A Hungria resolveu colocar um muro em suas fronteiras. A princípio, é apenas um ensaio, mas, se tudo correr conforme o governo quer, em breve todos os quilômetros que separam o país da Sérvia serão concretados. O motivo? Os imigrantes ilegais que surgem dali. A Bulgária vai pelo mesmo caminho, mas por lá o objetivo é tornar a Turquia mais distante. Nos Estados Unidos, o pré-candidato republicano à presidência, Donald Trump, já fala em ampliar o muro na fronteira com o México. Mais de 20 anos depois que o maior símbolo físico de divisão mundial, o Muro de Berlim, foi derrubado, muitos outros muros ainda traçam uma linha entre povos.
Eu gosto de acreditar que vivemos tempos em que as fronteiras – simbólicas e reais – se tornam cada vez menos espessas. Que há uma tendência na valorização da troca. Por isso, me choca um pouco saber que ainda existem muros de concreto dividindo gente. Que é preciso colocar uma divisória pra marcar o nosso lugar e o deles.
Esses muros não são apenas físicos. São ideológicos, políticos, marcas da opressão de um povo sobre o outro. E, ao que parece, essas barreiras mentais que construímos em torno de nós mesmos e de nossas culturas ainda estão muito vivas. Mas o que eu nunca vi, até hoje, foi um muro solucionar um conflito.
Estados Unidos x México
Foto: Domínio Público
Entre as cidades de Tijuana, no México, e de San Diego, nos Estados Unidos, é uma cerca no setor da Patrulha Fronteiriça. Um segundo muro que vai chegar até o Oceano Pacífico está em construção. A obra começou em 1994 e hoje inclui três barreiras de proteção, iluminação de alta intensidade, detectores de movimento, sensores eletrônicos e equipes munidas de equipamentos de visão noturna. Os ativistas de direitos humanos o batizaram de “Muro da Vergonha”.
Israel x Cisjordânia
Foto: CC BY 2.0 – Nilfanion
Desde 2002, grande parte do território israelense da Cisjordânia foi cercado por imensos muros de concreto e cercas. Israel alega que a medida é necessária para proteger-se de ataques de extremistas que vivem do outro lado. No entanto, a barreira avança sobre o território palestino, divide terras que antes pertenciam a agricultores locais e limita o poder de autodeterminação do povo palestino.
Opositores ao muro ainda afirmam que essa é uma maneira de Israel estabelecer as fronteiras unilateralmente e retardar as negociações de paz. Quando concluído, o muro deverá ter cerca de 700 km de extensão.
Espanha: Ceuta e Melila
Foto: Wikimedia Commons
Ceuta e Melilla são duas cidades espanholas localizadas no continente africano, em região fronteiriça com o Marrocos. Até os anos 1990, a circulação de pessoas entre os dois lados da divisa era algo natural e cotidiano, mas com o fortalecimento da União Europeia e o acordo da livre circulação de pessoas, a Espanha foi pressionada a adotar medidas de controle mais rígidas por ali, para barrar a imigração ilegal. O país construiu cercas em torno desses territórios, o que desagradou os vizinhos, que não reconhecem a soberania espanhola na região.
Muro do Chipre
Foto: Domínio Público
A Ilha de Chipre é dividida entre gregos e turcos. E essa divisão nasceu sangrenta, depois de anos de conflitos e embates envolvendo os dois lados. Em 1974, um muro foi construído para marcar que parte do território pertencia a quem. Batizado de Linha Verde, o muro passa bem no meio da capital Nicósia. Desde 2003, os ânimos estão mais tranquilos e a Turquia permite passagens diárias de um lado para o outro.
Muro de Evros
Foto: Partially Free
Outra fronteira controversa entre a Grécia e a Turquia é a que margeia o rio Evros. Como o lugar é uma porta de entrada facilitada para imigrantes ilegais, a União Europeia pressionou a Grécia a construir uma cerca que impedisse a passagem de gente pela região. Mesmo com a crise comendo solta por lá, o país investiu 3.2 milhões de euros para erguer um muro de 10 km de extensão.
Sahara Ocidental
Foto: CC BY-SA 2.0 Dzlinker
Esse muro não é feito de concreto, mas de areia. Ele foi construído para dividir o território do Sahara Ocidental que é controlado pelo Marrocos daquele que está sob domínio da Frente Polisário, uma frente de libertação nacional que luta pela independência da região.
Com 2700 km de extensão, esse é um dos maiores muros do tipo do mundo. E o lugar ainda está cercado de minas e bunkers. O Saara Ocidental era, até 1991, uma colônia espanhola situada entre o Marrocos e a Mauritânia. Hoje, os sarauís lutam pelo seu direito de autodeterminação e autonomia, já que a maior parte de seu território passou para domínio marroquino.
Coreia do Norte x Coreia do Sul
Foto: CC BY 2.5 – Mattflaschen
O Muro das Coreias não é de concreto, mas certamente é um muro ideológico. A camada “Zona desmilitarizada das Coreias” é uma zona neutra entre os dois países onde cidadãos de ambos os lados podem transitar sem, no entanto, nunca cruzar a linha contrária.
Como a guerra entre os países acabou de forma brusca e um acordo de paz jamais foi assinado, as relações ainda se dão em clima de conflito e a zona desmilitarizada é, na verdade, uma das regiões com maior concentração de armamentos do planeta.
Caxemira
Com a justificativa de impedir que terroristas atravessem a linha de cessar fogo, a Índia construiu cerca de 500 km de cercas de arames farpados na região da Caxemira, fronteira com o Paquistão. A cerca, no entanto, é vista como um atraso no processo de paz entre os países, já que não há consenso sobre o traçado da linha divisória.
Bagdá
Foto: Kai Weidenhöfer
Esse muro foi construído pelo exército americano durante a ocupação do Iraque para separar os bairro xiitas dos sunitas.
Belfast – Linhas da Paz
Foto: Nick (CC)
Cerca de uma centena de muros, conhecidos como “Linhas da Paz”, cortam a cidade de Belfast, na tentativa de refrear o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. São paredões de concreto e aço, arrematado com arame farpado com mais de sete metros de altura. O objetivo não é apenas impedir que moradores de um lado passem para o outro, mas também evitar que joguem pedras e bombas caseiras.
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Bom dia, Natália! Você está sempre atenta as diversidades deste mundo. Parabéns!
Os muros existem para perpetuar o medo. As muralhas da China foram construídas para proteger os chineses dos inimigos externos. Porém, as guerras não foram evitadas.Mas, morreram mais pessoas na construção da muralha que nos conflitos. Os dados informam que milhares de pessoas foram emparedadas na construção da muralha ou morreram em acidentes de trabalho. Adoro a música do Gilberto Gil, Extra. Eu também quero acreditar que todos os muros das “prisões” serão rachados. assim todos poderemos ser cidadãos do mundo.
Obrigada pelo comentário, Vasti!
Adorei o post, nem imagina que esse tipo de muro ainda existe!
Realmente é chocante, Kelly!
Oi, Natália! Que post interessante!!!
Essa questão de segregação como forma de defesa é extremamente complexa, esbarra diretamente na intolerância das pessoas em lidar com o diferente e, mais ainda, na dificuldade que é tentar resolver as diferenças de forma pacífica…
Tem dois filmes que abordam de forma interessantíssima esse tema, um é o mexicano Zona do Crime, que mostra um condomínio de pessoas de classe alta, rodeado por uma comunidade pobre e o que os separa é justamente uma grande cerca eletrificada. O outro filme é o israelense O Limoeiro, esse de cortar o coração, mas excelente! Vale a pena assistir os dois!
Obrigada por mais um ótimo post de reflexão!
Eu acho que os muros só pioram os conflitos, pois ajudam a solidificar a mágoa, o rancor. São soluções agressivas. Obrigada pelas dicas dos filmes, estão anotadas!