas que aconteceram ali, durante o Ciclo do Ouro, que a capital brasileira mudou de lugar, os índios deixaram de ser maioria no que viria a ser território brasileiro e o português se tornou a língua mais falada da colônia, substituindo o tupi.

Se você está planejando uma viagem para lá, leia o texto sobre o que fazer em Ouro Preto e também dicas de onde ficar em Ouro Preto com as melhores dicas de hospedagem. Nunca pensou em visitar esse canto especial do Brasil? Bem, é hora de tentar mudar isso. Para essa missão, que tal conhecer quatro curiosidades sobre a cidade?

Ouro Preto, MG

Ouro Preto foi a maior aglomeração da América Latina

Pelo menos é isso que garantem alguns historiadores. Numa época em que São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador eram pequenas, Ouro Preto – ainda chamada de Vila Rica – chegou a receber 40 mil pessoas. E isso, veja bem, menos de três décadas depois da fundação da cidade, o que teria tornado a região na maior aglomeração da América Latina.

Era a corrida do ouro. Embora os espanhóis já tivessem encontrado ouro em sua parte da América, durante 200 anos a mineração não fazia parte da economia do território conquistado por Portugal. A colônia portuguesa era lucrativa, mas por conta do Pau Brasil e do açúcar. Foi só com a decadência desta produção, por causa da concorrência com as colônias holandesas, que uma busca mais atenta por ouro passou a ser feita.

Os portugueses invadiram o interior, na época ainda ocupado por um número grande de povos indígenas. Lendas estimulavam a busca: a mitológica Serra do Sabarabuçu, palavra indígena que significa “serra resplandescente”, era uma delas. Quando o ouro foi encontrado, no final do século 17, o eixo do Brasil que se formava mudou

Curiosidades de Ouro Preto

Começou uma  intensa imigração portuguesa para o Brasil – os portugueses faziam as malas e arregalavam os olhos para as promessas de riquezas do Novo Mundo. A população oficial da colônia saltou de 300 mil pessoas para 3 milhões durante o Ciclo do Ouro. Cerca de 800 mil portugueses teriam deixado o Velho Continente, a ponto da Coroa fazer uma lei para tentar gerenciar o fluxo de pessoas e impedir que a situação atrapalhasse a vida no país – caso contrário Portugal ficaria às moscas e bolas de feno. E na colônia não foi diferente – milhares de pessoas saíram do nordeste, largando tudo para trás, em busca do eldorado brasileiro.

Foi a mineração que causou a criação da Capitânia de São Paulo e das Minas do Ouro, mais tarde desmembrada em diversos estados, entre eles, óbvio, São Paulo e Minas Gerais. Também foi a mineração que fez com que a capital brasileira fosse alterada: saiu Salvador, entrou o Rio de Janeiro, que ficava mais perto das minas. A mineração ainda criou uma classe consumidora no território colonial.

Durante as primeiras sete décadas do século 18, a produção de ouro do Brasil Colônia foi igual a produção do restante da América em mais de quatro séculos e representou metade de todo o ouro produzido no mundo entre os séculos 16 e 18. E Ouro Preto estava no centro de tudo isso.

Não que tenha sido fácil. Fome, mortes e violência eram parte do pacote. E escravidão.

Ouro Preto

Chico Rei, o escravo que comprou uma mina

Galanga. Esse seria o nome do rei de uma tribo do Congo. Ele foi capturado, vendido como escravo e levado para trabalhar no Novo Mundo. No meio da viagem, quase toda sua família morreu – a mulher e a filha teriam sido atiradas no mar pelos marujos, para aplacar a fúria do Oceano. Somente o filho teria sobrevivido, com o mesmo destino que o pai.

Os escravos sobreviventes foram comprados por um homem chamado Augusto, dono da Mina Encardideira, que fica no centro de Ouro Preto (muitos de seus túneis passam por baixo da cidade até hoje). Galanga, ou melhor, Chico Rei, teria trabalhado décadas nessa mina. Os escravos conseguiam contrabandear ouro de lá, ao esconder o tesouro nos cabelos. Assim Chico Rei conseguiu comprar a própria liberdade e a de outros escravos. E, por fim, ele comprou a mina, que ainda teve anos de prosperidade durante a gestão do Rei do Congo.

Essa história faz parte da tradição oral de Ouro Preto. Não se sabe quais partes são verdadeiras – ou se tudo não passa de lenda. De qualquer forma, a antiga Mina Encardideira foi redescoberta na década de 1950 e rebatizada de Mina do Chico Rei. É possível visitar uma pequena parte dela. A entrada fica na Rua Dom Silvério, pertinho da Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Conspiração e o sumiço das duas cabeças de Tiradentes

O ouro foi levado para Portugal e gerou lucro até para a Inglaterra, que teria financiado a Revolução Industrial com parte das riquezas tiradas da Colônia Portuguesa. Mesmo assim, muita coisa ficou no Brasil. E Ouro Preto queria destacar sua importância. Para fazer isso, nada melhor que construir igrejas.

Igrejas decoradas com ouro, prédios, casarões e palácios ocuparam as ruas da cidade, que em 1822, com a Independência do país, passou a ter um nome garboso: Imperial Cidade de Ouro Preto. E recebeu o título de capital de Minas Gerais (a primeira capital do estado foi a vizinha Mariana).

Ouro Preto viveu uma espécie de Renascimento tupiniquim. Artistas como Aleijadinho e Mestre Ataíde foram responsáveis por diversas igrejas e obras de arte. Com isso, Ouro Preto se tornou a cidade com maior quantidade de Arte Barroca no Brasil. E, para continuar a alusão com o Renascimento, Mestre Ataíde pintou o teto da Igreja de São Francisco, a nossa Capela Sistina.

Igreja de São Francisco, Ouro Preto

Além da Arte, as riquezas estimularam o intelecto. Pequenos brasileiros-portugueses foram enviados de volta ao Velho Continente, onde estudaram e se formaram. Ao regressarem ao Brasil, eles trouxeram não apenas conhecimento, mas ideias revolucionárias que mexiam com a Europa – era o espírito do tempo abrindo caminho para movimentos como a Revolução Francesa. Foi assim que começou a Inconfidência Mineira, conspiração de intelectuais e com claras influências maçônicas.

O resto da história você conhece: um membro assumiu o papel do Judas, traiu o movimento por dinheiro e dedou os colegas, que foram presos. A turma foi condenada à morte, mas quem perdeu a cabeça mesmo foi só Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que acabou virando Bode Expiatório para os colegas (o poeta Cláudio Manuel, também conspirador, teria se suicidado na cadeia, mas nem a Igreja acreditou na desculpa do governo e deu a ele o direito de uma missa, negado a quem tira a própria vida).

Depois de ser morto e esquartejado no Rio de Janeiro, pedaços do corpo de Tiradentes foram expostos ao longo do caminho entre o Rio e Ouro Preto, na época ainda chamada de Vila Rica. A cabeça de Tiradentes foi exposta numa gaiola no centro da Praça principal da cidade, onde deveria ficar até o fim dos tempos. Ou até que o tempo a consumisse, o que provavelmente viria primeiro. Mas caiu a noite, os políticos foram comemorar a vitória contra o movimento e a cabeça sumiu.

Sumiu sem deixar pistas, a ponto de até hoje ser um mistério na cidade. Tem quem jure que o crânio foi enterrado com todo o ouro dos inconfidentes, há quem tenha iniciado a busca pela cabeça e até quem garanta que um dia ela vai ser encontrada. Viva ou morta.

Curiosidades de Ouro Preto

Mas divertida mesmo é outra história: a cabeça foi roubada novamente, 200 anos mais tarde. Não a mesma cabeça, óbvio, mas uma réplica criada para comemorar os bicentenário da morte de Tiradentes, em 1992. Pausa para uma observação: só eu que achei essa, err, homenagem, de completo mau gosto?

Mas, enfim, a réplica da cabeça foi colocada na Praça, os políticos celebraram o agora mártir do Brasil, o povo festejou, a impressa tirou fotos. E caiu a noite. Dois amigos, bêbados e voltando de um dos muitos bares da cidade, se depararam com a cabeça na gaiola e pensaram o óbvio: para a homenagem ficar completa aquela cabeça teria que sumir.

Eles roubaram o crânio, que foi enterrado na casa de um deles. Mas, como acontece em toda conspiração, alguém resolveu dedurar o ato e os caras quase foram em cana, mesmo que muita gente tenha ido à delegacia para dizer que aquele era obviamente o único fim possível para a festa. E assim a cabeça de Tiradentes foi roubada duas vezes num espaço de 200 anos. História real, como você pode ver aqui e aqui.

O que fazer em Ouro Preto

Aleijadinho existiu?

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi a estrela maior da Arte Colonial Brasileira. Ele seria o autor de obras não apenas em Ouro Preto, mas também em Sabará, São João del-Rei e Congonhas, outras cidades históricas mineiras. E se os trabalhos dele são incríveis, a história do artista é mais ainda. Filho de um arquiteto português com uma escrava, ele mostrou talento cedo.

Aos 40 anos, no entanto, ele passou a conviver com uma doença misteriosa. Antônio perdeu os dedos das mãos – teriam sobrado só o indicador e o polegar – e todos os dedos dos pés. Foi assim que o artista ganhou seu apelido. Para conviver com a doença e continuar trabalhando, ele andava de joelhos e amarrava instrumentos de trabalho nos braços. No fim da vida, precisava ser carregado. Mesmo assim, ele continuou a produzir, na maior prova de que o brasileiro, mesmo quando enfrenta grandes dificuldades, dá um jeito de seguir adiante e colocar sua criatividade para trabalhar. Um baita herói nacional. Parece até que nasceu para isso, certo?

Aleijadinho

Sim, parece mesmo. Tanto que tem gente que duvida que o Aleijadinho tenha existido. Veja bem, ninguém questiona a existência e os trabalhos de Antônio Francisco Lisboa, mas há quem defenda que a figura do Aleijadinho, esse gênio capaz de fazer esculturas e obras de arte mesmo sem os dedos, foi criada décadas mais tarde, justamente para preencher o papel de herói nacional. Vários dos trabalhos atribuídos a ele seriam, na realidade, de outros artistas.

A tese é defendida pela  Guiomar de Grammont, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto, que garante: “ele precisaria ter vivido três vezes para conseguir realizar tudo que leva seu nome”. Você pode ler todos os argumentos dela aqui e aqui.

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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13 comentários sobre o texto “4 curiosidades sobre Ouro Preto

  1. Quantas curiosidades num só artigo, mas o que intriga é a quantidade de ouro que foi “exportado” para Portugal e que aparentemente não teve melhorias para o povo português.
    Quem sabe se ficasse aqui seria a mesma coisa.
    Abraço.

    1. a verdade é que o ouro nao foi para Portugal foi para pagar as dividas que Portugal tinha com Inglaterra. Todo o ouro da monarquia Inglesa saiu do Brasil, de Ouro Preto.

  2. esstive em op no ultimo feriado e vendo td aquilo q levava o nome de aleijadinho.. Pensei mas qnts anos esse cara teve?
    Perguntei isso a um dos guias e ele me disse q o aleijadinho orquestrava, mas qm de fato fazia… Eram seu alunos

    1. Pois é, também tem muita gente que discorda dessa teoria de que ele não existiu, Juliana.

      O importante é que as obras estão lá.

      Abraço.

    1. Eu achei dados variados, Marcio. Fica complicado saber em qual acreditar. Mas muitos falam que a cidade era mesmo a maior da América durante a corrida do ouro.

      Abraço.

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