Eu afrouxaria o cinto e prepararia espaço no estômago, sem peso na consciência pelo excesso de peso na balança. O melhor de uma viagem para Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, é comer bem. Não faltam restaurantes charmosos em casarões coloniais ou nos jardins de vinícolas centenárias. E ainda tem os vinhos, claro – são mais de três dezenas de vinícolas, algumas delas com cem anos de história para contar.
Embora o Vale do Vinhedos envolva também os municípios de Garibaldi – famoso pelos espumantes – e Monte Belo do Sul, neste texto falarei sobre Bento Gonçalves, capital turística do Vale e o onde está a maior parte das atrações.
Veja também: Como planejar uma viagem para o Vale dos Vinhedos
Roteiro pelas vinícolas do Vale dos Vinhedos
O que Fazer em Bento Gonçalves
Vinícolas que não acabam mais
Não importa o quanto você goste desse tipo de passeio, é impossível visitar todos os vinhedos em poucos dias – por falar nisso, reserve pelo menos três dias no seu roteiro para conhecer a região. Eu misturaria tours por grande vinícolas com passeios por empresas familiares. No primeiro grupo estão a Aurora, que fica no centro de Bento Gonçalves, a Casa Valduga e a Miolo. No segundo grupo estão a Dom Laurindo, a Larentis e a Torcello, mas a lista vai muito além dessas opções. Escolha a que combinar mais com você e curta a degustação.
Embora o foco deste texto seja Bento, quem está de carro chega em poucos minutos em Garibaldi, capital nacional dos espumantes. Eu estive lá durante uma manhã e achei a cidade simpática e com várias vinícolas no centro, a uma curta distância umas das outras. Talvez seja interessante visitar duas ou três vinícolas do Vale por dia. No resto do tempo, coma bem.
Restaurantes
São dezenas de restaurantes, o que cria uma tarefa ingrata, já que você terá um número limitado de refeições por lá. Por isso, cuide de não perder ou desperdiçar nenhuma delas. Eu tive cinco refeições, entre jantares e almoços, mas acabei pulando uma delas – optei por fazer um lanche rápido no dia que cheguei de viagem. Foi um erro, pois perdi a oportunidade de acrescentar mais uma refeição na lista de atrações.
Eu testei quatro restaurantes e recomendo todos: Pizza entre Vinhos, Casa Vanni, Caldeira e Canta Maria.
Caminhos de Pedra
Uma rota turística com 12 quilômetros e quase 50 lugares que merecem ser visitados. Depois dos vinhedos, os Caminhos de Pedra são a grande atração de Bento Gonçalves. Imagine uma antiga estrada, chamada Linha Palmeiro, que durante décadas foi importante para o escoamento de mercadorias e circulação de pessoas. Mas, por conta da abertura de uma rodovia mais moderna e conectada com a capital, essa estrada caiu no esquecimento.
O que foi uma pena, já que ao longo da Linha Palmeiro se espalham várias casas coloniais, erguidas com pedra e madeira pelos imigrantes italianos que chegaram ali no final do século 19. Como eles não tinham dinheiro, usaram os materiais que a natureza da região tinha de sobra. Na década de 1990 a indústria turística redescobriu a rota e a antiga Linha Palmeiro entrou para o mapa turístico do Rio Grande do Sul, ganhando um nome cheio de pompa: Caminhos de Pedra.
Reserve um dia inteiro para conhecer a região, que recebe cerca de 60 mil turistas por ano. Coloque “Caminhos de Pedra” no GPS e comece a viagem – se você não estiver de carro, dá para contratar o transfer com agências de Bento, já que a região fica afastada da cidade, ou ir de bicicleta (prepare-se para pedalar bastante).
A Casa dos Doces Predebon é uma vendinha no porão de uma antiga residência colonial e costuma ser a primeira parada de muita gente nessa rota. A Casa da Tecelagem, a Casa da Erva-Mate, a Casa da Confecção e a Casa da Ovelha são outras atrações. Eu parei na última e recomendo. Lá você pode dar mamadeira para alguns animais e acompanhar o pastoreio do rebanho, feito por cães da raça Border Collie, além de comprar queijos de ovelha.
E não faltam restaurantes nos Caminhos de Pedra. A Casa Vanni, onde estive e recomendo, fica lá. Na hora que a fome bater, basta escolher o seu. Também reserve tempo para fotografar (ou contemplar) a rota, que é linda.

Centro de Bento Gonçalves
O centro de Bento não é charmoso como o de Gramado, Canela ou outras cidades da Rota Romântica, mas não deixa de ser interessante. Num estado perito na arte de construir pórticos, o da entrada de Bento é uma pipa de vinho. Tive que parar lá – e olha que chovia no dia que cheguei na região.
Pórtico Pipa, na entrada de Bento Gonçalves
Dali, continue subindo a rua Silva Paes. À sua esquerda estará a Paróquia Matriz de Cristo Rei, que fica na Praça das Rosas, a principal da cidade. À direita estará o Parque Epopeia Italiana, que conta a história da chegada dos imigrantes italianos ao Brasil e a colonização dessa parte da Serra Gaúcha.
Ali perto fica também a estação da Maria Fumaça, que faz a rota turística de 23 quilômetros entre Bento, Garibaldi e Carlos Barbosa. Ao longo do passeio há apresentações típicas – italianas e gaúchas -, degustação de vinhos e muitas paisagens bonitas. Eu não fiz o passeio, mas a Luisa, do Blog Janelas Abertas, conta como é nesse texto aqui. E uma dica importante: o ingresso do Epopeia Italiana está incluído no mesmo ticket do passeio da Maria Fumaça.
A Cooperativa Aurora, que envolve mais de mil famílias da região e produz quase 40 milhões de litros de vinhos e sucos, fica no centro da cidade, na Rua Olavo Bilac, 500, e oferece tours guiados gratuitos. Por fim, se você se hospedar no centro ou tiver tempo sobrando, vale dar uma passadinha na Praça Achyles Mincarone, onde os moradores fazem caminhada e tomam chimarrão. Lá fica a Igreja São Bento, também em formato de pipa de vinho e decorada de forma a homenagear a região do Vale dos Vinhedos. O Memorial do Imigrante completa a lista de atrações do centro da cidade, com um acervo que conta a história da imigração italiana em Bento Gonçalves.
O que fazer em Bento Gonçalves: outras atrações
Além de vinícolas e restaurantes, por todas as estradas do Vale dos Vinhedos há espaços temáticos, como a Casa da Ovelha, da Erva-Mate, da Tecelagem ou do Tomate, já citadas no texto. E também não faltam queijarias. Não deixe de incluir uma parada para compras na Queijaria Valbrenta, que fica numa casa simpática ao lado da Vinícola Vallontano, não muito longe da estação da Maria Fumaça. São várias opções de queijos, doces e embutidos, tudo produção artesanal.
Não visitei, mas o Vivatto Parque tem uma capela do final do século 19, um jardim bonitinho, cafeterias e várias lojas – quem conhece diz ser uma ótima opção para um lanche. Já quem prefere passeios mais radicais pode fazer rafting no Rio das Antas, que tem 13 quilômetros de corredeiras, ou trilhas, passeios de jipe, tirolesa e escalada no Vale das Antas. Agências de turismo locais oferecem vários pacotes para esse estilo de viajante.
Devo alugar um carro?
Tirando o óbvio problema de beber e dirigir, para o qual a única saída é ter um motorista da rodada, não tenho dúvidas que ir de carro é, de longe, a melhor opção. As atrações são espalhadas e não há transporte público eficiente entre elas. Além disso, a região é lindíssima e vale a road trip.
Se você descer em Porto Alegre, alugue um carro ainda no aeroporto e siga viagem. Outra vantagem do veículo é que você pode unir com facilidade o Vale dos Vinhedos com Gramado e Canela, que estão a poucas horas de estrada dali. Nesse texto aqui explicamos como garantir a diária do veículo com melhor custo/benefício.
Dica de hotéis
Eu fiquei no centro da cidade, no Hotel Laghetto Viverone Bento, que tem diárias a partir de R$ 250 no quarto duplo. É um hotel novo, com vista para a cidade e cujo ponto mais forte é justamente a localização. Recomendo. Quem prefere pousadinhas vai gostar da Don Marini. Outra opção é ficar mais próximo das vinícolas, na zona rural da cidade. Nesse estilo, o mais famoso é o Hotel & Spa do Vinho.
Estive recentemente no Vale dos Vinhedos e fiquei impressionado com a quantidade de lugares para visitar, entre vinícolas, restaurantes e recantos muito lindos.
É uma região lindíssima, Jair.
Abraço.
Boa noite!
Amei as dicas. Gostaria de tirar uma dúvida, irei fazer o passeio da Maria Fumaça, e gostaria de conhecer a Igreja de São Bento – Bento Gonçalves. Tem no roteiro? Qual a dica de vocês?
Obrigada.
Você vai ficar em Bento, Lucicleide?
A igreja fica relativamente perto da estação de trem. São 5 minutinhos de carro ou 20 a pé. Dá para passar lá por conta própria, nem que tenha que pegar um táxi.
Abraço.