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O problema dos sanduíches vegetarianos

“Se Deus quisesse que o homem fosse vegetariano, as vacas não seriam de carne”. Essa frase, do Homer Simpson, já foi um de meus lemas de vida.

Eu adorava churrascos. Picanha, alcatra, asinhas e coração de frango, enfim, adorava tudo isso. Era fanático por hambúrgueres – quanto mais ogro, melhor. Tem três hambúrgueres, frango desfiado, bacon e muito queijo? Esse era o meu tipo de sanduíche favorito.

Não, caro leitor, esse não é o texto de alguém que virou vegetariano e agora está tentando te convencer que vale a pena se converter ao brócolis, ao pão com aveia e linhaça e ao tofu. Eu até tentei virar vegetariano, veja bem. Mas foco no tentei: eu não consegui. Ainda como carne, embora hoje coma bem menos que antigamente. Muitas vezes passo semanas sem nenhuma carne. E não sinto falta.

Em outras ocasiões, evito carne vermelha, mas como peixes, pelo menos quando estou na praia. E quando vou comer na casa de alguém, não recuso um prato com bife – sabe como é, ainda encaro o não como desfeita. Mas raramente a carne faz parte do meu prato diário, aqui em casa.

Por que fiz essa tentativa? Porque, óbvio, em algum momento eu não me senti confortável em saber que animais morriam para me alimentar. Mas, mais importante que isso, porque eu percebi que carne não fazia falta na minha vida. Nenhuma.

Mulher em Udaipur, Índia

Essa descoberta começou no período em que morei na Índia, onde a alimentação carnívora não é onipresente, mas foi ampliada quando voltei ao Brasil. Foi nessa época que notei que muitos de nossos pratos têm carne, mas sem qualquer necessidade disso. Vá num restaurante self-service e tente não comer carne. Você vai se surpreender com a quantidade de pratos com presunto – os cozinheiros colocam carne até em legumes, verduras e em quase todas as massas. Vai ver eles pensam que é sal.

Pensando em diminuir meu próprio consumo de carne, tentei cortar esse item do meio dia a dia. Para minha surpresa, não senti falta. Também não senti falta da carne dos churrascos e nem da carne nos hambúrgueres. Passo tranquilamente sem. Embora seja um pouco complicado conviver com a pressão social pelo consumo de carne (e com a onipresença dela nos restaurantes self-service), isso também não foi o problema.

O problema é que restaurantes, lanchonetes e semelhantes confundem vegetarianos (ou aqueles que tentam comer menos carne, como eu) com outra coisa. Confundem quem não quer carne com quem faz questão de ter uma dieta natureba.

Os sanduíches vegetarianos

Entro numa hamburgueria. Tem hambúrguer de picanha, bacon, salada e litros de queijo cheddar. Tem outro que faz a combinação entre filé mignon e gorgonzola. Eu não quero comer carne. Mas o que eu não dou conta de viver sem, de jeito nenhum, é queijo.

hamburguer vegetariano

É aí que mora o problema: em muitas hamburguerias até há o sanduíche vegetariano. Só que o cheddar é substituído por ricota. A gorgonzola é substituída pelo queijo cotagge. Juro que já vi até substituírem cebola caramelizada por cenoura e beterraba. Daqui a pouco quem pede hambúrguer vegetariano vai ter a porção de batata substituída por tofu e a coca obrigatoriamente trocada por suco de couve.

Eu não faço a menor questão de comer de forma saudável quando vou numa hamburgueria. Que fique claro: se quero parar de comer carne, faço isso pela vida dos bichos, não pela minha. Eu não ligo de comer bife de soja, já até gosto, mas faço questão que ele esteja imerso em cheddar. Não vou sentir falta do frango desfiado, mas por que diabos eu abriria mão da gorgonzola?

Embora existam lugares que permitem que você troque seu hambúrguer de carne por um de soja, mantendo os outros ingredientes, em outros isso não é possível. Ou você pede o sanduíche de cenoura e beterraba, ou então vai ter que comer a picanha. E fim de papo.

sanduíche vegetariano

Já até encontrei alguns restaurantes, hamburguerias e pizzarias com uma grande variedade de opções vegetarianas boas mesmo. Quando encontro um lugar assim, viro cliente assíduo. Mas muitas vezes rola outra coisa.

– Qual o hambúrguer da casa?

– Aquele ali, responde o garçom, apontando para um sanduíche enorme e que parece uma ilha cercada por queijo derretido.

– Legal. E qual hambúrguer você tem sem carne?

– Tem o de chuchu e beterraba. Serve uma pessoa, desde que você não coma muito.

– Não tem nenhum sem carne, mas com queijo?

– Não, rapaz. Queijo é só para os hambúrgueres com carne. O vegetariano não tem queijo né..

– Eu não sou vegetariano, só não quero carne. E quem não come queijo é vegano, mas deixa pra lá. Me diz aí: não tem nada mais que você possa colocar nesse sanduíche? Azeitona? Milho? Ervilha? Cebola? Picles? Pelo amor de deus, um picles só. Rola?

–  Normalmente isso tudo vai no sanduíche de picanha, bacon e frango desfiado, o Super-X-Tudão, mas vou ver o que eu posso fazer para você, beleza? Mas ó: isso vai custar mais caro, viu?

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Comeu um bom hambúrguer sem carne por aí? Eu tenho uma lista, com  (poucos) lugares que vendem o que eu quero comer, mas aceito mais sugestões. Deixe a sua nos comentários. 🙂

(Fotos: Pixabay, Creative Commons)

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Rafael Sette Câmara

Sou de Belo Horizonte e cursei Comunicação Social na UFMG. Jornalista, trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, como TV Globo e Editora Abril. Sou cofundador do site 360meridianos e aqui escrevo sobre viagem e turismo desde 2011. Pelo 360, organizei o projeto Origens BR, uma expedição por sítios arqueológicos brasileiros e que virou uma série de reportagens, vídeos no YouTube e também no Travel Box Brazil, canal de TV por assinatura. Dentro do projeto Grandes Viajantes, editei obras raras de literatura de viagem, incluindo livros de Machado de Assis, Mário de Andrade e Júlia Lopes de Almeida. Na literatura, você me encontra nas coletâneas "Micros, Uai" e "Micros-Beagá", da Editora Pangeia; "Crônicas da Quarentena", do Clube de Autores; e "Encontros", livro de crônicas do 360meridianos. Em 2023, publiquei meu primeiro romance, a obra "Dos que vão morrer, aos mortos", da Editora Urutau. Além do 360, também sou cofundador do Onde Comer e Beber, focado em gastronomia, e do Movimento BH a Pé, projeto cultural que organiza caminhadas literárias e lúdicas por Belo Horizonte.

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36 comentários sobre o texto “O problema dos sanduíches vegetarianos

  1. Para resolver esse problema, o Hareburguer normalmente me mata a vontade mas sensacional mesmo é o hamburguer vegetariano (tem opção vegana também) do 381 Burguer em Niterói/RJ. É O ÚNICO CROCANTE QUE JÁ COMI, é bem grande e é uma delícia!

    1. Acho que você levou a sério demais esse texto, Paula. Em nenhum momento eu estou falando o que os outros devem fazer ou comer. Esse texto é todo baseado no meu relato. No que eu gosto e eu quero. Só isso. Isso é um blog, afinal de contas. Totalmente pessoal, sem querer impor nada. 🙂

      Você tem toda liberdade pra discordar e gostar de outras coisas. Como você mesma disse, tem hamburguerias de todos os tipos. E ainda bem. 🙂

      Abraço e obrigado pelo comentário.

  2. Os americanos são especialistas em fazer hambúrguer vegetariano/vegano gorrrrrrrrrrdo.
    Usam e abusam dos cogumelos salteados, queijos, molhos! Uma pornografia só rsrs.
    Qualquer lugar (de uma grande cidade) que vc entre por lá, terá ao menos uma ou duas opções vegetarianas e até veganas. QUALQUER LUGAR. Não precisa ser gourmetizado, hipster ou algo do gênero. (como parece acontecer no Brasil).

    Aqui no Brasil – especificamente no interior do Paraná, o que sinto dificuldade como vegetariana são os preços.
    Você acha um cachorro quente no podrão, extra recheado com 5 tipos de bichos diferentes e que alimenta até duas pessoas por 15 reais.
    O hamburguer vegetariano? Parece saído do menu kids de alguma rede de lanchonetes, e custa no mínimo 20.

    Que saco isso de vegetariano ter que pagar mais caro por tudo. Sei que tem a questão mercadológica, mas eu comeria mais lanche vegetariano fora de casa se ele custasse 12 reais ao invés de 20.
    Gasto somente 20 reais por mês para comer um lanche, ao invés de 36 reais por 3 por exemplo.

    Outra coisa que me desestimula a comer essas coisas fora foi começar a fabricá-los em casa.
    Mas isso é outra história, de outros capítulos rsrs

    1. Você me convenceu a só comer hambúrguer nos Estados Unidos, Mah. 😉

      E essa questão do preço é mesmo chata. O sanduíche vegetariano costuma ser mais caro. E menor.

      Abraço.

      1. Prepare-se.
        Você vai se odiar de tanto comer lanches vegetarianos maravilhosos!
        Não vou nem dar dicas porque em NYC é desnecessário. Entre em qualquer lugar que tenha comida/lanche e lá terá opção.

        Sério!
        Sabe aquele ponto da comilança que você passa a se questionar e se odiar? “Pra que comer tanto/ Nunca mais vou comer assim”.

        Sim, meu turismo é gastronômico rsrs
        Viajo pra comer, o resto vem depois 😛

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