Chicago à noite: passeios, bares e locais históricos para conhecer

Por

Chicago à noite tem cheiro de chuva, fumaça e história mal resolvida. E quando o relógio passa da meia-noite, ela mostra o seu lado mais fascinante: o submundo que um dia pertenceu à máfia de Al Capone, aos bares ilegais e aos fantasmas que ainda caminham pelos becos.

Veja agora um roteiro em tom de filme noir pela noite e pelo submundo da cidade.

Passeios guiados e roteiros por Chicago à noite

Tours temáticos:

Chicago à noite: roteiro e dicas para curtir o submundo da cidade

Green Mill: o bar histórico de Chicago onde Al Capone bebia e ouvia jazz

No bairro de Uptown, o Green Mill Cocktail Lounge ainda mantém o letreiro verde aceso, o mesmo que guiava Al Capone em suas noitadas regadas a uísque proibido. Do lado de fora, ele parece apenas mais um bar antigo com fachada art déco e uma fila discreta na calçada.

Durante a Lei Seca, o Green Mill foi o refúgio de músicos, gangsters e poetas malditos. Um dos donos era amigo do gangster mais famoso da cidade e, dizem, ele se sentava sempre na mesa do canto direto, de onde podia ver tanto a entrada principal quanto a saída dos fundos, pra garantir a fuga se a polícia aparecesse.

Reza a lenda que, sob o palco, ainda há túneis secretos conectando o bar a outros prédios da região, usados para fugir de batidas policiais ou transportar garrafas de bebida ilegal.

E embora o passado de ligação com a máfia esteja há muito no passado, o lugar ainda é uma das casas de jazz mais tradicionais da cidade.

A decoração permanece a mesma de 1920: espelhos manchados, assentos de couro, molduras douradas e um palco pequeno, cercado por cortinas vermelhas. O público, no entanto, é bem diferente do que costumava ser: uma mistura de turistas curiosos e moradores que vêm semana após semana para ouvir jazz de verdade.

📍 Green Mill Cocktail Lounge – 4802 N Broadway, Uptown

Lexington Hotel: o antigo quartel-general de Al Capone em Chicago

Não muito longe dali, na South Michigan Avenue, ficava o Lexington Hotel, o quartel-general de Al Capone. Do lado de fora, era só mais um prédio de tijolos elegantes, com colunas ornamentadas e um lobby de mármore. Por dentro, escondia uma verdadeira fortaleza: portas de aço, corredores falsos, cofres secretos e passagens subterrâneas que ligavam os quartos aos bares clandestinos do entorno.

Durante a Lei Seca, o Lexington era o cérebro do império. Dali, Capone controlava o contrabando de bebida, o jogo, a prostituição e boa parte da corrupção política da cidade. Tanto que os jornais da época o chamavam de The Real Mayor of Chicago, o verdadeiro prefeito.

Quando o hotel foi fechado, em 1980, o prédio já estava tomado por rachaduras. Grupos de exploradores urbanos entraram para documentar os túneis e cofres lacrados, e encontraram até uma sala secreta forrada de chumbo, possivelmente usada para proteger dinheiro ou munição. Em 1995, o Lexington foi demolido.

📍 Lexington Hotel (demolido) – South Michigan Ave, Chicago

Speakeasies em Chicago: os bares secretos que sobreviveram à Lei Seca

Durante a Lei Seca, quando o álcool era proibido e o jazz ainda era pecado, Chicago aprendeu a falar baixo. Era preciso sussurrar o pedido, saber a senha, e entrar pela porta errada. Por trás de floriculturas, barbearias e mercearias discretas, escondiam-se os speakeasies, bares clandestinos que mantinham a cidade acordada enquanto o resto da América fingia dormir.

Os drinks eram servidos em xícaras de chá, o piano abafava o som das sirenes e, entre uma risada e outra, nasciam histórias que jamais entrariam nos jornais.

Speaky easy em Chicago

Um dos sobreviventes desse tempo é o The Green Door Tavern, aberto em 1921, com fachada torta e alma intacta. O nome vem das portas verdes que, segundo a tradição, marcavam os lugares “ilegais”, um convite velado a quem sabia onde procurar.

No subsolo do Green Door, o speaky easy The Drifter parece uma viagem no tempo: um palco pequeno iluminado por luz âmbar, coquetéis servidos em copos de cristal e cartas de tarô substituindo o cardápio. No palco, performances de strip tease e danças sensuais agitam o público, mas é tudo artístico e respeitoso, eu prometo.

Já no Three Dots and a Dash, o uísque dá lugar a coquetéis tropicais; no The Violet Hour, a entrada sem placa e as cortinas pesadas escondem uma das melhores cartas de drinques da cidade.

📍 The Green Door Tavern – 678 N Orleans St, River North
📍 The Drifter – no subsolo do Green Door Tavern
📍 Three Dots and a Dash – 435 N Clark St, River North
📍 The Violet Hour – 1520 N Damen Ave, Wicker Park

Vista de chicago a noite

Os becos e o L Train: os símbolos de Chigago à noite

De volta ao centro, os trilhos do ‘L’ Train desenham sombras sobre as ruas e produzem um som metálico que ressoa pela cidade.

Inaugurado em 1892, o sistema elevado de Chicago foi criado para aliviar o trânsito e conectar os bairros ao Loop, que é como os moradores chamam o centro da cidade, mas acabou virando um símbolo da cidade.

Sob seus trilhos, encontramos fachadas art déco, letreiros piscando em vermelho e azul, vapor subindo das grelhas do chão.

E se os becos parecem cenários de filmes da máfia, é porque um dia foram. Durante a Lei Seca, esses becos foram palco de tiroteios e esconderijos de contrabandistas, corredores de fuga entre bares ilegais e armazéns discretos.

Os guias turísticos contam que havia túneis subterrâneos conectando os porões dos edifícios, passagens usadas para esconder barris de bebida e escapar das batidas policiais. Parte disso é mito, parte é verdade.

Sob o centro de Chicago realmente existe uma rede esquecida de túneis de carga, construída no começo do século 20, 12 metros abaixo das ruas. Eram usados para transportar carvão e mercadorias, mas durante os anos 1920, serviram também de abrigo para negócios escusos.

Dica de roteiro: caminhe sob os trilhos do L Train à noite, de preferência entre o Loop e River North.

Biograph Theater: o local onde John Dillinger foi morto em Chicago

Em Lincoln Park, o letreiro vermelho do Biograph Theater anuncia há décadas estreias e matinês independentes, mas há noventa anos foi o cenário de uma das cenas mais lendárias — e trágicas — da história americana.

Foi ali que o FBI cercou John Dillinger, o “Inimigo Público Número Um”, e transformou sua vida de fora da lei em mito.

Dillinger não era um gangster qualquer. Nascido em 1903, em Indiana, começou como pequeno assaltante, mas se tornou uma espécie de celebridade nos anos da Grande Depressão. Enquanto o país afundava em desemprego e miséria, ele roubava bancos com elegância, sem ferir civis, e muitas vezes humilhando os próprios banqueiros.

Era visto por parte da população como um anti-herói moderno, um Robin Hood de terno risca de giz, que desafiava o sistema financeiro que arruinara tanta gente.

Em 22 de julho de 1934, Dillinger tinha ido ao cinema com sua namorada, Polly Hamilton, e uma mulher misteriosa conhecida como a Lady in Red, uma informante que o entregou à polícia. O filme em cartaz era Manhattan Melodrama, estrelado por Clark Gable e Myrna Loy, ironicamente uma história sobre crime, lealdade e destino. Quando as luzes do cinema se acenderam, agentes federais já o esperavam na rua.

O corpo de Dillinger ficou caído no beco adjacente ao cinema enquanto curiosos se aglomeravam para ver o homem que desafiara o governo federal. A partir daquela noite, ele se tornou parte do mito americano: a figura romântica do fora da lei, o símbolo da rebeldia individual contra o poder.

📍 Biograph Theater – 2433 N Lincoln Ave, Lincoln Park

Maxwell Street Market: onde nasceu o blues e o submundo de Chicago

Perto da Roosevelt Road, o Mercado de Maxwell Street era um ponto de comércio de imigrantes judeus e italianos no final do século 19, mas logo se tornou uma zona onde tudo — absolutamente tudo! — podia ser comprado. De frutas a relógios roubados, roupas e serviços ilegais. Durante a Lei Seca, foi território de contrabandistas, ladrões e pequenos golpistas.

Mas foi também ali, no meio da bagunça e da poeira, que nasceu um dos sons mais característicos da América: o Chicago Blues. Músicos vindos do sul do país, muitos deles filhos de ex-escravizados, tocavam nas esquinas com guitarras elétricas improvisadas, tentando abafar o barulho dos trens e das sirenes.

O blues urbano de Chicago nasceu no mesmo lugar em que floresceu o crime, uma música feita de dor e sobrevivência, tocada com as mãos de quem largou tudo para recomeçar em um novo lugar.

Com o tempo, Maxwell Street mudou. Os antigos armazéns foram demolidos, parte do mercado deu lugar à University of Illinois, e o comércio de rua virou feira de domingo. Mas a música que surgiu ali segue embalando o ritmo de Chicago.

📍 Maxwell Street Market – 800 S Desplaines St (aos domingos)

Congress Plaza Hotel: o hotel mais assombrado de Chicago

Os guias dos Gangsters & Ghosts Tours juram que o Congress Plaza Hotel é o endereço mais assombrado da cidade. Quartos onde as janelas se abrem sozinhas, corredores nos quais se ouvem passos.

O edifício, inaugurado em 1893 para a Feira Mundial, já recebeu presidentes, mafiosos, artistas e soldados. Foi ali que Roosevelt se hospedou, que Al Capone supostamente manteve um quarto reservado, e onde, dizem, os mortos nunca foram embora.

Os relatos variam de luzes que piscam ao amanhecer a vozes infantis nos corredores vazios. O 12º andar é o mais evitado, especialmente o quarto 441, no qual hóspedes afirmam ver uma mulher de vestido preto surgir e desaparecer perto da cama. Também há histórias de quem escutou som de passos no Salão Florentino, mesmo quando o espaço está trancado.

📍 Congress Plaza Hotel – 520 S Michigan Ave, The Loop

Avalie este post
Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade há mais de 14 anos. Desde 2010, produzo conteúdo sobre turismo cultural e experiências locais ao redor do mundo, com foco em narrativas autorais, sustentabilidade, imersão e o lado B dos destinos visitados. Fundadora do blog de viagens 360meridianos, também compartilho histórias na newsletter Migraciones , no Youtube e no Instagram. Desde 2024, sou Top Voice no Linkedin por meus insights sobre jornalismo, viagens, nomadismo e produção de conteúdo. Meu trabalho já foi destaque em veículos como Viaje na Viagem, TV Brasil, Exame, Correio Brasiliense, O Tempo, JC Online e Rock Content.

Confira todos os posts escritos por