Ásia: o planeta dos macacos

Depois que eu pisei na Ásia, fiquei tentando entender por que é o Brasil o país com a fama de ter macacos circulando pelas ruas, atacando turistas e roubando pertences. Sério mesmo gente, quem se lembra daqueles macaquinhos do filme Rio? Pois é, o lugar no mundo onde eu me encontrei com eles não foi na Cidade Maravilhosa, mas em cidades asiáticas.

Minha relação com bichos sempre foi meio tensa, como já contei aqui, porque eu tenho um medo meio irracional deles. Mas no caso dos macacos eu estava certa. Índia, Malásia e Indonésia me deixaram mais perto desses animais do que eu gostaria. O problema é que eles não são só bichinhos bonitinhos e espertos. Eles são bichinhos que perderam seu espaço natural e, graças a isso, tiveram que se adaptar à nova realidade: ou seja turista = fonte de comida.

Os macacos na Ásia, assim como os quatis em Foz do Iguaçu, não demoraram para entender que aqueles turistas que volta e meia jogavam um lanchinho para eles tinham mais comida dentro da bolsa. Com isso, eles desenvolveram estratégias para conseguir sempre mais. Ou seja, leve a sério as placas: NÃO ALIMENTE OS ANIMAIS.

Macacos (não) me mordam!

A primeira tática é o ataque. O macaquinho rosna, mostra os dentes, faz cara de mal e às vezes parte para cima. Eles podem fazer isso em grupo ou sozinhos, mas você sinceramente não vai querer um macaco ou vários correndo para cima de você com tudo. Isso aconteceu comigo em Langkawi. Eles viram minha inocente garrafa d’água na mão e vieram para cima de mim. Eu preferi lutar pela minha vida do que pela água doce e joguei a garrafa para longe, não sem também gritar, pular e perder toda a minha dignidade.

Tem duas soluções para isso. A primeira, claro, é não carregar nenhum alimento com você, seja um biscoitinho dentro da bolsa ou uma garrafa d’água. Isso vai atraí-los  e, com toda certeza, aumentar em 90% a chance dos bichos partirem para cima.

Mas eu sei que tem horas que não dá para evitar estar com comida. Aí o jeito é ter algumas pedrinhas para jogar na direção do bicho e afastá-lo, ou um estilingue para só ameaçar – inclusive criou-se um comércio de proteção contra macacos, só com isso. Alguns meninos ficam com estilingue a postos pra afastar os bichos em troca de algum dinheiro. Eu, sinceramente, não tenho vocação para enfrentar macacos e nem jogar pedra neles, então o jeito é tentar passar longe.

(Não) Vá pentear macaco!

Outra tática, bem mais elaborada e assustadora, é a cleptomania desenvolvida pelos primatas asiáticos. Os macacos se aproximam como quem não quer nada. Eles não estão com ar ameaçador, só parecem curiosos. Pode até ser uma mãe com um filhotinho, que para na sua frente e se deixa observar. Aí você fala alguma coisa mais ou menos assim: “que macaquinho mais fofinho, guti, gutiaaaaaaahhhhhhhhhhhh”.

Sim, esse será você depois que um macaco pular na sua cabeça e arrancar seus óculos escuros. Ou tomar a câmera da sua mão. Sabe por que eles fazem isso? Não, não é porque eles gostam de objetos caros para revender no mercado negro. É porque eles aprenderam que esses bobos desses humanos dão comida em troca dos objetos de volta. Na verdade, quem deve ter ensinado para eles foram os próprios humanos, que vendem a banana para o turista, no caso você, negociar com os macacos.

Ache os óculos perdidos

Qual a solução para isso? Sempre que estiver num local com alta população de macacos, não deixe nenhum objeto dando sopa. Guarde os óculos dentro da bolsa, mantenha a câmera com a cordinha amarrada ou bem segura na mão ou no pescoço. Aliás, na Indonésia, fique atento aos seus pertences até na praia, porque os macacos costumam dar uma passeada por lá para pegar os trouxas.

Cada macaco no seu galho

É sim possível conviver com os macacos asiáticos sem atacá-los ou ser atacado. Mas é preciso ter a consciência de que eles querem comida e farão qualquer coisa para consegui-la. Então a questão é ficar atento, não deixar nada dando sopa e preferir se locomover dentro de um grupo, que tem mais chances de assustá-los. Se estiver com muito medo, carregue consigo algum galho de árvore, que funciona como varinha para assustá-los, mas sem precisar de fato atacá-los.

Ah, e por último, um caso. Uma vez, na Índia, estávamos num restaurante num terraço. Os donos e garçons ficavam sempre atentos para espantar os macacos que se aproximavam. De repente, ouvimos gritos no prédio ao lado. Uma moça, enrolada na toalha, gritava assustada para o macaco enorme que entrava pela janela.

Ele, sem se abalar com os gritos, pegou sorrateiramente uma fruta que estava dentro do quarto e depois saiu, deixando uma turista apavorada e com uma lição bem aprendida. Uma vez na Ásia, jamais deixe janelas abertas. Eu disse jamais.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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