Aldeia da Luz, em Portugal, a vila que não se afogou

“O sertão vai virar mar, dá no coração, o medo de que algum dia o mar também vire sertão”. Era nessa música do Sá e Guarabyra, que eu pensava quando visitei a Aldeia da Luz, Portugal. A música trata da barragem de Sobradinho, na Bahia. E a Aldeia da Luz, no Alentejo viveu basicamente a mesma coisa. A grande questão é que, no caso da aldeia portuguesa, houve uma decisão peculiar sobre o destino dos habitantes.

Saiba mais: Como montar um roteiro de viagem pelo Alentejo, em Portugal

A história da Luz, uma aldeia debaixo de água

Em fevereiro de 2002, a barragem do rio Alqueva fechou as comportas, a água começou a encher um grande território no Alentejo, formando o maior reservatório artificial de água da Europa Ocidental.

Com isso, a antiga Aldeia da Luz foi parar debaixo de água. Desde 1981 havia uma discussão sobre o que fazer com aquelas pessoas. As hipóteses seriam indenizar os antigos habitantes, transferir todo mundo para uma vila nas proximidades ou construir uma nova aldeia. Essa última foi a alternativa escolhida.

O único prédio que restou da antiga Aldeia da Luz

Então, de 1998 a 2002, foi construída uma nova aldeia, exatamente com a mesma estrutura da original, com a lógica ‘casa por casa, terra por terra’.

O plano era manter as relações de vizinhança e a configuração urbana, mas com mudanças no estilo das ruas. Novas terras de cultivo seriam distribuídas para população, assim como foram construídas 212 casas, ruas, largos, estradas, lojas, bar, escola, centro de saúde, praça, mercado, jardim público e até mesmo cemitério.

Isso mesmo, os túmulos e os mortos foram transferidos para a nova aldeia, não sem uma boa dose de polêmica e reclamações dos habitantes da Luz, população de maioria idosa.

A nova Aldeia da Luz. Foto: Miguel Tavares Cardoso – CC BY-NC 2.0

Museu da Luz, em Portugal

Para contar toda a história da Aldeia da Luz, um museu bem contemporâneo foi criado, o Museu da Luz.

Uma mesma dupla de arquitetos, um português e uma francesa, foi contratada pela empresa responsável pela barragem para projetar o novo museu, o cemitério e a igreja do santuário de Nossa Senhora da Luz, uma igrejinha do século XV, que foi reconstruída.

Foto: Miguel Tavares Cardoso – CC BY-NC 2.0

Da Aldeia da Luz antiga só sobrou mesmo o Monte dos Pássaros, uma casa tradicional que hoje pertence ao museu e fica bem perto da água da barragem.

Aliás, uma das partes mais interessantes da visita à Aldeia da Luz foi ver a antiga estrada, que leva hoje diretamente para a barragem.

Outra informação muito interessante é que próximo à aldeia também ficavam as ruínas de um castelo romano. Não seria possível mudar o monumento de lugar, mas também seria um absurdo destruí-lo. A solução foi proteger o castelo com uma carapaça de sacos de areia e terra. E assim ele esta lá, escondido embaixo da água.

O resultado disso tudo, porém, não é tão feliz quanto os planos. Acontece que muitos dos moradores da Aldeia da Luz não gostaram da mudança. É que não tem planejamento urbano que resolva questões de familiaridade e afetividade. As reclamações, mais de dez anos depois das mudanças, são de que a aldeia se tornou uma aldeia-fantasma. Sem vida comunitária, sem alguns dos espaços que faziam a pequena comunidade florescer.

Museu da Luz e a barragem. Foto: Divulgação

De fato, achei a aldeia bastante vazia durante a minha visita.

Mas acredito que se você estiver indo visitar Monsaraz, vale a pena passar por ali, ver a aldeia e visitar o premiado museu, que conta toda essa história e ainda tem exposições temporárias sobre costumes e a vida local. O bilhete custa €2 – consulte os horários de entrada no site oficial.

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Luiza Antunes

Luiza Antunes é jornalista e escritora de viagens. É autora de mais de 800 artigos e reportagens sobre Viagem e Turismo. Estudou sobre Turismo Sustentável num Mestrado em Inovação Social em Portugal Atualmente mora na Inglaterra, quando não está viajando. Já teve casa nos Estados Unidos, Índia, Portugal e Alemanha, e já visitou mais de 50 países pelo mundo afora. Siga minhas viagens em @afluiza no Instagram.

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