Todo mundo deveria viajar sozinho pelo menos uma vez na vida. Nem precisa ser para longe: passar um dia na cidade vizinha já conta. Se você puder cruzar as fronteiras nacionais, melhor ainda. Descobrir uma nova cultura enquanto lida com o fato de não ter nenhum rosto familiar por perto é uma experiência transformadora, mas muita gente tem medo de encarar a solidão. Eu confesso, eu já tive esse medo, mas enfrentei e não me arrependi. E descobri que existem boas razões para isso.
Você vai conhecer gente. Ou não.
Quando você viaja sozinho, você conhece mais gente. Pelo menos é isso o que dizem muitos dos adeptos desse estilo de viagem. Essa afirmação sempre me incomodou. Eu não sou a pessoa mais expansiva do mundo. Não chego a ser um bicho do mato que foge de gente (bom, não sempre…), mas definitivamente não sou aquela pessoa que conhece todo mundo do hostel já na primeira noite (ou na segunda, na terceira…). Não, eu não vou travar se um desconhecido vier falar comigo, mas nunca vou ser a primeira a puxar papo, só porque não me sinto à vontade em fazê-lo. E pode parar de me olhar com esse olhar de pena. Acredite, existe felicidade na introversão.
Antes de eu me aventurar sozinha mundo afora, eu me preocupava se minha personalidade iria tornar a experiência um fracasso. Eu achava que embarcar em um avião sem companhia só valia a pena pra essas pessoas que fazem amigos com a mesma facilidade com que eu faço as malas. Na semana que eu passei em Lisboa, eu não conheci ninguém. Foram sete dias de andanças solitárias, de descobertas silenciosas e de cervejas na companhia de um livro. Claro que eu troquei palavras com algumas pessoas, mas foram conversas casuais, dessas que a gente tem no ponto de ônibus até que seja sua hora de embarcar. Se eu odiei? De jeito nenhum. Acho que essa parte da viagem foi tão incrível quanto a França, onde eu quase sempre conhecia alguém para me acompanhar nas explorações diárias.
Com o pessoal que eu conheci em Biarritz
Estar em sua própria companhia por mais tempo que o normal pode dar medo, mas também é libertador. A gente não deve ter medo de ficar a sós com nossos próprios pensamentos. É claro que você vai sentir falta de ter alguém para olhar suas coisas, comentar sobre o que você viu ou tirar fotos suas em frente aos monumentos. Selfies não ficam tão boas e é meio chato ter que pedir para estranhos fazerem isso o tempo todo. Sem falar que você nunca sabe se a pessoa vai ter o mesmo perfeccionismo com o enquadramento que você – pedir pra quem tem uma DSLR pendurada no pescoço nem sempre garante boas fotos. Mas você vai ter a oportunidade de descobrir mais sobre quem você é quando está sozinho e vai ter tempo o bastante para pensar um monte sobre a vida.
Selfie em Lyon
Então, sim, ao viajar sozinho você pode conhecer um monte de pessoas diferentes e fazer amigos para a vida inteira. Mas você não precisa fazer isso para se divertir. Sem pressão, ok? Vai ser incrível de qualquer jeito.
A única vontade que importa é a sua
Só eu, o Mediterrâneo e um livro
Fazer tudo de acordo com suas próprias vontade, sem ter que negociar com ninguém é uma vantagem tão egoísta quanto maravilhosa na hora de viajar sozinho. Se você está acostumado a viajar com amigos, sabe bem do que eu estou falando. Chegar e sair quando der na telha, ignorar aquele ponto turístico famoso ou passar quatro horas olhando para o seu quadro favorito. É você quem manda!
Você fica mais disposto a dizer sim para o novo
Quando estamos sozinhos somos mais flexíveis. Pelo menos comigo é assim, em parte pelo motivo acima. Se não temos que negociar ou decidir em conjunto com alguém, é mais fácil dizer sim para oportunidades que surgem no caminho e ignorar planos e roteiros prévios. Mas não é só isso. Parece que é mais fácil ser alguém diferente do que a gente costuma ser quando ninguém que te conhece está vendo e não é preciso representar nossa máscara social. Não estou chamando ninguém de falso, mas a gente representa papéis o tempo inteiro: no trabalho, na faculdade, entre nossos amigos. Essa é uma oportunidade para ser você mesmo, mas um você mesmo diferente. Explorar lugares pouco conhecidos da nossa própria personalidade. Tentar coisas que você não tentaria normalmente, só para confirmar que não gosta ou se surpreender. Muitas memórias boas podem surgir dessas experiências.
Você vai lidar com seus medos e limitações
Quando você enfrentar um perrengue, vai desejar com todas as forças ter um amigo por perto, mas resolvê-lo sozinho vai ser especialmente gratificante. E você vai perceber que pode muito mais do que pensava.
Se a ideia de entrar em um avião sem companhia já te dá um frio na barriga, então talvez esse seja o principal motivo pelo qual você deveria fazê-lo. Enfrentar seus próprios medos é uma ótima forma de crescimento pessoal e empoderamento. Às vezes a gente tem medo de coisas bestas e duvida da nossa capacidade de lidar com elas. Ter medo é normal, mas a gente não pode deixar que ele controle nossos atos e decisões. Descobrir que somos capazes faz um bem danado pra nossa autoestima.
Você vai ter tempo para repensar…
… o que quer que precise ser repensado na sua vida. Seu trabalho, escolhas passadas, relacionamentos, rotina, a forma como você encara os problemas que você deixou em casa. Você escolhe. É difícil encarar as coisas de forma diferente quando a gente continua fazendo tudo do mesmo jeito. Novos ares podem te ajudar a arejar as ideias e fica ainda mais fácil quando você faz isso sozinho, porque você vai ter realmente tempo para dar aos seus pensamentos a devida atenção. Leve a vozinha da sua cabeça para assistir a um pôr do sol e se surpreenda com o tanto que ela tinha pra te falar.
Leia também: Mulheres devem viajar sozinhas pelo mundo?
Naty,
Muito legal esse texto. Já viajei sozinha várias vezes, e o ruim é mesmo só fazer selfie, o que limita as fotos, e não ter com quem dividir no restaurante um prato estranho e caro, com medo de não conseguir comer??
hahah isso acontece muito! Esse ano fui a Chiloé, no Chile, e tinha que provar o Curanto, prato típico de lá, mas não existem porções individuais. Resultado: larguei quase tudo na mesa, mesmo depois de me empanturrar de comida!
Abraços 🙂
Excelente post.Tenho feito algumas viagens sozinhas e sinceramente não me arrependo é claro que às vezes a solidão baixa,acontece pequenos incidentes mas todos passíveis de solução.Comecei minhas experiências por Portugal e Espanha, depois Panamá, Porto Rico,cruzeiro pelo Caribe sul,hoje estou em Cartagena vindo de Bogotá e sinceramente tenho tido experiências maravilhosas,conhecido outras pessoas, faça o roteiro no meu tempo(afinal a idade pesa,5.7 rsrs),e pretendo continuar até onde Deus me permitir.Um grande abraço.
Nark, essa é a melhor forma de viajar. No nosso tempo, conhecendo gente! Que bom que você está aproveitando muito.
Abraços
Sensacional! É exatamente isso tudo! Há três anos fiquei um mês viajando sozinha pela Europa e foi a melhor experiência da minha vida! Voltei transformada em todos os sentidos.
Confesso que na época reservei todos os hostels com a possibilidade de cancelamento e reembolso, e comprei a passagem dois meses antes da data prevista! Realmente estava com muito medo. Mas deu tudo absolutamente certo, e recomendo a experiência pra qualquer pessoa!:D
Christine, que dá medo, dá, mas a gente tem que ir com medo mesmo. Que bom que deu tudo certo!
Abraços